quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Fator previdenciário

Peter Rosenfeld
Tenho lido nos jornais que os parlamentares de ambas as casas do congresso (minúsculas propositais) estariam por votar o fim do famoso fator previdenciário.

Se o fizerem, demonstrarão a todos os brasileiros, sem exceção, que não estão dando a mínima para o futuro do País.

É verdade que o nível dos atuais congressistas é o mais baixo de que se tem notícia, e que poucos estão se interessando pelo futuro do País e, por tabela, pelo dos brasileiros em geral.

O delicado problema das aposentadorias, agravado pela falta de interesse e de sensibilidade dos governos, aqui incluídos executivo e legislativo de quase todos os países do mundo, tem sido o vilão das graves crises que vem grassando mundo afora.

Não há País que aguente sustentar uma horda de aposentados jovens, que ainda poderia trabalhar por mais 20/30 anos sem qualquer problema.

Já abordei esse assunto mais de uma vez em meus escritos, e fi-lo sem qualquer sofisma ou vergonha, tanto assim que usei meu próprio caso como exemplo.

Penso que vale a pena refrescar a memória de todos. Lá vai:
Comecei a trabalhar, por decisão própria, pouco antes de completar 20 anos de idade; tinha completado o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), como voluntário, logo o serviço militar já estava em dia.

(Aqui vai um pequeno parêntese: a frequência ao CPOR, nominalmente de dois anos, representou o equivalente a duas vezes três meses, ou seja, estive à disposição do Exército em dois períodos de 90 dias, cada período em um ano. Ao me aposentar, o serviço militar foi contado como tendo sido de dois anos!).

Então, para contar os 35 anos de trabalho exigidos por lei para uma aposentadoria plena, os dois anos acima baixaram o tempo para 33 anos. Ah, e o ano que passei trabalhando na Europa (março de 52 a fevereiro de 53) não contou, porque não recolhi INSS no período, óbvio.

Consequentemente, obtive minha aposentaria pelo INSS com um tempo de serviço de 35 anos, 01 mês e 11 dias (copiei essa terminologia do documento que me foi enviado pelo INSS!).

Minha idade era de 53 anos! Logo, estou recebendo do INSS há 28 anos!
Pode? Se já existisse o fator previdenciário, não poderia!
É verdade que, como continuei trabalhando, continuei recolhendo o devido ao INSS.

O fator previdenciário estabelece que entre idade e tempo de serviço, cada fator tendo peso 1; eu não poderia ter obtido a aposentadoria. Teria que trabalhar (e recolher) uns tantos anos a mais!

Pois bem, o fator previdenciário pretende evitar situações como essa que descrevi.
E os parlamentares brasileiros querem a manutenção do sistema antigo, que permite que as pessoas se aposentem precocemente.

Aliás, já li em algum lugar, inclusive passou pela internet, um projeto popular que estabelece o fim do atual regime de aposentadoria dos parlamentares; eles passariam a se aposentar pelo mesmo regime que nós, cidadãos comuns.

É claro que isso jamais será aprovado, mas seria muito justo, pois ser deputado ou senador não é nem mais nem menos cansativo ou desgastante do que ser um empresário ou funcionário de qualquer empreendimento.

Nosso sistema atual, e isso vem desde a construção de Brasilia, é terrivelmente injusto para com a imensa maioria de brasileiros.

Que durante a construção da nova Capital fossem oferecidas condições especiais para os que para lá se aventurassem, tudo bem.

Lembro-me bem que conheci a Capital, ainda em construção, mas já com algumas coisas funcionando em 1962. Naquele tempo se justificavam certas benesses.
Mas isso já deveria ter terminado há muitos anos.

A capital dos EE.UU. da América também foi construída para ser a Capital. Mas ninguém goza de benesses especiais para residir lá.

Voltando ao Fator Previdenciário.
Espero que pelo menos uma vez, uma só, os parlamentares pensem um pouco mais nos brasileiros comuns e não em seus próprios bolsos e estômagos, e não mexam no fator previdenciário!
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre (RS), 07 de novembro de 2012

3 comentários:

  1. De Moletta
    Prezado cão tabagista
    Sou militar da Reserva do Exército, passei para a reserva com 49 anos. OCORRE que a LEI que mudou em JAN 2001, dizia para fins de aposentadoria… 30 anos de serviço… podendo optar para continuar até os 35 anos de serviço ( OPTAR). Concordo que me aposentei cedo, mas era a LEI. Ao me aposentar, já em FEV 2001, trabalhei na iniciativa privada, a convite, até JAN 2007, quando solicitei demissão, pois minha saudosa genitora, com 85 anos na época começou a apresentar problemas de saúde, e passei a dar apoio a ela. Sou o mais velho da turma.
    Baita abraço,
    Moletta

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  2. Compreendo as preocupações do Sr. Peter Rosenfeld. Penso, entretanto, que concomitantemente a manutenção do fator previdenciário, deveria-se atacar os privilégios dos funcionários públicos e também das estatais como a Petrobrás. O que tem esses cidadãos de diferente para terem suas aposentadorias calculadas diferentemente? E mantidas em base de cálculo que nunca definham como as aposentadorias da maioria dos outros brasileiros, seriam esses cidadãos de segunda classe em relação aos primeiros? Por que recebem 14 salários por ano? Se isto não configura privilégio e discriminação contra a maioria, não sei mais o que dizer. Entendo a necessidade do fator previdenciário, juntamente com outras medidas que deveriam vir juntas para equilibrar a previdência, inclusive a transparência das contas do Ministério da Previdência e INPS.
    Paulo Moura

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  3. O nosso amigo aposentado Artur Larangeira, do grupo Aposentados,Pensionistas e Aposentáveis do RGPS, do Facebook, está fazendo um notável trabalho onde demonstra essa terrível desigualdade entre os aposentados do setor urbano e dos servidores públicos. Nada justifica esta terrível desigualdade! E, como não deveria acontecer, está tendo uma enorme dificuldade de levantar os dados necessários, pela má vontade e artimanhas dos responsáveis que procuram esconder estes dados. Quando terminará essa abominável e covarde discriminação e preconceito contra o indefeso aposentado da iniciativa privada? >Almir Papalardo<

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