Francisco Vianna
Com todo o respeito à crença e
às convicções alheias, precisamos ter em mente que a liberdade individual é o
valor civilizacional mais importante a ser respeitado e consagrado numa
sociedade livre e soberana. Ela se refere não ao fato de as pessoas saírem
fazendo o que lhes dá na telha, mesmo porque a liberdade de cada um é
naturalmente limitada pela liberdade dos demais, mas a perfeita compreensão de
que os direitos provêm do cumprimento dos deveres e obrigações que os
consubstanciam.
No entanto, a estrutura da
sociedade tem que garantir a criação de oportunidades para que as pessoas
possam se preparar para lutar pela vida e vencer, na medida em que isso,
‘vencer na vida’, não significa exatamente ficar rico, mas realizar algo de
construtivo, de participativo, no desenvolvimento e na manutenção da sociedade
a que pertencem, algo que possa ser chamado de uma carreira de sucesso
associada à probidade e a retidão de caráter.
Óbvia e infelizmente, não são
todas as pessoas que chegam a tal resultado, mas é preponderante que isso não ocorra
por falta de oportunidades geradas pelo próprio sistema social em que elas
vivem.
Assim sendo, o problema da
sociedade não é o rico, ou aquele que cresce em família bem estruturada, capaz
de lhe transmitir uma boa educação e uma escolaridade mais intensa e de melhor
qualidade para a consecução do objetivo maior de transformá-lo num cidadão
produtivo, participativo e consciente do exercício dessa cidadania.
O problema consiste nas
pessoas que crescem fora dessas condições ideais, ou seja, aquelas que vivem
nos chamados “bolsões de pobreza e ignorância” (porque aquela é produto desta),
e onde a sociedade – através de grupos, empresas, ONGs e até do organismo
estatal – deve garantir a criação de oportunidades que realmente irão modificar
seu triste status.
Também é preciso compreender
que essa dita ‘ação da sociedade’, seja por que veículo for, não pode se
concretizar apenas pela mera distribuição de recursos financeiros e quaisquer
outras benesses que não exijam uma contrapartida de resultados concretos e bem
caracterizados dentro de seus objetivos sociais.
Todo o esforço despendido e
investido na geração dessas oportunidades tem necessariamente que produzir os
respectivos resultados sociais, ou tudo terá sido feito em vão e as
oportunidades desperdiçadas. Isso quer dizer, basicamente, que as chamadas
“bolsas” têm que estar atreladas a metas e resultados sociais a que se propõem
e não significar apenas um instrumento populista e demagógico de obtenção de
popularidade e de compra de votos a “preço módico” com o dinheiro público pelos
políticos da vez no poder.
A solução do problema da
melhoria social está na preparação e formação de uma cidadania de melhor
qualidade, não apenas dentro das famílias mais abastadas e bem-educadas, mas
também e principalmente, entre as gentes que não estão em tais situações. Ou
seja, a sociedade deve usar todos os mecanismos e veículos que dispõe para
criar educação e ensino eficaz – coisas que são díspares, embora complementares
– para essas pessoas do povo, criando para elas as oportunidades para que
possam ‘vencer na vida’, e não apenas garantir o recebimento de esmolas que as
tornarão dependentes delas e totalmente improdutivas.
Para que isso ocorra, não se
pode contar unicamente com o Estado Central Nacional, mas, principalmente, com
os Estados Municipal e Estadual. Quanto mais ampla é a instância de governo,
mais incompetente, corrupta e mal-intencionada ela tende a ser.
Assim sendo, é extremamente contraproducente
a centralização política e econômica a que está sujeita a nossa república, pela
qual cerca de 70% de toda a arrecadação tributária vai para Brasília e mal
retorna aos municípios em conta-gotas, sendo que o grosso desses recursos se
esvai pelos ralos da corrupção, do desperdício, da malversação, do
enriquecimento ilícito, e de uma série de mazelas oriundas da incompetência e
da má-fé do ‘estado-empresário’ e do capitalismo estatal direcionado em
beneficiar, acima de tudo, o politiburo governante, cujo cunho socialista acaba
desenvolvendo uma burguesia restrita e parasitária empenhada em viver
nababescamente a custa do esforço nacional.
O país precisa de gente que
gere renda e não apenas de gente que a consuma. A chamada concentração de renda
resulta exatamente desse desequilíbrio entre o pequeno número de pessoas que
geram mais renda do que a consomem e o grande número dos que a consomem mais do
que geram e, por isso mesmo, tentam viver da renda produzida pelos primeiros.
A solução, pois, é educar e
ensinar as pessoas a produzir mais do que consumir a riqueza que geram e,
quando isso ocorrer, naturalmente haverá uma grande desconcentração de renda e
uma prosperidade muito maior de toda a sociedade.
Não se pode lutar contra a
pobreza criando leis que punam aqueles que geram mais riqueza do que consomem.
O resultado será apenas a distribuição igualitária da pobreza e da miséria, em
benefício apenas da burguesia restrita do politiburo socialista no poder.
Isso não ocorre apenas no
Brasil, mas em todo o mundo. A segunda metade do século XX mostra claramente
essa preciosa lição de sociologia (política e econômica) que nos ensina o quão
são errôneos e distorcidos todos, ou quase todos, os sistemas “socialistas” até
hoje experimentados pelas sociedades humanas.
Mesmo assim, não faltam os que
foram incapazes de aprender essa lição básica da História humana e continuam a
pregar que a liberdade individual deva ser cerceada ao máximo e a riqueza ser
amplamente apropriada pelo estado construtivista e distributivista.
Em nenhum lugar do mundo o
socialismo produziu nada além “gigantes militares com pés de barro” (pois a
nação só é verdadeiramente rica quando seus cidadãos são ricos), como ocorreu
na autoextinta União Soviética e ocorre numa China que hoje tenta
desesperadamente conciliar o capitalismo privado com o autoritarismo político e
um decadente centralismo econômico estatal para alimentar quase um bilhão e
meio de almas, na maioria, ignaras e despreparadas para um mundo globalizado.
Essas pessoas são
metodicamente ideologizadas e acreditam realmente em sua ilusão socialista, sem
se darem conta de que o que defendem, na realidade, é exatamente a concentração
muito maior da riqueza produzida por todos nas mãos de um grupo extremamente
restrito que conforma o partido único governante. Ao povo, o que querem é que
reste apenas o trabalho robotizado e a comida racionada, não importando que
haja uma produção deficiente e que, ao invés de desenvolvimento, como muitos
pregam, haja uma tendência ao retorno da vida tribal, desde que isso não se
aplique ao grupo dirigente.
Por isso são contra a
liberdade individual de protestar ou simplesmente de emitir opinião contrária à
oficial e escarnecem da democracia e, pior ainda, a subvertem.
Não há, pois, como preparar as
pessoas, sem uma educação que transmita a nítida compreensão e respeito aos
nossos valores civilizacionais cristãos e ocidentais, e um ensino profissionalizante
eficiente que permita que a pessoa se torne capaz e competitiva o suficiente
para ‘vencer na vida’, enquanto a mentalidade dirigente for a socialista.
Com esses propósitos, o
socialismo pode ser visto como um desastre social, uma espécie de
sociopatologia epidêmica, que as nações do mundo terão que erradicar, se
pretendem construir uma humanidade mais equilibrada e feliz.
Título e Texto: Francisco Vianna, 03-11-2012
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