Vera Paiva, filha do Deputado Rubens
Paiva, desaparecido em 1971, critica o governo por não ter deixado que parentes
de vítimas da repressão se manifestassem durante a cerimônia em que Dilma
sancionou a criação da Comissão da Verdade, sob a alegação de que a fala poderia ser considerada
uma afronta aos militares. Vera critica
dizendo que os militares deveriam também falar (e concordo!) pois iriam dizer que
"Defender a ditadura? A tortura?". Acho que muito mais do que isso...
Creio os militares poderiam bem explicar que primeiramente eles impediram que
Jango implantasse em 1964 um regime comunista no Brasil nos moldes de Cuba. Que
em seguida constituiram um governo, e contra este governo agiam os terroristas
com ações mortíferas... e por isso foram reprimidos. Que militares e civis
também perderam a vida em ações realizadas por guerrilheiros e terroristas.
Ah... se eles pudessem ter falado, diriam mais ou menos isso. Agora me
pergunto: cria-se uma Comissão da Verdade e impedem-se manifestações verbais?
Para que militares não pudessem falar, impediram que falassem os familiares de
vítimas? Que raio de Comissão da Verdade é esta? Ficou bem claro que só
interessa fazer valer uma versão dos fatos...
Mara Montezuma Assaf
Pelo viés ideológico em que
prevalece a ‘memória seletiva’ – verifica- se nos países do Cone Sul - que quem
pegou em armas, assaltou, sequestrou, roubou, assassinou, vitimou civis
inocentes, alheios à ideologia revolucionária – foi reconhecido pelo poder
públicocomo “vítima” – recebe polpudas indenizações, pensões e aposentadorias,
enquanto as VERDADEIRAS VÍTIMAS DA SUBVERSÃO ARMADA – foram esquecidas pelo
mesmo poder público, ou seja, os SUBVERSIVOS enriquecem a custa do dinheiro
público e as VERDADEIRAS VÍTIMAS permanecem no limbo jurídico, inclusive como
ser humano, o que significa negação da própria pessoa humana.
O fato é que a revisão crítica
do passado – não é incumbência de políticos ou do eventual governo de plantão,
mas de historiadores, investigadores e estudiosos que examinando as ocorrências
passadas em seu devido contexto, estabelecem as prioridades e correlações
indispensáveis, avaliando as informações necessárias, considerando o seu devido
contexto, e assim ajudam a discernir e interpretar o passado, com objetividade
e imparcialidade; condená-lo, aprová-lo ou até demonstrar admiração pelos fatos
e personagens que o conformaram.
Esta revisão para ser eficaz,
deve ser individual, livre, independente e pluralista. Numa sociedade
democrática, coexistem diferentes versões e interpretações dos eventos
históricos. Esta diversidade é a melhor maneira de abordagem para deslindar a
complexidade dos fatos e buscar a verdade histórica. O domínio ‘hegemônico’
nesse caso revela tão só sua face perversa.
Tal abordagem não exclui a
crítica, que é a única que a torna possível e justa.
Porém, quando a verdade
histórica torna-se monopólio do poder político, como ocorre nos governos de
viés totalitário a possibilidade de conhecer a verdade é interditada, pois é
substituída pelas mentiras que o governante e a facção dominante impõem
mediante intensa propaganda midiática ideológica, para distrair e auto
justificar suas próprias mazelas gestadas na ineficiência, ineficácia e
incompetência na governança pública (vide o discurso da presidente Dilma,
alegando que lutaram pela ‘democracia’ e pela ‘liberdade’, quando da assinatura
da lei da verdade sabida, digo Comissão da Verdade).
É de fundamental importância
que os cidadãos numa sociedade democrática tenham consciência crítica e
mantenham viva a memória do passado, do bem e do mal que herdaram,
conscientemente e com determinação para enfrentar o futuro e não para
perseverar no erro. O passado não deve ser manipulado por razões políticas nem
ser convertido em jogo de malabarismos ideológicos conformados na luta pelo poder.
Não se deve confundir memória
(seletiva) com História, constituindo-se em imperativo ético-jurídico a
advertência de que é bom e saudável para uma sociedade que os políticos não se
intrometam no domínio dos historiadores, justamente para evitar a nefastacontaminação
político-ideológica.
De modo que estudar, conhecer,
interpretar e compreender o passado é uma tarefa que exige rigor intelectual,
paciência, integridade, probidade e talento, com um esforço sustentado ao longo
do tempo por gerações de pesquisadores, de cujo escrutínio surge uma História
que nunca para, em que os descobrimentos, conclusões e análises enriquecem e
corrigem nuances, às vezes até deforma dramática, mas de acordo com a verdade.
Todos os países no curso de
sua história têm eventos censuráveis quando examinado seu passado. Em todos
eles há genealogia de vítimas, cuja carga não pode ser eliminada por uma lei,
decreto ou moção parlamentar, mas por uma consciência da realidade e
instituições, do sistema de valores, cultura e de uma conduta cidadã
(comportamento cívico) que sejam, em si mesmos, uma correção permanente e de
superação de eventual legado trágico.
Esse é o papel dos museus da
memória não dos museus ideológicos, que buscam tão-somente o revanchismo, o
ódio, o ressentimento e o masoquismo, que muitas vezes resulta em uma forma
distorcida de prazer para alguns políticos e ideólogos pela contemplação dos
horrores do passado e tentativas explorá-los em benefício pessoal, ao invés de
educar as futuras geraçõespara que todos os que foram oprimidos, humilhados ou
vitimados pela violência injusta sirvam de exemplo histórico para que não se
repitam no futuro.
As nuances históricas não são
desculpas, mas os fatores a levar em conta para compreender porque as coisas
aconteceram, como ocorreram e depreciá-los ou prescindir deles pode significar
às vezes seguir matando os mortos e aqueles que aparentemente se quer
ressuscitar.
Não há melhor tributo às
vítimas da intolerância, do fanatismo, do preconceito ou da estupidez (des)
humana do que recordá-los, aprender com eles e, portanto, incutir na sociedade
a cultura de tolerância, de respeito à diversidade, ao pluralismo político,
religioso e cultural.
Rivadávia Rosa
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