
Exma. Sra. Dilma Russeff.
Infelizmente, não tive espaço democrático o suficiente em uma emissora pública,
no programa Roda Viva, da TV Cultura, para situar as reflexões derivadas da
minha experiência pessoal e da leitura tardia de documentos – história, filosofia,
religiões e outros campos de conhecimento, que V. Exa. deve conhecer muito mais
que pessoas como eu, situadas no espaço dos comuns.
Hoje estou convicto de que a
história é escrita em páginas amarelas de medo, para justificar as políticas
desastrosas de formas de Estado que se agigantam, favorecendo os mesmos de
sempre, uma elite de coroados e vassalos internacionais, que se apossou de todo
o conhecimento e recursos do trabalho humano, posicionando-se acima das Leis,
sobre pilhas de cadáveres que emolduram suas políticas catastróficas, vitimando
todas as nações.
Os currais que rotularam de
“direita” ou “esquerda”, impedem a gente de andar para frente. Impedem a
reflexão sobre o essencial. Inviabilizam a educação para a liberdade, para a
curiosidade que excita a busca do saber e criatividade individual, que serve ao
bem estar, ao bem comum. A razão econômica se sobrepõe às razões dos humanos
que querem construir uma civilização com trabalho e respeito aos semelhantes,
segundo os méritos de cada um, preservando sua cultura e tradições, preservando
os valores construtivos, priorizando o respeito a vida dos semelhantes e do
planeta.
O núcleo duro do poder global
utiliza elementos traumáticos de todo tipo, para dissociar a gente da realidade
essencial: controle mental, utilização de símbolos, transes hipnóticos que
parecem gravar geneticamente as pessoas, passando de geração em geração. O abuso
físico é visível nos corpos dos que lidam na roça enfrentando as secas e a
fome, nos que se prostituem nas ruas desde a infância, nas filas dos serviços
de saúde, naquelas imagens que chegam da África, Somália e outros recantos, na
figura dos drogados que parecem caracterizar este admirável mundo novo. É
visível na multiplicação do stress provocado por sucessivos traumas que afligem
as populações urbanas e rurais.
É insólito saber hoje que os
impérios cristãos ocidentais (Estados e corporações) financiaram e propiciaram
as revoluções comunistas. Que o nazismo foi uma seqüência daquele laboratório
de horrores. Que a inteligência nazista foi acolhida na Europa e nos EUA depois
da guerra. Que a violência do momento é uma seqüência destas políticas de saque
e submissão. Em 1964 esta informação estava expurgada da história que nos
contavam sobre uma suposta oposição entre as grandes potências que ameaçavam o
planeta com uma guerra atômica.
Estas são evidências
apreendidas da obra de Antony Sutton e outros, que evidenciam os malefícios
ideológicos e religiosos em seus desvios violentos e conspiratórios. Muitas
destas obras são catalogadas no rol de teorias da conspiração e são mantidas
nas gavetas da espiral do silêncio. O “index librorum proibitorum” disseminou-se
como prática da “igreja econômica” que fundamenta as diretrizes das políticas
de submissão internacional, responsáveis pela eterna dependência das nações, ao
contrário do respeito interdependente entre pares.
Senhora Presidente ou
Presidenta,
Em 1964 era um menino com
baixa escolaridade, atuando entre meninos sonhadores, fáceis de manipular por
quem lhes desse atenção e alimentasse sua estrutura de plausibilidade. Os
emocionantes lances daquela assembléia de marinheiros, engendrada nos
bastidores por sindicalistas com ascendência sobre o Presidente da República,
resultou na cena do canhão de um tanque de guerra apontado para o recinto onde
estavam marinheiros, fuzileiros e trabalhadores civis. Parte da tropa de
fuzileiros que cercava o recinto, largou as armas e os cintos com balas, para
juntar-se aos participantes da assembléia.
Quatro dias depois – 31 de
Março de 1964 – concretizou-se a queda do governo, conspiração militar-civil
que se gestava há três anos, quando da renúncia de Jânio Quadros. Sabe-se hoje
que forças poderosas atuavam silenciosamente nos bastidores internacionais,
acima das disputas ideológicas da guerra fria. Iniciou-se o período chamado
agora pela mídia de ditadura militar, mas, naquela época efusivamente saudada
por todos os grandes jornais: “os militares salvavam a nação do comunismo
internacional”, diziam as manchetes.
