sábado, 26 de novembro de 2011

Já é tempo de mudar a obsoleta lei da greve


Foto: DR

António Ribeiro Ferreira
A greve parcial do sector público já lá vai e, como era certo e sabido, não mudou coisa nenhuma. Como foi uma enorme fracasso, importa agora tentar prolongar a discussão sobre questões acessórias, nomedamente sobre as cacetadas, poucas, entre polícias e um pequeno grupo de manifestantes nas escadarias do parlamento. Percebe-se evidentemente que a esquerda e os sindicatos não queiram discutir a sério as adesões à greve, tanto no sector público como no privado. Não se percebe tão bem que o governo tenha andado todo o dia embrulhado em números e não apresente, preto no branco, um balanço sério da matéria. É uma informação a que os portugueses têm direito e uma forma de pôr um ponto final na propaganda sindical. Para quem imagina que será uma tarefa impossível, importa lembrar que é dever de todos os serviços públicos centrais, regionais e locais descontar um dia no salário de Novembro a todos os grevistas. Acabada a jornada de luta, com a fumaça das cacetadas levadas pelo vento de Outono, importa, isso sim, reflectir sobre a lei da greve, aprovada há muitos anos, e que para a esquerda e os sindicatos constitui uma espécie de bíblia sagrada que não se pode discutir ou pôr em causa em circunstância alguma. Ora bem, tabus e sacrilégios à parte, a verdade é que os piquetes de greve, previstos no diploma e embrulhados num amplo manto diáfano de fantasia, são verdadeiros atentados à liberdade e aos direitos de quem legitimamente quer trabalhar em dias de greve. Claro que os sindicalistas e a esquerda em geral odeia quem não faz greve. Claro que os sindicalistas profissionais e a esquerda pretensamente defensora de amplas liberdades só as aceita e respeita quando coincidem com os seus interesses e o seu modo de ver o mundo. E quem não seguir a cartilha é imediatamente rotulado de fascista, umas vezes, reaccionário outras, e fura-greves quase sempre, como o fez o socialista e profissional dos sindicatos João Proença ao referir-se a todos os portugueses com trabalho que não fizeram greve, ou seja, a grande maioria da população activa. Acontece que, para azar dos defensores das amplas liberdades, a legitimidade de quem faz greve é exactamente a mesma de quem não faz. Por isso mesmo, a existência de piquetes de greve é um atentado a essa legitimidade e liberdade. Como se viu no dia da greve parcial do sector público, os tais piquetes só servem para intimidar, ameaçar, insultar, agredir e tentar por todos os meios evitar que as pessoas trabalhem. No século xxi, numa sociedade desenvolvida e num Estado de direito democrático, estas aberrações devem, pura e simplesmente, ser extintas e fortemente reprimidas. E como estão inscritas na lei importa que o governo e a maioria que o suporta não tenham medo de tabus, dogmas e outros complexos de esquerda na hora de acabar com este atentado à liberdade. Se tiverem coragem para pôr as mãos nessa massa viscosa, talvez encontrem pelo caminho outras pérolas que devem ser rapidamente removidas para o caixote do lixo. As crises não têm só aspectos negativos. Às vezes também servem para drenar e secar muitos pântanos.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, editorial “i”, 26-11-2011

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