sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Revista Oeste: Carta ao leitor – Edição 201

O movimento que rejeita a anistia para os presos do 8 de janeiro está entre os destaques desta edição

Branca Nunes

Em 1969, então com 20 anos, Franklin Martins estava na clandestinidade, militava na organização extremista MR-8 e articulou o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Oficialmente, o objetivo era libertar 15 ativistas de esquerda presos pelo regime militar, entre os quais líderes do movimento estudantil capturados no Congresso da UNE em Ibiúna. Mas o sequestro era uma das etapas rumo à concretização do sonho de Franklin e seus companheiros: derrubar o governo, mandar às favas a democracia burguesa e apressar a implantação da ditadura do proletariado.  

Antes do embarque para o México, 13 dos 15 presos políticos que foram soltos pelo regime militar são fotografados na base militar do Galeão, no Rio de Janeiro. Foto: Domínio Público

Hoje com 75 anos, Franklin ficou preso apenas 60 dias — da abertura do Congresso em Ibiúna, em 12 de outubro, até 12 de dezembro de 1968, véspera da decretação do AI-5. Poucos meses após o sequestro, ele foi para o exílio; só voltou ao país em 1979, graças à anistia decretada pelo governo Figueiredo.

Franklin leva a boa vida de semiaposentado que hoje desfruta a anistia que lhe permitiu tornar-se jornalista da Rede Globo e ministro das Comunicações no segundo governo Lula. Outros embolsaram gordas quantias com a criação, em 2002, da chamada “bolsa ditadura”.  

Nenhum governo divulgou de forma clara e transparente quem são os contemplados, por que receberam a bolada, muito menos quanto receberam. Sabe-se que já foram torrados cerca de R$ 7 bilhões. E vira e mexe algum nome de destaque é revelado: Carlos Heitor Cony, Ziraldo e Dilma Rousseff estão entre eles.

Longe dos holofotes, contudo, muitos outros embolsam em paz os pagamentos. Em 2010, uma reportagem da revista Veja mostrou que um dos 24 conselheiros da Comissão de Anistia, o advogado Egmar José de Oliveira, filiado ao PCdoB, havia entrado na lista. Ele iria ganhar mais de R$ 554 mil. Por que esse montante? Oliveira limitava-se a dizer, sem entrar em detalhes, que havia feito oposição à ditadura militar.  

Entre as dez indenizações mais altas, algumas ultrapassam R$ 4 milhões. O jornalista Paulo Cannabrava Filho é um desses milionários. Até 2019, ele havia recebido mais de R$ 4,7 milhões. Hoje, além de dirigir um site chamado Diálogos do Sul, Cannabrava critica o que chama de “golpismo em Brasília”. Numa entrevista no YouTube, ele qualificou como “terroristas” os manifestantes presos pelos atos de vandalismo do 8 de janeiro.  

Até agora, nenhum dos anistiados ou beneficiários da “bolsa ditadura” se manifestou em defesa dos presos políticos brasileiros encarcerados há mais de um ano. Pior: fazem questão de juntar-se ao bando que berra “sem anistia” — “sem anistia” para os outros. É o que mostra a reportagem de capa desta edição, assinada por Augusto Nunes.  

Mesmo sem terem sequestrado qualquer pessoa, sem nunca terem empunhado uma arma, sem nunca terem chegado perto de qualquer coisa que lembre um golpe, esses brasileiros não merecem perdão aos olhos dos perdoados. O crime que cometeram é o maior de todos: são um bando de “bolsonaristas”. São “de direita”. Hoje, “esse tipo de gente” está para a esquerda brasileira como esteve o judeu para os nazistas alemães.

Boa leitura.

Branca Nunes

Diretora de Redação, Revista Oeste, 26-1-2024

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-