Os militares subalternos não
gozavam de direitos políticos (não tinham direito a voto). Mesmo assim, fui o
centésimo a perder os direitos (que não tinha) na primeira lista de cassações.
Estava oficialmente no rol dos inimigos do Estado. Decorreram dois anos, desde
a prisão no DOPS do Rio de Janeiro. Depois no Presídio Fernandes Viana, em
contato com presos comuns. Convocado para depor em diversos IPMs (inquéritos policiais
militares instaurados em várias instituições tendo à frente Coronéis do
Exército). Depoimentos no Cenimar (Centro de Informações da Marinha). Diversos
Processos na Justiça Militar comparecendo às audiências com a presença do
Advogado de defesa, Alcione Pinto Correa.
Transferência de prisão para a
carceragem de uma delegacia de polícia no Alto da Boa Vista por interferência
da defesa, para separar dos presos comuns. Quase uma centena de presos
políticos foram liberados por hábeas corpus, incluindo uns 30 ex-marinheiros e
fuzileiros navais. A Justiça ainda gozava de alguma respeito e a letra da lei
era obedecida, mesmo pelos ditadores.
Último prisioneiro político,
fugi da prisão com auxílio de AP e POLOP. Clandestinidade fechada em São Paulo.
Saída para a clandestinidade (não asilo político) no Uruguai, acolhido pela
organização do Engenheiro Leonel Brizola, “para aprender as táticas e as
técnicas da guerrilha cubana”, que poderiam, mas não seriam precisamente
necessárias “à nossa luta no futuro” – como ele bem me frisou. Diante do
insucesso, Brizola retirou-se. Ficamos seis órfãos em Cuba, precisamente
contrários ao comunismo. Até que se abriu uma porta para voltar ao Brasil. Fui
preso pelo DOPS de São Paulo. Com tortura: pau de arara, choques e porrada em
duas sessões nas madrugadas do terceiro e quarto dia.
Colaborei com o Estado
ditatorial, tanto pelo terror a que estive submetido, quanto por ter alcançado
a consciência da insanidade do estado comunista, experiência vivida na passagem
pela Checoslováquia e na clandestinidade da estadia de dois anos em Cuba.
Consciência que se cristalizou na volta ao Brasil, onde percebi que a escolha
da gente era a vida, o trabalho, criar os filhos, o que era diferente de
provocar uma guerra civil. A população estava amedrontada diante da matança,
seqüestros, roubos, bombas e barbaridades de uma minoria: de um lado os
guerrilheiros, então abertamente na prática do foquismo que levaria à guerra
civil, criação do “exército do povo” e tomada do poder com a instalação de um
governo comunista, presumivelmente contrário ao “imperialismo norte americano”
e submisso ao “imperialismo soviético ou chinês”.
Do outro lado os policiais e
militares servidores do Estado que conduziam a nação para um desenvolvimento
diferenciado, financiado com recursos externos. Uma forma diferente daquela que
um dia ouvi do Engenheiro Leonel Brizola: nacionalismo para “fechar o país,
arrumar a casa”. Os militares brasileiros conduziam uma forma de governo com
exceções que proporcionava o pleno emprego, criava escolas, modernizava a infra
estrutura e as comunicações, no ambiente de produção capitalista associado ao
mundo dito “democrático”. Há muito de semelhante nos dias atuais. Passado e
presente comum a todos os países da América do Sul.
Entendi que, auxiliar o Estado
naquele momento - mesmo que compulsoriamente sob certos aspectos – era
respeitar a vontade do povo brasileiro, facilitando o fim da barbárie que
envolvia ativistas da guerrilha e agentes das forças de defesa do Estado. A
gente comum ficava com os maiores prejuízos. Os maiores beneficiados eram os
provedores de armas e recursos logísticos, atuando à distância, invisíveis nos
cenários de jogo político internacional.
A gente, estava na linha de
fogo, como o Sr. Lovecchio e centenas de outros prejudicados, de ambos os
lados, marcando as famílias cujos filhos e pais trocaram a prática do amor pelo
ódio ideológico. Esta é uma parte da história esquecida, ignorada e aí residem
os maiores prejuízos materiais e espirituais, jamais assumidos pelos
revolucionários.
Em vez de armas, política para
voltar à vida produtiva em segurança.
Em 1964 já éramos manipulados
por forças que não conhecíamos. Hoje mais ainda, quando o coletivismo
patrocinado pelos controladores que se agigantaram após a queda do muro de
Berlim, reduz o indivíduo “sotto zero”. Tudo estava descrito, antecipado,
previsto, planejado, conspirado há séculos.
