João César das Neves
É tão fácil enganar com
números! Há um mês saiu a espantosa novidade que a nossa balança comercial
estava equilibrada. Na economia tudo vai mal, mas ao menos nas exportações as
coisas iam de vento em popa. Ainda a tinta não estava seca nessa notícia e
surgia logo outra: «Cerca de um décimo do crescimento das exportações (9,15%)resultou este ano de vendas de ouro» (Lusa, 23/Set).
Desde então toda a gente sabe
que afinal a melhoria das exportações é só venda de ouro. O próprio texto
mostra como a dedução é tola: «Nos primeiros sete meses de 2012, Portugal
exportou 26 914 milhões de euros em bens. Este valor é superior em 2193 milhões
ao que se registou no mesmo período do ano passado (subida de 8,9%; valores
nominais). Ora, nos primeiros sete meses de 2012, as exportações de ouro
portuguesas ascenderam a 455,9 milhões de euros. Comparando com o mesmo período
de 2011, Portugal vendeu mais 201 milhões de euros em ouro.»
Segundo os próprios números
apresentados, as vendas de ouro representam apenas 1,7% do total das
exportações, um valor minúsculo, sem qualquer significado. Se eliminarmos o
ouro, a taxa de crescimento das exportações continua a ser de 8,1%, bastante
semelhante à registada. Ou, melhor, exactamente a 90% da anterior pois, como
diz a notícia, o ouro é um décimo do crescimento, e um décimo de 8,9% é só
0,89%.
Assim se cria um engano. A
notícia é totalmente verdadeira, mas conseguiu passar uma ideia falsa, que toda
a gente repete desde então. Deve haver uma regra jornalística que obriga a
destruir qualquer boa notícia.
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