Comissões da Alerj e Câmara rebatem
prefeito que agiu em defesa dos ferros velhos nas zonas residenciais da cidade,
mas quis manter restrições aos Clubes de Tiro. Enquanto os ferros velhos seguem
comprando o que é roubado ali na esquina, os atiradores profissionais e
amadores continuam sofrendo discriminação na sua atividade esportiva
Amanda Raiter
O combate ao mau uso dos ferros-velhos como centros de receptação de material roubado e à instrumentalização de miseráveis e usuários de crack como “coletores de material” para estes empreendimentos clandestinos parece que está longe de ser um consenso entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e os parlamentares membros das comissões do tema tanto na Câmara do Rio quanto da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A discussão tomou forma novamente após o prefeito Eduardo Paes vetar, inexplicavelmente, no Plano Diretor da Cidade, o artigo que restringia novas licenças para ferros-velhos a áreas comerciais e industriais, excluindo estes garimpos do crime das áreas residenciais. Parece que o Prefeito não entendeu que distanciar o bandido ‘coletor’ do bandido ‘receptador’ seria uma boa ideia. Ainda no item Segurança Pública, Paes vetou o artigo que removia as restrições às atividades de clube de tiro e estande de tiro, “desde que respeitado o impacto moderado”.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil |
Para a deputada estadual e
membro da Comissão de Segurança Pública da Alerj Índia Armelau, o
prefeito teve atitude tendenciosa, em um ano de eleição. “Evidente o
retrocesso e erro do prefeito. É um veto político e discriminatório, contra a
vontade popular, retirar do Plano Diretor o funcionamento dos clubes de tiro no
município do Rio de Janeiro, pois trata-se de uma atividade esportiva legal,
segura, com isolamento acústico, gerador de tributos, benefícios sociais,
físicos e mentais, onde famílias e atletas se reúnem e devem ter este espaço de
lazer garantido no zoneamento residencial. Ressalta-se que os profissionais de
segurança e cidadãos, devidamente habilitados, participam desta atividade,
trazendo mais um movimento de segurança na localidade. O tiro esportivo é
atividade olímpica desde 1896 em Atenas. Já os ferros-velhos, além dos impactos
ambientais negativos, têm histórico de recepcionar produtos de origem duvidosa
e por vezes estarem ligados a atividades criminosas”, ressalta a deputada.
Para Wilton Alves, administrador de imóveis no Rio, “não dá pra entender uma ação que possibilite ferros velhos em áreas residenciais. Tirando o fato de que muitos exercem de forma criminosa seu trabalho, ainda há que se deixar claro que a presença destes negócios desvaloriza qualquer região, pois são estabelecimentos fedorentos, barulhentos e que muitas vezes são foco de vetores como mosquitos e ratos”. Alves acha que a Câmara deveria se insurgir contra o tema: “são focos de receptação, atraem viciados e atuam de forma nebulosa”.
Já Roberto Uchoa,
membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, defende que é preciso separar
quem usa os ferros-velhos de forma ilícita dos trabalhadores honestos. “Claro
que locais de ferro velho são conhecidos como ponto de desova de produtos
furtados ou roubados, desde peças de veículos até grades de ferro e janelas de
alumínio, agora restringir uma atividade econômica em razão de alguns cometerem
crimes não faz sentido. O correto é investigar e punir os que estão cometendo
delitos e deixar aqueles que trabalham honestamente seguirem com suas
atividades. Com relação a clubes de tiro faz todo sentido. A circulação de pessoas
armadas em áreas residenciais não traz segurança a ninguém“, relata Uchoa.
Os ferros velhos receptam também partes de monumentos históricos, gradis,
estátuas e tudo mais que os cracudos podem carregar até o receptador mais
próximo, isso sem contar as famosas Kombis que se tornaram ferros velhos
itinerantes e grassam por bairros como Copacabana e Vila Isabel, comprando ali
o que foi roubado acolá.
Já o presidente da Comissão de
Segurança Pública da Câmara do Rio, o vereador Rogério Amorim,
criticou a atuação da Secretaria de Ordem Pública, comandada
pela Prefeitura do Rio. “O prefeito já desabafou sobre Segurança
Pública e deixou uma frase para a posteridade, uma frase que é a marca dele:
“Não tem muito o que fazer”. A SEOP ignora completamente os constantes roubos
de mobiliário urbano, só faz operações com agentes sem identificação, agredindo
trabalhadores. Com essa total displicência com o mobiliário urbano, era de se
esperar que ele liberasse os ferros-velhos em áreas residenciais. O que me
espanta é que na mesma decisão ele impõe uma série de limites e regras para os
Clubes de Tiro, mostrando mais uma vez que ele odeia a nós, que votamos em Jair
Bolsonaro. O prefeito não está mais no juízo perfeito, está reativo,
descontrolado”, opina Amorim.
Presentes da Zona
Oeste a Sul, os ferros-velhos são alvos constantes de operações tanto da
Polícia quanto de órgãos municipais. Recentemente, foram encontrados, em pleno
bairro da Lagoa,
20kg de cobre e150kg de cobre ou cabos em outro estabelecimento desta natureza
no Méier. Ainda
no início do ano passado, um ferro-velho foi fechado em Jacarepaguá pelo
armazenamento de 80kg de cobre sem procedência. Estima-se ainda que há
ferros-velhos itinerantes, feitos através de kombis,
que anunciam seja em Copacabana ou em bairros de subúrbio,
onde bandidos furtam toda
parte metálica de um abrigo de ônibus, sem que a Prefeitura
tivesse chamado sequer a polícia. Em São Cristóvão, roubaram todo o
gradil de metal do Bairro Imperial, e um mendigo outro dia foi filmado roubando
um poste de luz inteiro.
Monumentos do Rio também são
alvos dos mesmos grupos que costumam vender peças metálicas furtadas de
patrimônios públicos e particulares. Um dos mais conhecidos são os óculos do
poeta Carlos
Drummond de Andrade, que fica na orla de Copacabana, e o chafariz de
golfinhos da Praça Paris, responsável pelo custo de reposição de R$ 30 mil.
Título e Texto: Amanda
Raiter, Diário
do Rio, 26-1-2024
Roberto Uchoa: Instagram
Uma honra ter sido entrevistado por @Cecillia e equipe do @TheInterceptBr . O governo @LulaOficial começou bem, mas é preciso ir além. O mercado legal de armas de fogo está uma bagunça e criar uma agência nacional de armas pode ser o primeiro passo. https://t.co/K9vLI1LjWl
— Roberto Uchôa (@uchoafederal) January 27, 2023
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