Francisco Vianna
É uma questão de
valorização. Após cinco anos de negociações, começou a troca de quase cinco
centenas de prisioneiros palestinos em Israel – cerca da metade dos mais de mil
que serão libertados por Tel Aviv – por apenas um soldado israelense feito
prisioneiro na Faixa de Gaza. Há polêmica e tensão entre os israelenses.
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Os palestinos preparam a festa
da volta. Foto: Reuters
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Num ambiente de tensão, o
governo de Tel Aviv e representantes do grupo terrorista HAMAS da Faixa de Gaza
na Palestina se preparam pela segunda vez na história para uma troca de
prisioneiros que deverá ocorrer hoje (segunda-feira, 17) entre ambos os lados,
pela qual 477 prisioneiros palestinos serão trocados por um único israelense, o
soldado Gilad Shalit, que havia sido
sequestrado em Gaza em 2006.
Para Israel, a polêmica
consiste na libertação de 280 palestinos que tinham sido condenados à prisão
perpétua por estarem envolvidos no planejamento e execução de atentados contra
os judeus, principalmente por parte das famílias que sofreram com tais ataques
e que consideram a decisão do governo injusta e afirmam que Israel está pagando um preço muito alto
pela libertação de apenas um soldado patrício. Para o governo israelense,
no entanto, trata-se apenas de uma questão de valorização, ou seja, para ele,
governo, a liberdade e talvez a vida deste soldado valha muito mais do que os
mais de mil terroristas mantidos presos em Israel. Além do mais, o estado judeu
se livra da grande despesa de manter em cativeiro improdutivo e inútil tal
contingente de prisioneiros.
Todavia, enquanto os cães
ladram a caravana passa e já começaram os preparativos para o traslado, hoje,
dos primeiros 430 palestinos que foram levados ontem de ônibus para a prisão de
Ketziot, perto da fronteira com o Egito. Os demais foram trasladados para a
prisão de Sharon, no centro de Israel. Neste último grupo se encontram 27
mulheres que serão as primeiras a serem libertadas como parte da troca por
Shalit.
Os líderes do grupo terrorista
HAMAS, que “governa” a Faixa de Gaza independentemente da ANP, preparam uma
festa típica de “recepção de heróis” para os prisioneiros libertados no
território: montaram um cenário a céu aberto e as ruas de Gaza estão sendo
decoradas com bandeiras palestinas, pôsteres, e bandeiras do HAMAS.
O primeiro-ministro israelense
Benjamin Netanyahu e o negociador David Meidan chegaram ao Cairo ontem para as
conversações finais com os mediadores egípcios que definirão os últimos
detalhes técnicos da troca. Ehud Barak, o Ministro da Defesa de Israel,
prometeu que haverá "uma recepção discreta e circunscrita ao âmbito da
família em respeito ao solicitado pelo soldado libertado". A troca prevê
que Shalit seja levado hoje para o Egito através da fronteira de Rafah, no
momento em que as 27 prisioneiras sejam libertadas. Uma vez confirmado que o
soldado Shalit está bem e em segurança, os outros 450 presos palestinos serão
entregues aos mediadores.
Nos próximos 12 meses, Israel deverá libertar mais 550 presos
palestinos, e assim chegará ao total de 1027 previstos no acordo entre ambos os
lados. Shalit foi sequestrado em solo israelense próximo à fronteira com
Gaza em junho de 2006 e desde então permanece detido em local ignorado.
O debate aberto interno em
Israel sobre a troca em contraste com a recepção palestina dos presos como
heróis que retornam à Cisjordânia e a Gaza reflete os contrastes a respeito da
troca: os israelenses, apesar de considerarem os prisioneiros como terroristas
de sangue frio, acham que a libertação de 1027 ao longo do próximo ano vale
menos do que a vida e a liberdade de um único judeu. Do outro lado, a
“sociedade palestina” – se é que se pode assim se referir aos ‘palestinos’ –
considera os presos como combatentes da ‘resistência’ islâmica na região.
Há uma torrente de ações
judiciais nos tribunais israelenses, instituídas nos últimos dias por várias famílias,
apelando contra o acordo da troca. A AMALGOR, uma associação de vítimas do
Terrorismo, apresentou duas petições para sustar a troca. Uma denúncia a
desproporção da troca. Outra pede para que se dilate o prazo de 48 horas que
outorga a lei para impugnar a concessão de perdões. Entre os beneficiados por
essa já histórica troca está Walid Anajas, condenado pelo atentado de 2002
contra o Café Moment, em Jerusalém,
pelo qual morreram 12 pessoas, e Mussab Hashlemon, condenado a 17 prisões
perpétuas por enviar dois homens-bomba suicidas se explodirem contra um ônibus
em Bersheeba, que matou 16 civis em 2004.
Noam Shalit, pai do soldado
sequestrado, advertiu que "qualquer atraso na execução da troca pode ser
fatal e causar um dano irreparável” a seu filho. "Caso o acordo por
qualquer motivo não tenha continuidade agora certamente nunca se
concretizará", avisou. A família de Shalit pediu para estar presente na
revisão do Supremo Tribunal de Apelação no julgamento dos recursos apresentados
contra o acordo pelas vítimas do terrorismo e suas famílias. Este tribunal deve
examinar hoje tais apelações contra o acordo e, no máximo, ainda hoje,
deliberar.
Ao libertar 1027 detidos, Israel optou por aceitar tal
desproporcionalidade não apenas como uma demonstração pública de valorização da
vida e da liberdade de um único israelense, mas também para se livrar do ônus
de manter mais de mil palestinos sob sua custódia. Em maio de 1985, o governo israelense já
havia decidido libertar 1150 palestinos em troca de apenas três de seus
militares, o que forneceu a jurisprudência para o acordo atual.
Fontes do Ministério da Defesa em Tel Aviv disseram que o acordo “é definitivo
e nenhuma mudança será aceita".
A
GRANDE DESPROPORÇÃO ESTÁ NA BOA VONTADE DOS JUDEUS FRENTE AO ÓDIO DOS QUE
MANIPULAM UMA POPULAÇÃO IGNORANTE, SEM PÁTRIA E SEM SENTIDO DE NACIONALIDADE E
QUE, POR ISSO MESMO, É USADA COMO BUCHA DE CANHÃO CONTRA ISRAEL. (grifo do
autor)
Título e Texto: Francisco
Vianna, com base na Agência Reuters, 17-10-2011
Grifos: JP
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