De repente, tudo ficou
cinzento e abafado. Um cheiro horrível espalhava-se por todos os lados. Tentei
abrir mais os olhos e um ardor lancinante impediu. Será que estava ficando
cego?
Uma substância pastosa e
pegajosa permeava todo o ambiente. Era impossível qualquer tipo de movimento,
mas apesar de tudo, insistia em sair daquele local estranho, fétido e na
penumbra.
Tentei gritar por socorro, mas
aquela matéria gosmenta invadiu imediatamente a cavidade bucal, quase sufocando
e aumentando ainda mais o drama. Era cruel!
Restava ainda a opção de
tentar um contato físico com alguém, mas era impossível tatear naquelas
condições. O desespero foi aumentando e a sensação de solidão agravava muito
mais o momento.
De repente uma ideia
promissora: será que era tudo um pesadelo? Teria aquela feijoada carregada, bem
no meio da madrugada, liberado seus efeitos deletérios? Animei-me!
Mas, de novo, um lampejo de
sanidade me trouxe à realidade: sonhos não fedem!
Só me restava, doravante,
aceitar meu destino e deixar de resistir ao inevitável fim. Tudo havia acabado
para mim.
Lembranças ainda me afagavam o
desespero: filhos, irmãos, amigos, serviram para embalar meus últimos
movimentos desconexos e moribundos.
De repente e para minha total
alegria e surpresa…
- Ei, acorde! Me dê aqui a sua
mão, que eu o tiro daí!
- Tirar de onde? O que foi que
aconteceu? Quem é você?
- Calma Pablo, é o Cição e
você sofreu um acidente de trabalho.
- Acidente de trabalho?! Como
assim?
- Se lembra que montamos uma
empresa do tipo “Limpa-fossas”?
- Sim, claro!
- Pois é, você caiu na lagoa
de tratamento dos dejetos, afundou na merda e quase morreu.
- Ufa, ainda bem!
- Ainda bem?! Você é doido
mesmo!
- Ainda bem mesmo, cara!
Pensei que o PT tinha dominado o mundo.
Recebido de Leidy Santos
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