Os que trabalham ou conviveram
na área rural certamente já ouviram relatos de bovinos que sumiram e só são
encontrados já mortos, dentro de buracos, quando se vê os urubus sobrevoando o
local. Presenciei, anos atrás, um trator que preparando terras para o plantio,
literalmente afundou ao passar sobre um formigueiro abandonado, o que não
ocorre, por maior que seja a máquina, enquanto o formigueiro é habitado.
Quantas vezes passamos sobre
um formigueiro, sem imaginar que matando as formigas nele existentes, este
poderia afundar e comprometer a estrutura da casa construída ao seu lado ou
sobre ele, ou até mesmo antes que existisse?
Vivemos sem notar milhões de
detalhes da natureza como os formigueiros, ou mesmo a organização destes e das
colméias, que nos fornecem alimentos e remédios – mas também matam -, sem
observar as flores e paisagens, o cuidado dos animais com suas crias, os
movimentos delicados de um pássaro construindo seu ninho, a imediata brotação
das sementes logo após as primeiras chuvas.
Nos mamíferos, o instinto
materno faz com que, imediatamente após o parto, a mãe já lamba sua cria
livrando-a dos restos da placenta e cortando seu cordão umbilical. As crias,
por outro lado, mesmo as que não enxergam como os cães e gatos, por ainda não
terem aberto seus olhos, já se arrastam, enquanto outros como os bezerros, já
ficam de pé, mas todos logo saem em busca das tetas maternas para se
alimentarem, diferente do ser humano, que após o nascimento não sobrevive sem
ser alimentado e cuidado.
Milhares de questionamentos e
observações antes consideradas insignificantes, bobagem ou perda de tempo,
impensáveis para os mais jovens, normalmente só são realizados pelos mais
velhos, experientes, com maturidade, quando dedicamos tempo para admirar a
beleza de tantas diferenças.
Com fotografias tentamos
‘arquivar’ uma cena admirada em determinado local ou momento, mas as imagens
mais belas sempre serão aquelas da natureza, inusitadas, que não possuem formas
ou cores definidas, que não são ou jamais serão, iguais a nenhuma outra, como
uma experiência inesquecível para quem a teve, de despertar com o som de
pássaros livres, cantando, dando boas vindas ao sol.
Os detalhes do nascer ou por
do sol no horizonte, com suas cores e sons totalmente distintos a cada dia, só
são realmente admirados por aqueles que já não possuem mais pressa, que ficam
encantados quando ouvem o canto de um sabiá-laranjeira perdido em uma rua da
cidade do interior e podem se dedicar a observar e ouvi-lo.
São pessoas capazes de
permanecer parados à margem de uma rodovia, aguardando um bando de Quatis que
atravessam a pista e que procuram fotografá-los, para compartilhar aquele
momento com os amigos. Para esses, a pressa já não é importante, pois em tudo
que agora fazem, o que mais interessa é que seja bem feito.
Os que atingem esse estágio da
vida já não passam pelos mais diversos locais sem nada perceber e, muitas
vezes, interrompem o que faziam para poder observar o desabrochar de uma rosa
ou os movimentos de uma plantação de girassóis.
Sabem que quando o sol está
muito alto, os pássaros não voam ou cantam, os animais silenciam na mata, os
peixes sequer buscam as iscas dos pescadores e, por isso, os de cabelos já
brancos ancoram seus barcos sob a sombra de uma árvore, na margem do rio, para
descansar no mais puro e profundo silêncio.
Só os mais maduros entendem que a observação é a única chave capaz de
abrir a porta para as belezas invisíveis aos jovens.
Título, Imagem e Texto: João Bosco Leal
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