sábado, 26 de outubro de 2013

Venezuela descamba para a hiperinflação

O dólar supera a barreira psicológica de 50 bolívares na Venezuela. Produtos em escassez são remarcados duas vezes por dia, quando eles existem a venda nas prateleiras dos supermercados.
Francisco Vianna

No “câmbio paralelo”, ou “negro”, o dólar, na Venezuela ultrapassou a barreira – considerada psicológica de hiperinflação – de 50 bolívares por dólar, o que representa estar 8 vezes mais cara do que o dólar vendido pelo câmbio oficial do Palácio Miraflores, de 6,3 bolívares por dólar.
O câmbio negro ou “mercado paralelo” tem sido a única forma que a grande maioria dos venezuelanos têm de adquirir a moeda estadunidense à vontade, sem o controle do socialismo bolivariano.

Muitos estão vendendo o que têm e indo embora do país, e para isso precisam de dólares. O mercado de rua tem sido amplamente combatido pelo governo ‘bolivariano’ e a operação envolve riscos, uma vez que os dólares que não procedem da compra oficial do governo podem ser confiscados pelo regime de Caracas.

Isso, todavia, não tem diminuído a procura pela moeda americana na mão dos cambistas e doleiros do chamado “mercado paralelo” onde o dólar já é vendido a mais de 50 bolívares.

O valor alcançado pela divisa americana nas ruas da Venezuela, segundo os especialistas, já representa a transposição de uma barreira psicológica que acreditam ser o limiar da hiperinflação que é de 50 bolívares por dólar, numa demonstração do adiantado grau de deterioração econômica do país, como geralmente tende a ocorrer nos regimes socialistas.

Nesta semana, as ruas cotavam o dólar “paralelo”, em 53,51 bolívares por dólar, em Caracas, conforme o website www.dolartoday.com que acompanha as transações do mercado negro. Essa cotação de rua do dólar representa uma desvalorização do bolívar da ordem de 75,08 % ao ano, em relação ao valor da moeda americana negociada há 12 meses e que era de 13,33 bolívares por dólar. Ao câmbio oficial, só tem acesso um pequeno grupo de empresários cuidadosamente selecionados pela cúpula do regime de Caracas, que os vende a moeda dos EUA por 6,3 bolívares, valor altamente subsidiado pelo governo e à custa do trabalho do povo.

Comerciante em Caracas, anunciando a venda da sua loja de comércio com o humor típico da desilusão socialista.
No entanto, a maioria dos economistas do país acredita que o dólar está supervalorizado num nível insustentável e prognosticam que o governo de Nicolás Maduro vai se ver obrigado a desvalorizar oficialmente a moeda nacional após as eleições municipais de dezembro. O nível recorde de valor de troca alcançado pelo dólar americano no país, acreditam os analistas, decorre de dois fatores: a diáspora e a falta de liquidez do estado socialista bolivariano. A diáspora econômica é a que ocorre com a saída do país dos capitais privados e da mão de obra especializada que há algum tempo migra para a vizinhança sul-americana, principalmente Colômbia, Peru, Chile e Brasil.  

A falta de liquidez do estado faz com que o governo retenha a moeda americana ao máximo para honrar seus pagamentos aos seus sócios estratégicos (Rússia, Irã, China e países da ALBA), liberando assim um volume de divisas em moeda forte muito aquém do necessário para manter a economia em funcionamento.

Para compensar, de forma inconsequente – como soe acontecer nesse tipo de regime –, o Palácio Miraflores aumenta enormemente o volume da moeda circulante sem lastro, em bolívares, que fatalmente levará a taxa de inflação a fechar o ano acima dos 50% ao ano.
De fato, o próprio governo reconheceu esta semana que a inflação anualizada em setembro foi 49,4 por cento, seu nível mais alto em 13 anos.

