Valfrido M. Chaves
Nada insulta e provoca mais
ódios a quem cultiva sentimentos de poder ilimitado do que a discordância e
divergência sobre suas verdades e desejos. Sabe-se haver indivíduos, grupos e
instituições adoecidos pela onipotência, ou que a compartilham em suas
patologias. Tal sentimento ou delírio, leitor, têm como fundamento uma auto
percepção de que a tudo podem e de que tudo o que os contrarie não deva
existir, é “a-histórico”, contra a humanidade. Isso posto, torna-se fácil
compreender o quanto a diversidade de opinião e, portanto, a liberdade de
imprensa incomoda nossos caciques e aprendizes de totalitarismo, sejam eles
indivíduos, grupos, partidos e suas militâncias. Lembremos que totalitarismo seria
um todo-poderoso, homogêneo e sem divergências, que a tudo se permite pela
causa.
Mas ninguém acorda, leitor,
espreguiça e diz: eu vou ser Stalin, eu vou ser Hitler, Pol Pot, (todos
paranóicos de livro!) hoje vou matar tantos judeus, comunistas, democratas ou
reacionários. Há uma personalidade psicótica paranóide estruturada naqueles que
não concebem a divergência e reagem com a mais absoluta indignação e ira diante
dela. Mas a pessoa não pode sair, com borduna, punhal ou metralhadora
simplesmente eliminando “o diferente”. Ele tem que criar uma ideologia ou
aderir a uma já existente, que o permita exercitar sobre o mundo sua paranóia.
Os socialismos hitleriano e o marxista-leninista, vulgarmente chamado
comunista, foram exemplos perfeitos de ideários intolerantes e onipotentes,
isto é, que a tudo se permitiram no exercício dessa intolerância. É óbvio que
não se tratava de uma intolerância pela intolerância, mas pela não aceitação da
divergência sobre dois pontos estruturantes dessas ideologias. Um, a eliminação
da contaminação racial da humanidade e, outro, abolição da propriedade privada
dos meios de produção. O nazismo prometeu uma série de “malvadezas”, crimes e
as executou, até ser varrido na Segunda Guerra. O socialismo comunista nasceu
com promessas e teses politicamente corretas, como “Paz, pão e terra”, se
estabelecendo no Leste Europeu e Ásia pela força das armas (“O fuzil é a
parteira da História”- Mao Tsé Tung). Fracassou no Leste Europeu, enquanto a
China transformou-se em Economia de Mercado, nela restabelecendo a antes
famigerada propriedade privada. Na América Latina, Fidel Castro, na sua onipotência,
profetiza que “recuperaremos na América Latina o que perdemos no Leste
Europeu”, enquanto partidos que rezam pela cartilha marxista-leninista
conseguem o poder em eleições democráticas, como no Brasil. Deram esse passo
beneficiando-se das mesmas condições atuais de nossa liberdade de imprensa.
Mas, no poder, tais condições já não os satisfazem e estão obcecados pelo
“controle social da mídia”, fantasma esse que, no PNDH-3, mostrou sua face. O
objetivo prático é a manutenção do poder, pois a história não registra exemplo
em que os adeptos dessa ideologia aceitem a rotatividade do poder. Inibidos
pela reação da sociedade, voltam à carga com palavras politicamente corretas
contra “os donos dos jornais”. É o caso de perguntar: porque não demandam “controle
social” sobre os mensalões, formação de caixa-2 e “recursos não
contabilizados”, como disse o Delúbio? Ou sobre a corrupção nos Incras, o
abandono dos assentamentos, ou os recursos públicos e externos usados para
violação de direitos constitucionais do homem do campo? O que fica claro,
leitor, no exercício da liberdade de imprensa, é que não são seus erros e
excessos que tanto incomodam os onipotentes no poder mas, simplesmente, sua
exata função: informar, trazer à luz os podres que medram nos subterrâneos
palacianos, quer burgueses ou ditos populares. E que assim continue, com o
ranger dos dentes da corrupção impune e do totalitarismo paranóico.
Título e Texto: Valfrido M.
Chaves, Psicanalista, Pantaneiro
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