Se fosse necessária uma prova
em como o debate político e sindical está moribundo em Portugal,
bastaria ver a reação (ou ausência dela) que teve uma notícia de primeira
página do Expresso há mais de uma semana. Dizia 'apenas' que 80% dos portugueses nunca fizeram greve.
Os resultados são de um estudo
do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que não
é um coio de reacionários antigrevistas (pelo contrário, o autor, António
Dornelas, foi consultor de Jorge Sampaio e trabalhou para a UGT), e a peça
jornalística assinada por um dos mais consistentes jornalistas
portugueses e profundo conhecedor do movimento sindical - José Pedro Castanheira
(ele próprio ex-presidente de uma direção do Sindicato dos Jornalistas, à qual
tive a honra de pertencer). Hesitei em escrever isto, porque sou de uma geração
de jornalistas que não passa a vida a elogiar-se e a citar-se uns aos outros.
Mas ultrapassei essa hesitação pela importância que estes números me
pareceram ter.
É claro que para conhecermos
as motivações de cada trabalhador são necessários mais estudos. Uma
coisa são factos - e o que Castanheira escreveu é um facto resultante de um
estudo - e outra são as motivações. Por que motivo tão pouca gente faz
greve? Não crê nos resultados? Não concorda com as convocatórias? Tem medo de
ser despedida? Trabalha de forma precária?
Porém, independentemente das
motivações, uma coisa é certa: Menos de 20% dos trabalhadores param o
país, como se tem visto nas greves gerais (o estudo fica em 2010, e
embora as últimas greves possam ter mobilizado mais gente, os dados não terão
sido, com certeza, radicalmente alterados). Como aqui escrevi aquando da última
greve geral de 14 de novembro, não é só o Estado que precisa de ser repensado.Os
mecanismos tradicionais de contestação e de redistribuição de rendimentos
também devem ser debatidos. Sob pena de estarmos a beneficiar sempre os mesmos -
aos tais 20 por cento, entre os quais há aquelas ínfimas minorias, como
maquinistas da CP, pilotos da TAP ou estivadores que conseguem ainda mais
direitos e regalias, independentemente de sua justeza, apenas porque
conseguem paralisar ainda mais o país.
Título e Texto (e grifos): Henrique Monteiro, Expresso,
26 de novembro de 2012
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