“Com a escassez de dólares em oferta cresce a demanda daqueles que precisam da moeda americana até para ir embora do país. São poucos os que vendem dólares”, disse um professor de economia da Universidade Central de Venezuela. “Isso gera uma escassez progressiva de produtos básicos de consumo que, na Venezuela, hoje está chegando às raias do insuportável e provavelmente o regime se certificará disso com os resultados das eleições municipais de dezembro próximo, mesmo que haja todos os mecanismos eleitorais fraudulentos que tendem a beneficiar a situação e que transformam o regime cada vez mais numa caricatura de democracia”, acrescentou o professor.

Com os bolsos cheios de bolívares sem valor, os venezuelanos não sabem o que fazer com eles, e não encontram nos mercados muitos produtos básicos tais como açúcar, óleo de cozinha, carnes, papel higiênico, apenas para citar alguns.

Com a diáspora venezuelana, agrava-se o esvaziamento de capitais privados e de mão de obra qualificada, com redução acentuada da classe média e queda intensa da capacidade produtiva do país tanto no setor primário (agropecuário), como no secundário (comercial e industrial) e mais ainda no terciário (serviços). A própria PDVSA, fonte maior de todas as divisas em moeda forte do país, está tendo sérios problemas de manutenção de suas instalações de extração e refino de petróleo por escassez de mão de obra qualificada, com sua produção tendo sofrida uma queda de quase um terço em relação ao que produzia há cerca de cinco anos atrás.

As estatizações por confisco puro e simples de ativos privados fizeram com que o governo chamasse a si a responsabilidade de continuar a manter uma produção que está acima de sua capacidade, mesmo reduzindo drasticamente os salários de seus operadores (o que deixa de fora a seleta burguesia do politiburo instalado em Caracas).

Assim, cada vez mais, Caracas se vê obrigada a trocar petróleo por tudo, uma vez que quase mais nada se produz no país. Os próceres do regime acreditam ainda que o petróleo do país poderá comprar tudo o que o povo necessita, ilusão que a prática começa a desfazer como uma imagem de fumaça. 

Segundo alguns economistas sul-americanos, o país poderá experimentar uma série de “pacotes econômicos” tal como ocorreu no Brasil após a farsa da “abertura democrática” pelo regime militar, com a diferença fundamental de que, no maior país da América do Sul, o regime militar teve a capacidade de montar uma infraestrutura mínima para permitir um crescimento econômico vigoroso. Teve também o bom senso de um governo de centro-esquerda para criar um plano que possibilitasse o controle da inflação e a existência de uma moeda forte e o respeito às leis da economia de mercado.

Ao contrário do Brasil, a Venezuela não tem nada parecido com isso e está se tornando um país de pobres e miseráveis, uma cópia do que ocorre em Cuba, a fonte inspiradora do falecido Hugo Chávez Frías. O déficit fiscal no país caribenho já chega a 20% do seu PIB e o governo nunca esteve com suas reservas de moeda forte tão baixas, além de continuar a imprimir dinheiro sem lastro de modo frenético.

O que o ‘socialismo bolivariano’ está fazendo com a Venezuela pode ser comparável a uma “política de terra arrasada”, que se traduz em hiperinflação e paralisação com deterioração do parque produtivo e queda da produção petrolífera. Com os valores do barril de petróleo progressivamente em baixa – e ainda sem mostrar os reflexos da produção norteamericana de hidrocarbonetos derivados do xisto betuminoso – a tendência é a da exportação do petróleo venezuelano continuar a diminuir.  

Assim, como é muito mais difícil estabilizar uma economia baseada apenas na exportação dessa mercadoria, as pressões internas e externas sobre o regime de Caracas deverão naturalmente aumentar o que permite que os entendidos prevejam dias mais turbulentos para o país.

Nós já vimos esse filme aqui no Brasil, mas tivemos a sorte de contar com o patriotismo e o bom senso dos militares para restaurar a ordem no galinheiro. Ordem essa que, nos últimos dez anos vem sendo deteriorada mais uma vez e tem impedido que o Brasil deslanche de vez como a primeira grande potência latina mundial.

Brasil e Venezuela estão necessitando – este mais do que aquele -- da intervenção de patriotas de bom senso para voltarem a por ordem na zorra em que estão se tornando.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 26-10-2013

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