Aprendi a anestesiar a dor de
viver neste mundo de “homens partidos”, viver dividido dentro de mim, viver com
a mente dividida. Conservo o orgulho de ser Brasileiro. Penso quantas vezes
serei cobrado por cumprir o dever para com a própria consciência. Busco estar
atento aos desejos que são instalados pela implacável máquina controladora de
corações e mentes, alguns benéficos e outros demoníacos. Penso o quanto mais
vão poder dividir esta mente e este corpo machucado, envelhecido e perplexo.
Penso neste mundo que nunca imaginei.
Acredito Senhora Presidente,
que nada do que está acima descrito seja novidade para quem conquistou a
liderança da nação. Acredito nas boas intenções que conduzem suas escolhas. Na
realidade, imagino as pressões imensuráveis que dificultam as decisões reais e
outras atribuídas à sua função, neste mundo bem diferente do que um dia
sonhamos, humanamente, em campos separados por contingências superiores à nossa
vontade.
A minha vida foi vivida com a
crença de estar servindo à nação, gente de carne e osso merecedora de respeito
e sentimentos amorosos. As bússolas apontaram em direções inversas, confundindo
mentes imaturas. Muitos atos do passado originaram-se na vontade que prezava
como valor maior o companheirismo. Naquela relação falhava a formação de
vontades livres, bem informadas e esclarecidas, refratárias ao fanatismo
político. Fui peão de um jogo de poder e propósitos reais desconhecidos.
Construíram, depois, um mito
que nunca existiu dentro de mim. Arrebataram-me a identidade. Servi à Marinha e
desonrei o juramento à Pátria. O ato de indisciplina marcou o renegado. Servi
mais tarde ao Governo Federal e ao Estado de São Paulo. Nem do Governo Federal,
nem do Estado de São Paulo recebi qualquer remuneração. Os recursos externos
que eram derramados para “ajudar” o desenvolvimento do Brasil naqueles dias
eram menores que os atuais, mas os resultados eram visivelmente mais benéficos.
De tudo isto, restou-me a
insólita perda do nome de batismo e a existência de direito negada: sumiu dos
livros o registro batismal. E como não me devolveram a identidade civil,
inexisto, como coração quebrado, mas sem culpas, abrigado por alguns amigos e
reverente na presença da Inteligência Universal, agradecido e confiante em
Deus. Um homem com muito sono, esperando o momento de dormir, mais ainda com os
olhos abertos, buscando verdades eternas para entender melhor os sofismas do
poder, ração de todos.
Na tentativa de reaver meu
nome e identidade, solicito a potência da sua palavra para determinar o
cumprimento da “lei para todos”, ato que contribuirá para o maior respeito e
credibilidade da sua pessoa e do seu cargo. Na esperança de que se cumpra a
vigente Lei de Anistia despida das paixões políticas.
Preciso de minha identidade.
Uma ordem sua, como comandante em chefe das Forças Armadas, pode reparar esta
absurda injustiça contra mim. A Marinha tem todos os documentos confirmando
quem eu sou, por perícia datiloscópica.
Repito que não quero nem
preciso de indenização milionária – como outros já fazem jus. Quero a minha
anistia, direito já reconhecido, pois fui servidor do Estado (marinheiro de
primeira classe) cassado pelo AI-1. E o primeiro passo para isso é ter minha
Carteira de Identidade – emitida por órgão civil ou militar.
Dirijo-me, diretamente, a
Vossa Excelência, na esperança de que o Direito (humano e legal) seja
estritamente respeitado no Brasil, sob sua gestão. Por favor, apelo por sua
interferência para que me seja emitida a Carteira de Identidade e para que a
Comissão de Anistia do Ministério da Justiça julgue meu pedido, que dormita na
burocracia desde 2004.
Prezada Dilma Rousseff, confio
em seu senso de Justiça.
Atenciosamente,
Título e Texto: José Anselmo dos Santos
Publicado no blogue "Alerta Total"
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Até que enfim o Cabo Anselmo percebeu que não conseguirá absolutamente nada recebendo apóio e se posicionando como um radical de direita.
ResponderExcluirComo recita um éxito da música caribenha, que Anselmo deve conhecer bem:
"El camaleón mama,
el camaleón,
Cambia de colores según la ocasión"