Aparecido Raimundo de Souza
Machado de Assis
A JUSTIÇA VIVE, ou o que sobrou dela, sobrevive, escapole, se
escafede de pires nas mãos. Além de abrolhosa e insana, para se pedir ou
pleitear qualquer coisa, primeiro se faz necessário a quem dela necessita
(aqui, quem dela necessita conhecido como Autor ou Requerente), que meta as
mãos no bolso e proceda ao pagamento das custas. Sem as custas... ou sem a
custa, ou sem os haveres, não há justiça. Em seu lugar, entra a famigerada
embromação, ou a procrastinação.
A justiça é, na verdade, sem tirar, nem pôr, uma
Maria-maçaneta, uma bandalha. Dessas levianas e inócuas que se vendem por
tostões. Extremamente malandra e sacana. Faz barba, cabelo, bigode e
cavanhaque. Cavanhaque também nos leva, ou nos remete a espanador de cu. Por
falar nele, a justiça gosta de sentar e rebolar numa cama cheia de dinheiro.
Notadamente o vil metal fácil. A bufunfa, o faz-me rir, a bolada, o dindin, que
chega às suas mãos por baixo dos “debaixos” dos panos.
A justiça tem lado outro, a garganta profunda e larga. Além
de morosa e lenta na horizontal, na prática cotidiana é uma merda elevada ao
quadrado. Na hora do ato em si, mija urinando (dá no mesmo, mijar e urinar)
fora do penico. Não sabe dar prazer. Não aprendeu a abrir as pernas para sentir
o que é gozar diametralmente de verdade. Não dá duas, ou, não repete a dose. E
quando repete, o sujeito (no caso o autor ou o requerente) acaba esporrando na
tez do chefe da secretaria do cartório ou nas sobrancelhas postiças da
estagiária atendente.
Além do pontapé inicial, para ser acionada, depois do
pagamento das tais custas, ou da custa, o filho de Deus, ou o pobre, o Zé
Coitado, que a procurou (de novo, recordando, o autor ou requerente), ainda tem
que provar que pagou os emolumentos para poder ver seu feito seguir adiante,
observando, a passos de tartaruga. Se não correr no prazo estabelecido,
qualquer togadozinho de bosta metido a magistrado tem o direito ou o livre
arbítrio de mandar arquivar a papelada.
Em contrário, esse depauperado, esse humilde, esse Zé Coitado
(em repeteco, autor, ou requerente), que corra que voe que atropele (se não
andar na linha, ou não informar ao Senhor Da Capa Preta da vara que pagou),
sofrerá na pele a sua desdita. Trocado em miúdos: o autor será brindado ou
premiado com a estupefação de voltar para casa, mão na frente, outra atrás.
Grosso modo, esdruxulamente escrevendo: com o pau murcho e os colhões sem ter
ejaculado.
A justiça ha muito tempo perdeu o que a sociedade como um
todo batizou de vergonha. Mandou para o ralo, a dignidade, a hombridade, a
lisura, a transparência. Na mesma fornicação, despachou de mala e cuia, para a
casa do caralho a sua carência, a sua indigência. Na verdade, se tornou
INDIGESTA.
De roldão, enfiou dentro da calcinha melecada, o
discernimento, a consciência, a informação, a praticidade e a sensatez (numa
salada de frutas sem gosto e sem gelo) entrelaçadas e voltadas não em prol do
bem comum, em proveito de si mesma. Aliás, para ela, é viável que se diga o bem
comum... kikikikikiki... o bem comum, que se foda...
Possivelmente essa desgraça que conhecemos como justiça, foi
estuprada por algum juizinho arrogante recém-empossado no cargo. Tomou no ânus
ou no cu, a infeliz e desditosa e, desde então, furisco melindrado, machucado,
caxinga, claudica, acambeta ou capenga das pernas. Dai a venda amarrada na
fuça.
Em conclusão, a justiça não é justa. Nunca foi. Fede a
carniça. Exala odores impuros. Catinga. Acabou mal. Virou rameira, cachorra,
devassa, alcoviteira, vagabunda, safada de ponta de estoque, rameira de beira
de esquina, entre outros predicados.
A venda em seu rosto (rosto?!), voltando à venda, essa
birosca fez dela, ou faz dela, literalmente, uma peça vulgar, medíocre,
insignificante, pueril. Pelo acima exposto, encontrarmos, uma nova roupagem
para revesti-la. Uma vestimenta ao clima da sua altivez. Uma indumentária ao
intocável de sua figura lésbica, falida e bancarrotada: a de j-u-s-t-i-s-s-s-a
feita nas coxas... e... sobre... as... colchas.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de João Pessoa, Paraíba. 30-4-2019
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