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Foto: Agência Lusa |
Rui Costa Pinto
Este não é o momento para a
utopia. Nas últimas legislativas, os portugueses mostraram que estão fartos de
Calipsos a prometer a imortalidade do Estado social
A greve geral e alguns
excessos que marcaram o dia de todos os protestos eram de esperar. As
manifestações dos desempregados, dos pensionistas condenados a viver com
reformas de miséria e de uma parte da população activa cada vez mais exangue
traduzem a brutalidade dos sacrifícios.
Enquanto o país definha, e é
preciso dar tempo ao tempo para começar a colher os frutos dos cortes
absolutamente necessários, o governo só tem um caminho: dar aos portugueses o
retrato fiel da situação de emergência sem paternalismos.
Foi preciso coragem política
para afirmar que vamos ser obrigados a empobrecer. Mas agora é preciso mais do
que o óbvio. É fundamental afirmar, alto e bom som, que os 78 mil milhões de
euros emprestados pela troika a Portugal não são suficientes para tirar o país
do buraco e relançar a economia ao mesmo tempo.
É preciso elencar com
transparência o calendário da recuperação. E revelar que o caminho que está a
ser feito é apenas uma etapa que visa reconquistar, em primeiro lugar, a
confiança dos credores, de forma a podermos regressar ao financiamento nos
mercados internacionais em 2013 ou a voltar a ter de pedir, em último caso, um
novo resgate à União Europeia, ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário
Internacional.
As divergências entre os 27, o
risco de implosão da zona euro e a dimensão da recessão que se aproxima, cá
dentro e lá fora, são factores de risco que obrigam o governo a um discurso sem
meias verdades. Só assim pode afastar o risco de vir a ser acusado de defraudar
as expectativas de quem, por ingenuidade ou ignorância, acredita que os actuais
sacrifícios são suficientes para ultrapassar a crise.
A recente subida dos juros da
colocação da dívida e a decisão da Fitch de baixar o rating da República para
“lixo” é o último alerta dos mercados. A mínima dissonância entre o discurso
governamental e a percepção da realidade das contas públicas pode dar origem a
uma crise de desconfiança que pode arrasar o caminho percorrido.
Passos Coelho não tem margem
para errar, como o próprio sustentou no discurso de tomada de posse do governo,
em 21 de Junho passado. Ultrapassada a barreira da aprovação do Orçamento para
2012, que representa o trabalho de casa em dia, todas as atenções têm de estar
concentradas na execução orçamental, sem perder de vista a excepcionalidade dos
casos sociais extremos, esperando que a União Europeia chegue a um compromisso
entre mais disciplina e rigor orçamental e a aprovação dos eurobonds.
A verdade sobre a situação do
país, nua e crua, é a única resposta que Passos Coelho pode dar a quem ajudou a
enterrar o país, com silêncios e omissões, mais e mais obras faraónicas e
negociatas do Estado, entre os quais se encontram aqueles que não hesitaram em
cortar direitos adquiridos para alimentar vários desvarios estatais, e que agora
andam embalados em discursos florentinos, manifestos estafados e demais
promessas enganosas.
Este não é o momento para a
utopia. Nas últimas legislativas, os portugueses mostraram que estão fartos de
Calipsos a prometer a imortalidade do Estado social. Enquanto não existirem
fumos de corrupção ao mais alto nível do Estado e nas privatizações que se
avizinham a passos largos, o governo PSD/CDS-PP tem a obrigação de assumir um
rumo de verdade, não tem de temer a impopularidade nem o futuro, por mais difícil
e exigente que possa vir a ser.
Os portugueses estão
preparados para enfrentar o pior, só não estão disponíveis para mais mentiras e
ilusões.
Título e Texto: Rui Costa
Pinto, jornal “i”, 26-11-2011
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