Paulo Eneas
O Presidente Jair Bolsonaro emitiu no início da noite dessa segunda-feira, 22 de abril, uma nota trazendo o posicionamento do governo em relação ao professor Olavo de Carvalho, nota essa motivada pelos atritos verbais crescentes entre o professor e o vice-presidente, Hamilton Mourão. A nota, lida pelo porta-voz Rêgo Barros, começa com elogios a Olavo de Carvalho, reconhecendo que ele “(…) teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fizeram ao nosso País.”
A nota prossegue falando do espírito
patriótico do professor e no reconhecimento de seu esforço para “contribuir
com a mudança e o futuro do Brasil”. Sem desqualificar o professor em
momento algum, a nota em seguida desaprova suas “recentes declarações contra
integrantes dos poderes da República”, declarações essas que segundo a nota
“não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento dos
objetivos propostos em nosso projeto de governo, que visam ao fim e ao cabo ao
bem estar da sociedade brasileira (…)”
Acreditamos que a nota encerra
o embate que estava ocorrendo entre o professor Olavo de Carvalho e o
vice-presidente e outros integrantes do governo. Acreditamos também que a
decisão do Presidente Bolsonaro de emitir tal nota expressa sua preocupação com
a necessária unidade e coesão do governo, ainda que às expensas de um entrevero
momentâneo com o professor Olavo, por quem o presidente sempre nutriu admiração
e consideração, como ficou evidenciado em sua última visita aos Estados Unidos.
O pano de fundo do
conflito: os rumos políticos do governo
No entanto, a mesma nota sinaliza um possível alerta para o setor conservador do governo e para os apoiadores em geral da agenda conservadora: o alerta de que os segmentos não conservadores desejam empurrar o Governo Bolsonaro para o centro, dando a ele um perfil mais técnico burocrático e distante dos compromissos com a agenda conservadora que deu a Jair Bolsonaro a vitória nas urnas no ano passado. É esse o pano de fundo do conflito entre o professor Olavo de Carvalho e alguns integrantes do governo, especialmente o vice-presidente.
Portanto, não se trata de uma
disputa de egos, como algumas análises simplistas e ingênuas querem acreditar,
nem de veleidades pessoais entre as partes envolvidas. Até porque, as partes
envolvidas são homens adultos que não se renderiam a essas futilidades.
Trata-se, isso sim, de
entendimentos distintos sobre o rumo político que deve tomar o Governo
Bolsonaro: ou seguir o rumo da pauta conservadora que elegeu o presidente, como
defendem os conservadores, incluindo o professor Olavo de Carvalho, ou
desviar-se dessa pauta para um rumo mais tecnocrático com acenos à esquerda,
como tem feito o vice-presidente.
O professor Olavo de Carvalho
passou a manifestar-se com mais ênfase a respeito dos rumos do Governo
Bolsonaro a partir do momento em que o vice-presidente começou a externar
opiniões que estão em franco conflito com as do próprio presidente e, mais
relevante, opiniões discordantes da diretriz conservadora e dos compromissos
firmados na campanha que elegeu a ambos.
Os inúmeros exemplos das
falas desalinhadas do vice-presidente
Os exemplos dessas falas desalinhadas por parte do vice-presidente são inúmeros, e incluem as afirmações do Senhor Hamilton Mourão sobre aborto como sendo problema de saúde pública e também decisão da mulher, incluindo aquela sem condições, desarmamento civil na Venezuela, conflitos com a diretriz do Itamaraty em relação à própria Venezuela, e conflito com a decisão do Presidente Bolsonaro de mudar a Embaixada do Brasil em Israel para a capital daquele país, Jerusalém.
A esses episódios somam-se a
narrativa obtusa do próprio vice-presidente a respeito do vídeo divulgado pelo
Palácio do Planalto alusivo ao 31 de março de 1964; declarações no mínimo
infelizes sobre relações comerciais do Brasil com a ditadura comunista da
China; críticas diretas ao próprio presidente e sua suposta retórica;
ingerência indevida no assunto de privatização dos Correios; declarações
inapropriadas a respeito dos filhos do presidente, que são detentores de
mandato parlamentar conferido pelas urnas.
Somam-se também a afirmação no
mínimo dúbia do vice-presidente, ao atribuir-se a si mesmo o papel de suposto
porta-voz para coisas que o presidente não pode dizer. Uma afirmação no
mínimo constrangedora para o Presidente Bolsonaro que é um homem honrado,
honesto e destemido e nunca teve “papas na língua”, tendo chegado à Presidência
da República justamente por ter a sinceridade autêntica de dizer sempre o que
pensa, sem precisar terceirizar essa tarefa para ninguém.
As críticas do professor Olavo
de Carvalho acentuaram-se a partir do momento que o vice-presidente começou a
publicamente tentar desqualificar o chanceler Ernesto Araújo que, ao lado do
ministro Tarcísio Gomes da área de infraestrutura, tem se mostrado o melhor e
mais competente ministro do Governo Bolsonaro até o momento. E no caso do
chanceler, a sua competência é ancorada na sua fidelidade à agenda conservadora
que elegeu o presidente, conforme destacamos no artigo Política Externa: O Melhor Até O Momento Do Governo Bolsonaro, publicado no
início deste ano.
Ernesto Araújo vem cumprindo e
executando exatamente o que Presidente Bolsonaro determinou para área de
política externa: fez a aproximação do Brasil com os Estados Unidos e Israel,
fez o Brasil voltar a exercer a liderança geopolítica na América Latina,
afastou-se do Foro de São Paulo, e encontra-se hoje em condições de pleitear
uma vaga na OCDE, grupo de países que reúne as maiores economias de mundo. São
conquistas inéditas e inusitadas na história recente da política externa
brasileira.
