De tempos em tempos, ou
melhor, quase que diariamente, pinta um escândalo de corrupção envolvendo
dinheiro público. Mas estava achando estranho o fato de não ter aparecido um
novo escândalo no cenário político nesses últimos dias. O último foi o de vendas
de emendas pelos parlamentares da Assembleia Legislativa de São Paulo,
denunciado pelo deputado Roque Barbiere (PTB), afirmando que 25% a 30% dos
deputados "vendem" a cota de emendas a que têm direito todos os anos
em troca de parte dos recursos. O deputado licenciado e atual secretário de
Meio Ambiente do estado, Bruno Covas (PSDB) e possível candidato a prefeito de
São Paulo, em entrevista a um jornal - que posteriormente tentou desmentir -,
endossou o colega e sugeriu ter ouvido rumores a respeito, citando até um
exemplo que aconteceu com ele mesmo, quando um prefeito ofereceu-lhe uma
propina de 10% de uma emenda no valor de R$ 50 mil. E a base aliada paulista
faz de tudo para blindar Bruno Covas.
O deputado estadual Major
Olímpio (PDT) disse que venda de emendas faz parte do cotidiano na Assembleia
Legislativa. Além de dizer que esse é um fato recorrente na Casa. Teve seu nome
envolvido no caso após alegar que uma presidenta de uma entidade havia lhe
contado que alguns deputados só disponibilizavam recursos através de emendas,
se ela transferisse uma quantia em dinheiro a outra entidade que não estava
regularizada e apta a receber a verba, muitas vezes vinculada ao próprio
parlamentar que indicava a emenda.
O deputado afirmou ainda que o
esquema de vendas de emendas é o tipo de coisa que todo mundo sabe, mas ninguém
se manifesta a respeito. “Todo mundo sabe que isso faz parte do cotidiano da
Casa, não sei se é um, três ou dez, mas existe. Ninguém fala porque é muito
difícil produzir provas ou flagrar algum caso.”
E produzir provas parece que é
mesmo muito difícil, pois o esquema é esse mesmo.
Nota-se que a maioria das
denúncias de qualquer escândalo (principalmente se tiver um "figurão"
envolvido, e quase sempre há) - o início das investigações, não parte através
do Ministério Público ou das Policias, e sim, é a Imprensa a primeira a revelar
tais escândalo. E não é porque a imprensa investigou a fundo, mas sim, porque
alguém, leia-se fonte, mandou de bandeja para os canais informativos. Esse
alguém que com certeza, sentindo-se prejudicado nas partilhas das maracutais e
nos dividendos dos desvios de recursos público, vingativo, resolveu jogar no
ventilador, mais para fazer barulho (aproveitando-se da geral impunidade que
impera no país) e derrubar alguns esquemas, na tentativa de se colocar em
outros esquemas para que possam, novamente e melhor, beneficiá-lo.
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Ministro Orlando Silva, foto: Fabio Motta/Agência Estado |
Como o de agora, que aponta
que o atual ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB) - à frente da pasta desde
2006 - recebeu propina na garagem do ministério em Brasília. Esquema denunciado
à revista Veja, pelo policial militar João Dias Ferreira, preso no ano passado
acusado de fazer parte de um esquema organizado pelo partido comunista para
desviar dinheiro público usando ONGs como fachada, Silva recebeu o dinheiro das
mãos de uma espécie de faz-tudo do esquema, Célio Soares Pereira.
O PM contou à "Veja"
que o esquema pode ter desviado mais de R$ 40 milhões nos últimos oito anos.
"As ONGs, segundo ele, só recebiam os recursos mediante o pagamento de uma
taxa previamente negociada que podia chegar a 20% do valor dos convênios. O
partido indicava desde os fornecedores até pessoas encarregadas de arrumar
notas fiscais frias para justificar despesas fictícias".
No ano passado, a polícia de
Brasília prendeu cinco pessoas acusadas de desviar dinheiro de um programa
criado pelo governo federal para incentivar crianças carentes a praticar
atividades esportivas --o Segundo Tempo. O grupo era acusado de receber
recursos do Ministério do Esporte através de ONGs e embolsar parte do dinheiro.
O policial ainda afirmou que,
na gestão de Agnelo Queiroz no Ministério do Esporte (antecessor de Silva), o
Segundo Tempo já funcionava como fonte do caixa dois do PCdoB - e que o gerente
do esquema era o atual ministro Orlando Silva, então secretário executivo da
pasta.
Será que cairá mais um
ministro - o quinto do governo Dilma?!!
Se a coisa
"engrossar" com a opinião pública, a presidentA demitirá o ministro,
como ela já fez com outros quatros e será mais um escândalo para cair no
esquecimento.
Raramente a imprensa lembra de
um escândalo que deu em nada, que acabou em pizza. Nunca a imprensa age nesses
escândalos com posicionamento de cobrança, de realmente que se faça valer ações
punitivas e não só teatro - e que os recursos desviados voltem aos cofres da
nação.
Seria de bom agrado se a
imprensa, com mais esse escândalo, levantasse o tema da corrupção e marucutais,
envolvendo quatros ministros que foram demitidos no governo Dilma de pouco mais
de 10 meses e que caíram no esquecimento. Esquecimento da própria imprensa.
Texto: Plínio Sgarbi, 16-10-2011
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