sábado, 17 de novembro de 2012

Um problema à esquerda

João Marcelino
O compromisso assinado com os credores internacionais delimita com clareza o sentido de responsabilidade dos partidos portugueses.
De um lado - do PSD, do PP e do PS - há divergências quanto às estratégias a adotar, tanto internamente como no palco europeu, mas existe uma certeza comum quanto ao que se quer: União Europeia, moeda única, confiança dos mercados e dos seus investidores, financiamento da troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) para que o País possa vencer este período que é, de facto, de recuperação de uma falência do Estado. Pode discordar-se do peso relativo da austeridade versus medidas para crescimento, mas existe um quadro de valores políticos que merece consenso.
Para lá desta linha, o recente congresso do Bloco de Esquerda mostra que não há alternativa à esquerda do PS. Bloquistas, como os comunistas, que também brevemente se reunirão em congresso, insistem em "rasgar o memorando" sem nunca conseguirem apresentar uma alternativa para o financiamento do País.

Percebe-se que a esquerda radical insista no argumento de que, nunca tendo governado, não contribuiu para a atual crise do Estado português - tudo culpa da direita, dos bancos, do patronato, enfim, do capitalismo. O problema está em que, tendo Portugal chegado a esta triste dependência de terceiros para assegurar o normal funcionamento do País, não basta dizer o que se não quer. É preciso dizer qual é a alternativa. Como é que, se se prescindisse deste documento e simultaneamente se perdesse o financiamento, o País continuaria a funcionar? Como se evitaria o colapso, se pagariam aos funcionários públicos, se manteriam os hospitais a prestar cuidados de saúde, etc., etc.?
Este é o drama da extrema-esquerda nacional. Quer sintonizar-se com a contestação, estar ao lado das pessoas necessitadas, mas não tem mais nada para oferecer do que palavras, emoções, intenções. Parece ainda estar longe o momento em que, de verdade, conseguirá ter uma estratégia alternativa para colocar à consideração dos eleitores. E, assim, aspirar ao poder.
Título e Texto: João Marcelino, Diário de Notícias, 17-11-2012

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