quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bom dia, Portugal! Bom trabalho!

António Ribeiro Ferreira
Bom dia aos que hoje vão ter imensas dificuldades em chegar aos seus locais de trabalho. Bom dia aos que não podem trabalhar porque não têm emprego. Bom dia aos que não têm emprego há bastante tempo e já não têm qualquer apoio do Estado. Bom dia aos que desistiram de procurar trabalho em Portugal e partiram para outras paragens. Bom dia aos funcionários públicos com emprego garantido que hoje vão trabalhar. Bom dia a todos. É evidente que o direito à greve não se discute. Como não se deve discutir o direito ao trabalho. O que se deve discutir é a forma como uns tantos tentam impor a sua vontade a uma larga maioria. Sim, porque hoje, 24 de Novembro, milhões de portugueses vão trabalhar contra ventos e marés. Milhões de portugueses vão levantar-se mais cedo para conseguir chegar ao trabalho a tempo e horas. Milhões de portugueses, sem trabalho garantido, sem muitos direitos, sujeitos à evolução do mercado e à situação financeira das suas empresas, vão hoje trabalhar sem saberem o que será o seu futuro. Quem hoje não vai trabalhar por vontade própria tem a sua vida segura nos próximos tempos. São empregados do Estado protegidos constitucionalmente do desemprego. Com direitos adquiridos à custa de muitos impostos e muitas cedências de gestores incompetentes e políticos inábeis e medrosos. A esquerda apoia a greve com entusiasmo. Os sindicatos fazem desta greve geral a sua prova de vida. Vão apresentar mais logo números fantásticos de adesão. Escolas fechadas, aviões em terra, comboios nas estações, metro parado, autocarros a meio gás, tribunais, com ou sem arguidos detidos, paralisados, hospitais sem consultas e poucas cirurgias, centros de saúde às moscas, repartições de Finanças fechadas, ministérios com muita pouca gente. Enfim, o rol já está feito e há muito que CGTP e UGT têm o roteiro estabelecido. O governo, as administrações das empresas do Estado e de todos os serviços públicos devem, desta feita, evitar entrar na habitual guerra de números. Uma guerra estúpida que só alimenta comentários estúpidos. Seria bom que desta vez o governo desse por antecipação a taça aos sindicatos. Ganharam, pararam uma parte substancial do Estado, amanhã pela manhã volta tudo ao normal, como se nada de importante tivesse acontecido. O que importa, amanhã pela manhã, é que o governo cumpra o que acordou com a troika e consiga fazer uma verdadeira e profunda reforma do Estado, de alto a baixo, sem complexos nem pensos rápidos. Hoje, os que merecem um bom dia estarão nos seus locais de trabalho a fazer pela sua vida, pela vida das suas empresas e pela vida do seu pobre e falido país. Hoje, os que merecem um bom dia estão a justificar o seu salário, já reduzido ou em vias de ser amputado de uma fatia mais ou menos significativa, que, entre outras coisas fundamentais, serve para pagar os impostos ao Estado e, logicamente, os salários de muitos que hoje não trabalham para manterem direitos e privilégios que mais ninguém tem nesta miserável sociedade portuguesa. Bom dia, Portugal. Bom trabalho para os que ainda podem trabalhar.
António Ribeiro Ferreira, jornal "i", 24-11-2011

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