quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A caça aos políticos "criminosos"

Sábado
A história é verídica: logo a seguir à revolução, um militar de Abril levantou-se a meio de uma reunião tensa e propôs, com cara séria, que os novos poderes exumassem o cadáver de Salazar e o sentassem numa sala de tribunal, para ser julgado pelas suas políticas. À volta, todos olharam para ele como se fosse louco. Estranhamente, Pedro Passos Coelho não provocou uma reacção semelhante quando, na semana passada, anunciou no Parlamento pretender "saber quem, como e porquê esteve na origem dos encargos insustentáveis" e prometeu investigar "parceria público-privada a parceria público-privada, contrato a contrato, departamento por departamento". Este seria o primeiro passo numa purga nacional que se completaria com uma queixa feita na Procuradoria por Duarte Marques, o promissor líder da JSD que deu a cara, o nome e a reputação em defesa da criminalização da incompetência dos políticos.

O objectivo, naturalmente, é enviar José Sócrates para a cadeia (e, talvez, Pedro Silva Pereira). O problema é que não se poderia parar aí. Seria preciso varrer todos os ministros do anterior governo; e todos os deputados que os apoiaram; e o Presidente da República, que promulgou as suas decisões.

Nem isso seria suficiente. Quando José Sócrates foi reeleito em 2009, qualquer eleitor minimamente informado tinha obrigação de saber que a economia já tinha estoirado e que as políticas propostas pelo PS durante a campanha eram irrealistas, fantasiosas e - para usar uma expressão da moda - "criminosas". Portanto, seria obrigatório prender os 2.077.238 portugueses que, mesmo assim, votaram em José Sócrates.

Portugal não consegue condenar políticos que tenham cometido crimes a sério, como corrupção, peculato ou abuso de poder - mas sente-se preparado para perseguir políticos que supostamente cometeram crimes vagos e imaginários. É a melhor maneira de não fazer uma coisa nem outra. 
Editorial da Sábado, nº 390, de 20 a 26-10-2011


A caça às bruxas foi uma perseguição religiosa e social que começou no século XV e atingiu seu apogeu nos séculos XVI e XVII principalmente na Alemanha, na Suíça e na Inglaterra. As antigas religiões pagãs e matriarcais eram tidas como satânicas. O mais famoso manual de caça às bruxas é o Malleus Maleficarum ("Martelo das Feiticeiras"), de 1486.
(…)

Embora tenha começado no fim da Idade Média, a caça às bruxas européia foi um fenômeno da Idade Moderna, período em que a taxa de mortalidade foi bem maior.
Embora supostas bruxas tenham sido queimadas ou enforcadas num intervalo de quatro séculos — do século XV ao século XVIII — a maioria foi julgada e morta entre 1550 e 1650, nos 100 anos mais histéricos do movimento.
Fonte: Wikipédia

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