João Gonçalves
Por cá, isto começou e terminou com o PS a
pastorear-nos em duas condições políticas distintas.
Em 2010, Sócrates reinava com
menos 500 mil votos dos obtidos aquando da maioria absoluta de 2005. O seu
governo minoritário, tal como o absoluto a partir de determinada altura, não
revelou capacidade política para lidar com a crise financeira e económica
internacional. E não apenas foi rebocado por ela como, internamente, colocou o
país encostado à parede com a espada enfiada na garganta.
Para evitar a bancarrota, na primavera
de 2011, já em gestão depois de ter pedido a demissão, o Governo de Sócrates
pediu auxílio externo, que se traduziu num "plano de assistência económica
e financeira" (PAEF) garantido pela UE, pelo BCE e pelo FMI.
Perdidas as eleições
antecipadas desse ano, o PAEF acabou por ser aplicado pelo Governo de coligação
PSD-CDS, o qual, erradamente,
não obrigou o PS, no Parlamento, a vincular-se ao seu cumprimento
independentemente do programa do Governo.
Este "interregno"
entre meados de 2011 e Novembro de 2015, na prática, de salvação nacional,
permitiu astutamente ao PS fazer tábua-rasa das suas próprias calamidades e
aparecer a seguir como o novo "pai" das Esquerdas unidas,
constituindo pela primeira vez um Governo ao arrepio do resultado eleitoral,
que cumpriu uma legislatura inteira apoiado nas Esquerdas parlamentares, a
extrema e a comunista.
Constituiu, sem dúvida, o
facto político da década, sem que, todavia, isso se tivesse traduzido na
glorificação eleitoral maioritária do seu principal obreiro, o secretário-geral
do PS e primeiro-ministro.
Nada, porém, teria sido
possível - Centeno e a sua "obra" de reposições, recuperações,
cativações e excedentes - se, com uma enorme dignidade política e uma
austeridade temerária, mas indispensável, o PAEF, causado pelo mesmo PS de que
falo, não tivesse sido finalizado no prazo acordado. E se os indicadores
económicos e financeiros não estivessem a dar os primeiros sinais de incremento
positivo desde 2014, incluindo o investimento público.
À segunda, o PS herdou nesta
década um país diferente, para melhor, e uma sociedade mais segura e afirmativa
para o melhor e para o pior. Porque no "interregno" sem PS, Portugal
foi tratado como um país adulto, confrontado com as suas responsabilidades,
deveres e direitos, e não como um permanente jardim-escola de flores e de
facilidades ilimitadas. Tal basta-me para definir, como se fosse preciso, a
única figura nacional, com autoridade política, desta década acabada: Pedro
Passos Coelho.
Bom 2020.
Título e Texto: João
Gonçalves, Jurista, Jornal de Notícias, 30-12-2019
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