Mr X
Não tem solução; às vezes leio
artigos celebrando uma certa "nova era progressista", e sinto uma infinita tristeza, pois vejo o futuro
repetindo o passado, vejo mais uma geração que se perde em estúpidas ilusões.
Ontem o comunismo, hoje o progressismo multicultural, amanhã? -- quem sabe.
Talvez o eco-nazismo, talvez o fundamentalismo secular (já tem aqui uma
jornalista brasileira reclamando de "perseguição
aos ateus" por ter sido convidada a ir à igreja pelo taxista
evangélico...).
É incrível o número de pessoas
que conheço cujas idéias políticas se resumem a: "Governo é bom,
corporações são más." Ou: "Vamos acabar com o capitalismo, não está
dando certo." (Sobre isso, tem um
texto interessante do Pedro Sette Câmara). Será que essas pessoas
realmente acham que mais governo é sempre melhor? Mesmo tendo acesso a
hospitais públicos, escolas públicas, repartições públicas? Chega a ser
comovedor ver pessoas achando que até o problema da corrupção possa ser
resolvido por novas instituições governamentais, como se "mais
governo" não significasse exatamente "mais corrupção".
O mais incrível fato do
Comunismo Soviético não foi o descontentamento e desilusão que trouxe, mas a
grande quantidade de indivíduos que continuaram fiéis até o fim, mesmo quando
foram traídos pelos próprios companheiros. Até o momento em que foram
executados pela KGB ou enviados para a Sibéria, continuaram ali, fiéis membros
do Partidão, acreditando no "novo homem".
Pavel Florensky, filósofo,
cientista e inventor russo, trabalhou por décadas para o Estado Soviético. Até
que escreveu uma monografia sobre a teoria da relatividade, e foi preso por
"publicar textos contra o sistema soviético". Passou dez anos na
Sibéria. Depois, foi condenado à morte e executado a mando de Stalin em 1937.
David Riazanov, escritor e
professor russo. Estabeleceu a Academia Comunista e o Instituto Marx-Engels.
Passou trinta anos da sua vida publicando as obras completas de Marx e Engels
em russo e realizando estudos sobre seus ídolos. Foi executado em 1938, acusado
de uma obscura conspiração trotskista.
Vladimir Mayakóvsky. O
revolucionário poeta, figura icônica dos primeiros anos da União Soviética. Até
poco tempo antes de sua morte ainda produzia textos e cartazes para o sistema.
Depois, passou a ser investigado. Suicidou-se, embora haja
dúvidas se tenha sido realmente um suicídio.
E no entanto, e no entanto...
Mesmo hoje, leio em uma revista de esquerda contemporânea um texto dizendo que Stalin não era tão ruim
assim, afinal, matou milhões, "mas o fez porque acreditava na justiça
social e na igualdade." Lembrem sempre disso, pessoal: para um
esquerdista, a "justiça social" é justificativa suficiente para o
assassinato de milhões (bilhões?).
O Comunismo talvez tenha sido
a mais incrível ilusão de massa de todos os tempos. Mas, que digo? Não vivemos
hoje em tempos de equivalente ilusão, a ideologia do progressismo multicultural
multireligioso e multisexual? E não terminará essa utopia também em desgraça?
Já disse alguém: todas as
Revoluções devoram seus filhos. A começar pela Francesa, com Danton e
Robespierre. Trotsky também terminou com uma picareta enterrada no crânio.
Chega a ser quase surpreendente que a revolução americana não tenha terminado a
tiros entre Franklin e Washington, mas bem sei que foi algo diferente... O
que acontecerá com os líderes da Nova Era Progressista Global? Também um dia,
possivelmente, se matarão entre si.
Certo estava Simon Bolívar
antes de virar ícone chavista: "fazer revolução é arar o mar". (Acho
que foi também ele quem disse que o melhor a fazer na América Latina é
emigrar).
É triste, e talvez inevitável. A humanidade caminha em círculos. Assim como as prévias gerações, teremos também nós que passar por revolução, guerra, fome, desgraça e ruína. E depois de novo. E de novo. Será que estou ficando velho e cínico? É bem possível...
Uma vez, quando era jovem, disseram-me que eu não tinha ideais. Chorei profundamente: era verdade. Jamais tive. Jamais terei. Se hoje tivesse vinte anos, talvez fosse para um desses acampamentos do "Occupy" com a única intenção de pegar algumas gatinhas, mas jamais com a intenção de achar que estava fazendo alguma coisa pelo planeta...
É triste, e talvez inevitável. A humanidade caminha em círculos. Assim como as prévias gerações, teremos também nós que passar por revolução, guerra, fome, desgraça e ruína. E depois de novo. E de novo. Será que estou ficando velho e cínico? É bem possível...
Uma vez, quando era jovem, disseram-me que eu não tinha ideais. Chorei profundamente: era verdade. Jamais tive. Jamais terei. Se hoje tivesse vinte anos, talvez fosse para um desses acampamentos do "Occupy" com a única intenção de pegar algumas gatinhas, mas jamais com a intenção de achar que estava fazendo alguma coisa pelo planeta...
Agora os novos idealistas
sonham com um mundo sem fronteiras, sem pobreza, sem desigualdade e movido a
combustíveis recicláveis. Dará certo? Bem, de boas intenções... Você sabe
o resto!
Título e Texto: Mr. X,
17-11-2011
Colaboração: Gracialavida
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