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Foto: DR |
António Ribeiro Ferreira
A greve parcial do sector
público já lá vai e, como era certo e sabido, não mudou coisa nenhuma. Como foi
uma enorme fracasso, importa agora tentar prolongar a discussão sobre questões
acessórias, nomedamente sobre as cacetadas, poucas, entre polícias e um pequeno
grupo de manifestantes nas escadarias do parlamento. Percebe-se evidentemente
que a esquerda e os sindicatos não queiram discutir a sério as adesões à greve,
tanto no sector público como no privado. Não se percebe tão bem que o governo
tenha andado todo o dia embrulhado em números e não apresente, preto no branco,
um balanço sério da matéria. É uma informação a que os portugueses têm direito
e uma forma de pôr um ponto final na propaganda sindical. Para quem imagina que
será uma tarefa impossível, importa lembrar que é dever de todos os serviços
públicos centrais, regionais e locais descontar um dia no salário de Novembro a
todos os grevistas. Acabada a jornada de luta, com a fumaça das cacetadas
levadas pelo vento de Outono, importa, isso sim, reflectir sobre a lei da
greve, aprovada há muitos anos, e que para a esquerda e os sindicatos constitui
uma espécie de bíblia sagrada que não se pode discutir ou pôr em causa em
circunstância alguma. Ora bem, tabus e sacrilégios à parte, a verdade é que os piquetes
de greve, previstos no diploma e embrulhados num amplo manto diáfano de
fantasia, são verdadeiros atentados à liberdade e aos direitos de quem
legitimamente quer trabalhar em dias de greve. Claro que os sindicalistas e a
esquerda em geral odeia quem não faz greve. Claro que os sindicalistas
profissionais e a esquerda pretensamente defensora de amplas liberdades só as
aceita e respeita quando coincidem com os seus interesses e o seu modo de ver o
mundo. E quem não seguir a cartilha é imediatamente rotulado de fascista, umas
vezes, reaccionário outras, e fura-greves quase sempre, como o fez o socialista
e profissional dos sindicatos João Proença ao referir-se a todos os portugueses
com trabalho que não fizeram greve, ou seja, a grande maioria da população
activa. Acontece que, para azar dos defensores das amplas liberdades, a
legitimidade de quem faz greve é exactamente a mesma de quem não faz. Por isso
mesmo, a existência de piquetes de greve é um atentado a essa legitimidade e
liberdade. Como se viu no dia da greve parcial do sector público, os tais
piquetes só servem para intimidar, ameaçar, insultar, agredir e tentar por
todos os meios evitar que as pessoas trabalhem. No século xxi, numa sociedade
desenvolvida e num Estado de direito democrático, estas aberrações devem, pura
e simplesmente, ser extintas e fortemente reprimidas. E como estão inscritas na
lei importa que o governo e a maioria que o suporta não tenham medo de tabus,
dogmas e outros complexos de esquerda na hora de acabar com este atentado à
liberdade. Se tiverem coragem para pôr as mãos nessa massa viscosa, talvez
encontrem pelo caminho outras pérolas que devem ser rapidamente removidas para
o caixote do lixo. As crises não têm só aspectos negativos. Às vezes também
servem para drenar e secar muitos pântanos.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, editorial “i”, 26-11-2011
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