quinta-feira, 25 de abril de 2019

A Nota do Presidente Jair Bolsonaro sobre Olavo de Carvalho: um alerta aos Conservadores

Paulo Eneas

O Presidente Jair Bolsonaro emitiu no início da noite dessa segunda-feira, 22 de abril, uma nota trazendo o posicionamento do governo em relação ao professor Olavo de Carvalho, nota essa motivada pelos atritos verbais crescentes entre o professor e o vice-presidente, Hamilton Mourão. A nota, lida pelo porta-voz Rêgo Barros, começa com elogios a Olavo de Carvalho, reconhecendo que ele “(…) teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fizeram ao nosso País.”

A nota prossegue falando do espírito patriótico do professor e no reconhecimento de seu esforço para “contribuir com a mudança e o futuro do Brasil”. Sem desqualificar o professor em momento algum, a nota em seguida desaprova suas “recentes declarações contra integrantes dos poderes da República”, declarações essas que segundo a nota “não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento dos objetivos propostos em nosso projeto de governo, que visam ao fim e ao cabo ao bem estar da sociedade brasileira (…)”

Acreditamos que a nota encerra o embate que estava ocorrendo entre o professor Olavo de Carvalho e o vice-presidente e outros integrantes do governo. Acreditamos também que a decisão do Presidente Bolsonaro de emitir tal nota expressa sua preocupação com a necessária unidade e coesão do governo, ainda que às expensas de um entrevero momentâneo com o professor Olavo, por quem o presidente sempre nutriu admiração e consideração, como ficou evidenciado em sua última visita aos Estados Unidos.

O pano de fundo do conflito: os rumos políticos do governo

No entanto, a mesma nota sinaliza um possível alerta para o setor conservador do governo e para os apoiadores em geral da agenda conservadora: o alerta de que os segmentos não conservadores desejam empurrar o Governo Bolsonaro para o centro, dando a ele um perfil mais técnico burocrático e distante dos compromissos com a agenda conservadora que deu a Jair Bolsonaro a vitória nas urnas no ano passado. É esse o pano de fundo do conflito entre o professor Olavo de Carvalho e alguns integrantes do governo, especialmente o vice-presidente.

Portanto, não se trata de uma disputa de egos, como algumas análises simplistas e ingênuas querem acreditar, nem de veleidades pessoais entre as partes envolvidas. Até porque, as partes envolvidas são homens adultos que não se renderiam a essas futilidades.

Trata-se, isso sim, de entendimentos distintos sobre o rumo político que deve tomar o Governo Bolsonaro: ou seguir o rumo da pauta conservadora que elegeu o presidente, como defendem os conservadores, incluindo o professor Olavo de Carvalho, ou desviar-se dessa pauta para um rumo mais tecnocrático com acenos à esquerda, como tem feito o vice-presidente.

O professor Olavo de Carvalho passou a manifestar-se com mais ênfase a respeito dos rumos do Governo Bolsonaro a partir do momento em que o vice-presidente começou a externar opiniões que estão em franco conflito com as do próprio presidente e, mais relevante, opiniões discordantes da diretriz conservadora e dos compromissos firmados na campanha que elegeu a ambos.

Os inúmeros exemplos das falas desalinhadas do vice-presidente

Os exemplos dessas falas desalinhadas por parte do vice-presidente são inúmeros, e incluem as afirmações do Senhor Hamilton Mourão sobre aborto como sendo problema de saúde pública e também decisão da mulher, incluindo aquela sem condições, desarmamento civil na Venezuela, conflitos com a diretriz do Itamaraty em relação à própria Venezuela, e conflito com a decisão do Presidente Bolsonaro de mudar a Embaixada do Brasil em Israel para a capital daquele país, Jerusalém.

A esses episódios somam-se a narrativa obtusa do próprio vice-presidente a respeito do vídeo divulgado pelo Palácio do Planalto alusivo ao 31 de março de 1964; declarações no mínimo infelizes sobre relações comerciais do Brasil com a ditadura comunista da China; críticas diretas ao próprio presidente e sua suposta retórica; ingerência indevida no assunto de privatização dos Correios; declarações inapropriadas a respeito dos filhos do presidente, que são detentores de mandato parlamentar conferido pelas urnas.

Somam-se também a afirmação no mínimo dúbia do vice-presidente, ao atribuir-se a si mesmo o papel de suposto porta-voz para coisas que o presidente não pode dizer. Uma afirmação no mínimo constrangedora para o Presidente Bolsonaro que é um homem honrado, honesto e destemido e nunca teve “papas na língua”, tendo chegado à Presidência da República justamente por ter a sinceridade autêntica de dizer sempre o que pensa, sem precisar terceirizar essa tarefa para ninguém.

As críticas do professor Olavo de Carvalho acentuaram-se a partir do momento que o vice-presidente começou a publicamente tentar desqualificar o chanceler Ernesto Araújo que, ao lado do ministro Tarcísio Gomes da área de infraestrutura, tem se mostrado o melhor e mais competente ministro do Governo Bolsonaro até o momento. E no caso do chanceler, a sua competência é ancorada na sua fidelidade à agenda conservadora que elegeu o presidente, conforme destacamos no artigo Política Externa: O Melhor Até O Momento Do Governo Bolsonaro, publicado no início deste ano.