Portanto, em vista desses
resultados que saltam a olhos vistos, quando o vice-presidente questiona a
competência do chanceler para executar sua tarefa, o vice-presidente está não
apenas colocando em dúvida a capacidade do Presidente Bolsonaro para escolher
seus auxiliares, como está na prática questionando a própria diretriz de
política externa definida pelo presidente, e executada com competência pelo chanceler
Ernesto Araújo.
A lista das falas e atos
desagregadores e desalinhados do vice-presidente pode ser completada com suas
críticas às falas do próprio presidente, rotulando-as de polarizadas; seu
elogio descabido ao comunista rural e um dos fundadores do PT, Chico Mendes;
seu encontro com lideranças da CUT; uma crítica sem nexo à intenção de
despetizar a Casa Civil feita por Onyx Lorenzoni; a afirmação absurda de que
direita e esquerda seriam conceitos ultrapassados, sendo que o Presidente
Bolsonaro foi eleito justamente por colocar-se como de direita,
conservador e cristão, e com o compromisso de combater a esquerda.
Todas essas declarações foram
dadas pelo vice-presidente em entrevistas à grande imprensa, que ele faz
questão de tratar muito bem, incluindo os veículos e os jornalistas que há anos
publicam calúnias e mentiras contra os conservadores e contra Jair Bolsonaro, e
que continuam promovendo a guerra política com mentiras e ofensas contra Jair
Bolsonaro e seu governo, com a mesma intensidade com que o vice-presidente lhes
atende para entrevistas. Nenhuma dessas declarações foi desmentida pelo
vice-presidente. O leitor poderá encontrar nesse link vários
prints da grande imprensa com as declarações mencionadas acima.
O que o Presidente Bolsonaro precisa fazer
Ainda que tenhamos reservas
quanto ao método usado pelo professor Olavo de Carvalho para apontar os
problemas citados acima, método esse que pela sua ênfase acentuada pode ser
confundido e misturado às vezes com alguma ofensa, entendemos que o professor
apontou corretamente e com acerto para a existência de um problema real:
O vice-presidente tem
emitido sinais claros para a grande imprensa, para a opinião pública e
principalmente para o Congresso Nacional, de que pode existir um outro projeto
político dentro do governo diferente daquele aprovado nas urnas e materializado
nos compromissos assumidos pelo Presidente Bolsonaro. Um projeto tecnocrático
de centro, com acenos à esquerda, inofensivo aos globalistas e hostil aos
conservadores e à direita em geral.
Em particular, a hostilidade
das alas tecnocráticas do governo representadas pelo vice-presidente em relação
aos conservadores fica patente quando seus integrantes usam do mesmo repertório
da esquerda para referirem-se a esses conservadores, rotulando-os de extremistas
de direita ou radicais ideológicos. Um exemplo vem do próprio
ministro Santos Cruz, que em entrevista recente à grande imprensa referiu-se
aos conservadores como sendo extrema-direita.
Diante desse quadro, e após o
presidente ter tomado a decisão de emitir uma nota de reprovação ao professor
Olavo de Carvalho em nome da unidade do governo, entendemos que cabe ao
Presidente Jair Bolsonaro tomar algumas iniciativas, a saber:
a) Reafirmar
inequivocamente o caráter conservador, cristão e de direita de seu governo, que
é expressão da vontade democrática das urnas, que elegeram Jair Bolsonaro para
cumprir um programa conservador, de direita, antiglobalista, pró-vida, anticomunista
e de combate e embate contra a esquerda socialista criminosa. O presidente deve
usar a rede nacional de televisão para reafirmar esse compromisso com os
eleitores, e também por meio de iniciativas do poder executivo junto ao poder
legislativo, através do envio dos projetos de lei de cunho conservador ao
Congresso Nacional.
b) O presidente precisa
ir em rede nacional de televisão dizer claramente que desautoriza qualquer
integrante do governo a verbalizar opiniões próprias em público que estejam em
desacordo com a diretriz de governo aprovada nas urnas. Deve também deixar
claro para cada membro de seu governo que desejar exercer seu sagrado direito
de livre opinião, que existe a opção de deixar o governo, caso queira exercer
seu legítimo direito de divergir publicamente desse governo na condição de
cidadão comum.
c) O presidente precisa
sinalizar para a opinião pública que ele não está virando as costas para ala
conservadora do governo, pois é esse setor que espelha e encarna os
compromissos com a agenda conservadora aprovada nas urnas. Nesse sentido, o
presidente precisa dar demonstrações de prestígio ao chanceler Ernesto Araújo,
à ministra Damares Alves e a demais membros do governo claramente comprometidos
com agenda conservadora que o elegeu.
Por fim, ante às tentativas
visíveis de desvirtuar o Governo Bolsonaro da pauta conservadora que o elegeu,
o presidente precisa reagir, assumir e dar voz de comando e exercer de modo
pleno sua autoridade nos marcos constitucionais. E ter a ciência de que tem ao
seu lado mais de meia centena de milhões de eleitores brasileiros que
depositaram nele, em Jair Bolsonaro, suas esperanças. E para isso, o presidente
precisa fazer apenas um gesto que resume todos os outros: ele precisa voltar a
ser Jair Bolsonaro.
Título e Texto: Paulo Eneas, Crítica Nacional, 24-4-2019
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