terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dilma Rousseff: The anointed

A UNGIDA
Um Repórter à Solta (avant-première)
Pode uma ex-radical marxista conduzir o Brasil em seu ‘boom’ econômico?
Por Nicholas Lemann – Tradução de FRANCISCO VIANNA
(A ser publicado em 5 de dezembro de 2011 pela revista americana “The New Yorker’)
UM REPÓRTER À SOLTA escreveu sobre a presidente brasileira Dilma Rousseff.

Até hoje, o Brasil tem sido um dos países mais desequilibrados economica e educacionalmente do mundo. No entanto, hoje, sua economia está crescendo muito mais rapidamente do que a dos EUA.
Alega-se que vinte e oito milhões de brasileiros saíram da situação de pobreza severa na última década, embora esse número seja fruto de análise que leva em conta ganhos mensais irreais com relaçâo à caracterização de classes sociais no país. O país tem conseguido manter um orçamento não muito desequilibrado, uma dívida nacional ainda inferior ao seu PIB anual, baixa inflação, e um desemprego em queda lenta mas progressiva. O país é caoticamente democrático e tem uma imprensa ainda com certo grau de liberdade, embora o governo esteja solidificando algo oposto a uma democracia meritocrática, onde o principal diploma é a carteirinha do partido dominante: o PT.
O Brasil opera por modos e maneiras que o mundo está condicionado a pensar serem incompatíveis com uma sociedade livre e bem-sucedida. Não é justo que o Brasil seja governado por indesculpáveis ex-revolucionários marxistas, muitos dos quais – incluindo a Presidente – estiveram presos por períodos variáveis como terroristas ou implicados em diversos tipos de crimes contra pessoas e contra instituições, inclusive as Forças Armadas.
O governo central concentra muito mais poder e capacidade de intromissão na vida das pessoas do que jamais ocorreu, por exemplo, com Washington. É também extremamente mais corrupto e procura, ultimamente, institucionalizar tanto essa corrupção como a sua impunidade. O crime é alto, as escolas são fracas, as estradas são ruins, excetuando-se apenas as do sudeste mais desenvolvido por terem sua manutenção terceirizada e onde os usuários pagam os mais caros pedágios do universo. Seus portos são amplamente disfuncionais. E ainda, entre as maiores potências econômicas do mundo, o Brasil conseguiu montar um raro tripé: alto crescimento, liberdade política, e agravamento das disparidades sociais. A Presidente Dilma Rousseff é uma presença forçada, eleita graças à popularidade de seu padrinho Lula da Silva. Como ex-membro da Vanguarda Revolucionária Armada Palmares, ela passou algum tempo na prisão e alega ter sido vítima de tortura por parte do regime militar.

Sua primeira iniciativa governamental, que chamou de ‘Brasil Sem Miséria’, lançada em junho último, se propõe a ser um programa antipobreza 'devastadoramente' abrangente. Os EUA parecem constar com frequência das opiniões da Sra. Rousseff como exemplo de como não se deve lidar com a crise econômica global. A política no Brasil tem sido uma atividade caótica e imoral herdada do seu padrinho e predecessor Luis Inácio Lula da Silva, conhecido dos brasileiros e do resto do mundo simplesmente como ‘Lula’. Durante cinco dos oito anos de sua administração, Dilma Roussef serviu como Ministra da Casa Civil. Lula a ungiu como sua sucessora em 2010.
O Brasil estará – a não ser que surjam condições impeditivas – sediando a Copa do Mundo da FIFA, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. Rousseff, hoje com 63 anos, estava na universidade em 1964 quando eclodiu o contragolpe militar no país, ao qual se sucedeu um regime autoritário direcionado aos marxistas e terroristas relacionados, mas que nunca se caracterizou propriamente como uma ditadura, uma vez que as pessoas praticamente não tiveram suas liberdades individuais restringidas ou foram forçadas a fazer o que não queriam. Bem diferente da maioria das ditaduras, o regime militar só matou quando houve confronto direto dos guerrilheiros - que vinham matando muito - com os militares. Casos de execução por policiais e grupos correlatos foram raros. Dilma Roussef, que era marxista radical acabou presa, mas sua vida nunca esteve ameaçada, como a da maioria dos seus colegas militantes que buscaram refúgio político na América do Sul, no Canadá, e na Europa.
No final da década de 1960, ela se casou com outro militante, Cláudio Galeno Linhares. Viviam escondidos, armazenando e transportando estoques de armas, bombas, e dinheiro roubado, planejando e executando “ações”. Mais tarde separou-se de Galeno e amasiou-se com Carlos Araújo, outro militante proeminente. No início da década de 1970, os militares capturaram-na e ela passou três anos na prisão, onde alega ter sido submetida a torturas extensas. Insiste em que nunca esteve pessoalmente envolvida em ações violentas durante seus dias de militância. Poucos acreditam nisso...
Após ter sido solta, ela alega ter se formado em economia e a partir de então ter trabalhado como uma formadora de opinião e assessoria econômica. Ingressou no PDT de Leonel Brizola e logo começou a trabalhar em cargos governamentais em Porto Alegre. Após ter conhecido Lula e ter se impressionado muito com ele, este a nomeou como Secretária de Energia de seu governo.
São inúmeros os escândalos de corrupção que não param de se suceder em sua administração. Diversos de seus ministros já foram afastados por envolvimentos em atos ilícitos e em corrupção ativa. Pouca gente crê que Dilma Rousseff seja corrupta, mas ela tem trabalhado por anos a fio com quase todos os que foram afastados por corrupção e, assim, não pode alegar que ‘não sabia de nada’, como fazia o seu antecessor quando um escândalo vinha à tona. É bem provável que ela tenha tomado parte da maioria deles, mesmo que por omissão, em função dos cargos que ocupou. Faz parte ainda do Conselho da Petrobrás, onde é remunerada com cerca de 80 mil reais mensais, apenas para fazer número no órgão diretor da maior estatal brasileira. Não é a toa que a carga tributária do brasileiro está próxima a 40% do PIB e o país é um dos que têm os piores índices de qualificação e eficiência de seus serviços públicos.
Texto: Nicholas Lemann, New Yorker; tradução e formatação: Francisco Vianna, 29-11-2011

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