João Malheiro
Há dias, poucos dias, num
jantar, um jovem até muito cordial deixou escapar uma inconfidência. Revelou
que havia chegado a vereador da sua terra e que projectava, daqui a duas
legislaturas, ocupar um lugar de deputado. Há dias, ainda poucos dias, noutro
jantar, um jovem não menos cordial também deixou escapar uma inconfidência.
Revelou que havia chegado ao Paços de Ferreira e que projectava, daqui a dois
anos, ocupar um lugar no plantel do Benfica, do FC Porto ou do Sporting.
A coisa tem tudo de
semelhante. Tem, mas não tem. Cordialidade à parte e sinceridade ao pé,
protagonizadas pelos dois meus interlocutores, bem que se pode falar de coisas
distintas. Dessa coisa do carreirismo e da coisa da carreira. Se o carreirismo
é reprovável, a carreira é louvável. Ambas expressões de ambição pessoal, o
carreirismo é feio, a carreira até pode e deve ser bonita.
Neste Outubro em que o tempo
atmosférico é generoso e o tempo social é cruel, vale a pena tentar perceber o
que alicia, nos últimos anos, o grosso da classe política. O apego à causa
pública, ao interesse público? Definitivamente, não é. Antes, o apego à causa
pessoal e às causas de padrinhos e compadres de circunstância, quer conhecidos
quer anónimos.
Antes era honroso fazer
política, hoje é horroroso fazer política. Claro que há excepções, sobretudo no
limite da coisa, na extremidade da coisa, na antítese da coisa. A coisa é o
bloco central dos interesses. Por isso é que o líder máximo da JSD pede,
folcloricamente, responsabilidades criminais para Sócrates. Por isso é que o
líder máximo da JS pede, folcloricamente, responsabilidades criminais para
Alberto João Jardim.
«A história repete-se, a
primeira vez como tragédia, a segunda como farsa», sustentava Karl Marx. Pior é
que a farsa já vai no enésimo acto. E outra coisa: fazer carreira na bola não é
inequivocamente mais digno do que fazer carreira na política?
Título e Texto: João Malheiro,
Destak, 16-10-2011
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