Ernesto Araújo vem cumprindo e executando exatamente o que Presidente Bolsonaro determinou para área de política externa: fez a aproximação do Brasil com os Estados Unidos e Israel, fez o Brasil voltar a exercer a liderança geopolítica na América Latina, afastou-se do Foro de São Paulo, e encontra-se hoje em condições de pleitear uma vaga na OCDE, grupo de países que reúne as maiores economias de mundo. São conquistas inéditas e inusitadas na história recente da política externa brasileira.

Portanto, em vista desses resultados que saltam a olhos vistos, quando o vice-presidente questiona a competência do chanceler para executar sua tarefa, o vice-presidente está não apenas colocando em dúvida a capacidade do Presidente Bolsonaro para escolher seus auxiliares, como está na prática questionando a própria diretriz de política externa definida pelo presidente, e executada com competência pelo chanceler Ernesto Araújo.

A lista das falas e atos desagregadores e desalinhados do vice-presidente pode ser completada com suas críticas às falas do próprio presidente, rotulando-as de polarizadas; seu elogio descabido ao comunista rural e um dos fundadores do PT, Chico Mendes; seu encontro com lideranças da CUT; uma crítica sem nexo à intenção de despetizar a Casa Civil feita por Onyx Lorenzoni; a afirmação absurda de que direita e esquerda seriam conceitos ultrapassados, sendo que o Presidente Bolsonaro foi eleito justamente por colocar-se como de direita, conservador e cristão, e com o compromisso de combater a esquerda.

Todas essas declarações foram dadas pelo vice-presidente em entrevistas à grande imprensa, que ele faz questão de tratar muito bem, incluindo os veículos e os jornalistas que há anos publicam calúnias e mentiras contra os conservadores e contra Jair Bolsonaro, e que continuam promovendo a guerra política com mentiras e ofensas contra Jair Bolsonaro e seu governo, com a mesma intensidade com que o vice-presidente lhes atende para entrevistas. Nenhuma dessas declarações foi desmentida pelo vice-presidente. O leitor poderá encontrar nesse link vários prints da grande imprensa com as declarações mencionadas acima.

O que o Presidente Bolsonaro precisa fazer

Ainda que tenhamos reservas quanto ao método usado pelo professor Olavo de Carvalho para apontar os problemas citados acima, método esse que pela sua ênfase acentuada pode ser confundido e misturado às vezes com alguma ofensa, entendemos que o professor apontou corretamente e com acerto para a existência de um problema real:

O vice-presidente tem emitido sinais claros para a grande imprensa, para a opinião pública e principalmente para o Congresso Nacional, de que pode existir um outro projeto político dentro do governo diferente daquele aprovado nas urnas e materializado nos compromissos assumidos pelo Presidente Bolsonaro. Um projeto tecnocrático de centro, com acenos à esquerda, inofensivo aos globalistas e hostil aos conservadores e à direita em geral.

Em particular, a hostilidade das alas tecnocráticas do governo representadas pelo vice-presidente em relação aos conservadores fica patente quando seus integrantes usam do mesmo repertório da esquerda para referirem-se a esses conservadores, rotulando-os de extremistas de direita ou radicais ideológicos. Um exemplo vem do próprio ministro Santos Cruz, que em entrevista recente à grande imprensa referiu-se aos conservadores como sendo extrema-direita.

Diante desse quadro, e após o presidente ter tomado a decisão de emitir uma nota de reprovação ao professor Olavo de Carvalho em nome da unidade do governo, entendemos que cabe ao Presidente Jair Bolsonaro tomar algumas iniciativas, a saber:

a) Reafirmar inequivocamente o caráter conservador, cristão e de direita de seu governo, que é expressão da vontade democrática das urnas, que elegeram Jair Bolsonaro para cumprir um programa conservador, de direita, antiglobalista, pró-vida, anticomunista e de combate e embate contra a esquerda socialista criminosa. O presidente deve usar a rede nacional de televisão para reafirmar esse compromisso com os eleitores, e também por meio de iniciativas do poder executivo junto ao poder legislativo, através do envio dos projetos de lei de cunho conservador ao Congresso Nacional.

b) O presidente precisa ir em rede nacional de televisão dizer claramente que desautoriza qualquer integrante do governo a verbalizar opiniões próprias em público que estejam em desacordo com a diretriz de governo aprovada nas urnas. Deve também deixar claro para cada membro de seu governo que desejar exercer seu sagrado direito de livre opinião, que existe a opção de deixar o governo, caso queira exercer seu legítimo direito de divergir publicamente desse governo na condição de cidadão comum.

c) O presidente precisa sinalizar para a opinião pública que ele não está virando as costas para ala conservadora do governo, pois é esse setor que espelha e encarna os compromissos com a agenda conservadora aprovada nas urnas. Nesse sentido, o presidente precisa dar demonstrações de prestígio ao chanceler Ernesto Araújo, à ministra Damares Alves e a demais membros do governo claramente comprometidos com agenda conservadora que o elegeu.

Por fim, ante às tentativas visíveis de desvirtuar o Governo Bolsonaro da pauta conservadora que o elegeu, o presidente precisa reagir, assumir e dar voz de comando e exercer de modo pleno sua autoridade nos marcos constitucionais. E ter a ciência de que tem ao seu lado mais de meia centena de milhões de eleitores brasileiros que depositaram nele, em Jair Bolsonaro, suas esperanças. E para isso, o presidente precisa fazer apenas um gesto que resume todos os outros: ele precisa voltar a ser Jair Bolsonaro.
Título e Texto: Paulo Eneas, Crítica Nacional, 24-4-2019

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