quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os desafios da reeleição

O desafio de Obama de reformar o Estado Social e reduzir ao máximo o ‘estado bélico’ norte-americano.


Francisco Vianna
Os Estados Unidos da América, obviamente, vão ter que continuar a lidar com as diversas ameaças antiamericanas existentes em todo o mundo. Terão, também, de uma maneira ou de outra, de proteger os interesses de seu país e de seus empresários onde quer que eles sejam contrariados, na medida do possível. Todavia, com os resultados da eleição de terça-feira e a reeleição de Barak Hussein Obama, a Casa Branca e o Congresso deverão buscar algum tipo de acordo para acabar ou mesmo reduzir em muito o custoso – e nem tanto produtivo assim – "Estado Bélico” instituído pela administração de George W. Bush.
Assim, parece ser um consenso, o fato de que o Departamento de Defesa americano necessita – em função das exigências econômicas – reformar sua abordagem em lidar com essas ameaças no sentido de cortar, pelo menos, os orçamentos mais dispendiosos levados a cabo pelo núcleo militar do Pentágono e diminuir significativamente, se não puder por fim, aos gastos que têm sido feitos para custear as guerras mais recentes em que o país se meteu.
Washington, desde 2003, se envolveu em guerras no Iraque e no Afeganistão, pela primeira vez, sem uma arrecadação tributária específica para cobrir os gastos dessas ações militares, que, por ironia, estava prevista no orçamento da Defesa durante a administração Bush, mas nunca foi recolhida, na verdade, “para não aumentar a carga tributária americana”.
Houve, de fato, uma preparação militar, mas não uma provisão financeira correspondente para a invasão do Iraque na base da “necessidade de rapidamente o país ter que derrotar a agressão internacional e eliminar os culpados por ela antes que conseguissem gerar grandes conflitos internacionais” e na presunção de que o petróleo e os contratos de reconstrução do país destruído pudessem compensar os gastos da guerra. Não compensou. E os EUA financiaram essas guerras pelo regime de “cartão de crédito”, onde o juro é alto e punitivo. O plano de guerra limitava, dentro da proposta de orçamento, a ação militar “à realização de operações de menor escala e de contingência”...
Mesmo assim, a coisa fugiu do controle e ao orçamento inicial somaram-se muitos “suplementares” e a conta do “cartão de crédito” da Casa Branca, agora, anda em torno de US $ 1,5 trilhão, sem contar que o custo básico da defesa do país, corrigido pela inflação, subiu cerca de 4 por cento ao ano, com exceção dos últimos dois anos.
“Ainda que Obama consiga cumprir com a sua promessa de trazer para casa cerca de cem mil soldados do exército, as forças terrestres que permanecerão no Iraque e no Afeganistão ainda serão superiores às que estavam por lá logo após a invasão”, como disse Todd Harrison, do Centro para Avaliação Estratégica e Orçamentária (CSBA).
Na luta para enxugar o orçamento e diminuir o “estado bélico”, tanto o Executivo como o Legislativo terão que se entender para evitar os desperdícios de fundos como ocorreu com os esforços fracassados para modernizar os sistemas bélicos. “Pelo menos uma dúzia de caros e extensos programas foram encerrados em função da ausência de progresso quanto ao escopo de tornar mais eficientes e eficazes as armas sujeitas a eles”, conforme estudo da CSBA em 2011. O custo/benefício determinou o seu encerramento. O tamanho desse tipo de desperdício passa de US $ 45 bilhões. Além disso, o Pentágono também está a pagar centenas de milhões de dólares para atualizar alguns sistemas, como o do avião de combate F-22 stealth, que já é de longe o caça mais aperfeiçoado existente no mundo. Além do mais, terão que lidar com o fato de que a maioria dos orçamentos militares são rapidamente superados pelo aumento dos custos reais que “chegar a passar de US $ 8 bilhões e de atrasos nos seus cronogramas que variam de um ano e meio a até doze anos e meio".
Os gastos em zona de guerra apresentam desperdícios que estão bem documentados, mas os recursos financeiros não cessam de chegar, o que não poderia ocorrer com nenhuma outra área de atividade governamental. Somente com o custo com o desenvolvimento das Forças de Segurança Interna do Afeganistão, os EUA, na última década, gastaram algo em torno de 11,7 bilhões de dólares e, no entanto, coforme disse uma auditoria publicada no mês passado pelo Inspetor-geral da Reconstrução do Afeganistão (SIGAR), "o governo afegão provavelmente não será capaz de sustentar e manter todas as instalações deixadas em funcionamento pelos americanos após a transição marcada para 2014 e a diminuição esperada do apoio dos EUA e da coalizão" ao atual governo do país.
Há ainda a corrupção no Afeganistão da qual os americanos participam ativamente, quando se trata da construção de instalações que os afegãos não poderão sustentar. Mas a construção continua.
Um dos maiores projetos é para uma nova ‘Universidade de Segurança Nacional’, em andamento fora de Cabul, uma instituição que, com base no sistema de West Point, vai formar, em quatro anos de curso, oficiais para o exército e para a força aérea do Afeganistão. O projeto está concluindo a primeira fase. No mês passado, uma segunda fase foi anunciada com a construção adicional de um "quartel, refeitório, biblioteca, ginásio, lavanderia, e outros edifícios de apoio, campo de atletismo, etc.". O total de gastos pode passar de US $ 100 milhões e demorar perto de 15 meses para ser concluída.
Segundo o colunista Holman W. Jenkins Jr., do Wall Street Journal, “Obama não tem condições de bancar tudo isso e ao mesmo tempo por em andamento as reformas sociais do estado que diz pretender", e que mais assustam o americano. O presidente, agora reeleito, na ocasião apelou para os eleitores do Estado da Virgínia prometendo que as instalações militares de Norfolk e Hampton Roads possibilitariam a abertura de 200.000 novos empregos na defesa caso ele, Obama, e o ex- governador Tim Kaine vencessem suas eleições. Venceram. Agora, o cumprimento da promessa é estória...
Os eleitores do estado votaram esmagadoramente em Obama e em Kaine, numa demonstração de que estão prontos para uma reforma do ‘estado bélico’ e, também, estão dispostos a pagar mais impostos para a segurança prometida pelo presidente que, no discurso da vitória, a descreveu como sendo "a militarmente mais forte em terra com as melhores tropas que este mundo já viu".
Em suma, entre o que foi prometido e o que poderá ser feito na realidade interpõe-se o pagador de impostos americano que em sua imensa maioria não deseja um crescimento do estado e um aumento da intromissão de Washington em suas vidas. Todavia, o que parece certo é o fato de que a vitória Democrata – que se baseou no aumento da esperança dos pobres numa maior proteção do estado – lá como aqui, pode levar o povo a graves frustrações, principalmente se Barak Obama enveredar por um caminho mais populista e demagógico do que aquele pelo qual atualmente ele transita. 
Título e Texto: Francisco Vianna, 08-11-2012

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