O movimento que rejeita a anistia para os presos do 8 de janeiro está entre os destaques desta edição
Branca Nunes
Em 1969, então com 20 anos,
Franklin Martins estava na clandestinidade, militava na organização extremista
MR-8 e articulou o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick.
Oficialmente, o objetivo era libertar 15 ativistas de esquerda presos pelo
regime militar, entre os quais líderes do movimento estudantil capturados no
Congresso da UNE em Ibiúna. Mas o sequestro era uma das etapas rumo à
concretização do sonho de Franklin e seus companheiros: derrubar o governo,
mandar às favas a democracia burguesa e apressar a implantação da ditadura do
proletariado. Antes do embarque para o México, 13 dos 15 presos políticos que foram soltos pelo regime militar são fotografados na base militar do Galeão, no Rio de Janeiro. Foto: Domínio Público
Hoje com 75 anos, Franklin
ficou preso apenas 60 dias — da abertura do Congresso em Ibiúna, em 12 de
outubro, até 12 de dezembro de 1968, véspera da decretação do AI-5. Poucos
meses após o sequestro, ele foi para o exílio; só voltou ao país em 1979, graças
à anistia decretada pelo governo Figueiredo.
Franklin leva a boa vida de
semiaposentado que hoje desfruta a anistia que lhe permitiu tornar-se
jornalista da Rede Globo e ministro das Comunicações no segundo governo Lula.
Outros embolsaram gordas quantias com a criação, em 2002, da chamada “bolsa ditadura”.
Nenhum governo divulgou de forma clara e transparente quem são os contemplados, por que receberam a bolada, muito menos quanto receberam. Sabe-se que já foram torrados cerca de R$ 7 bilhões. E vira e mexe algum nome de destaque é revelado: Carlos Heitor Cony, Ziraldo e Dilma Rousseff estão entre eles.
Entre as dez indenizações mais
altas, algumas ultrapassam R$ 4 milhões. O jornalista Paulo Cannabrava Filho é
um desses milionários. Até 2019, ele havia recebido mais de R$ 4,7 milhões.
Hoje, além de dirigir um site chamado Diálogos do Sul, Cannabrava critica o que
chama de “golpismo em Brasília”. Numa entrevista no YouTube, ele qualificou
como “terroristas” os manifestantes presos pelos atos de vandalismo do 8 de
janeiro.
Até agora, nenhum dos
anistiados ou beneficiários da “bolsa ditadura” se manifestou em defesa dos
presos políticos brasileiros encarcerados há mais de um ano. Pior: fazem
questão de juntar-se ao bando que berra “sem anistia” — “sem anistia” para os
outros. É o que mostra a reportagem de capa desta edição, assinada por Augusto
Nunes.
Mesmo sem terem sequestrado
qualquer pessoa, sem nunca terem empunhado uma arma, sem nunca terem chegado
perto de qualquer coisa que lembre um golpe, esses brasileiros não merecem
perdão aos olhos dos perdoados. O crime que cometeram é o maior de todos: são
um bando de “bolsonaristas”. São “de direita”. Hoje, “esse tipo de gente” está
para a esquerda brasileira como esteve o judeu para os nazistas alemães.
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de Redação, Revista Oeste, 26-1-2024
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