Paula Rosiska
No próximo feriado da
Proclamação da República, milhares de brasileiros indignados estarão nas ruas
para se manifestar contra uma série de fatores que têm colocado nossa democracia
em risco. A pauta, que contém muitos itens – do impeachment da presidente Dilma
à exigência do voto impresso, passando pela investigação do Petrolão -,
tem sido alvo de críticas, especialmente pelos que apoiam incondicional e
ideologicamente o atual governo.
Alguns ironizam o movimento,
sugerindo que os manifestantes não sabem o que querem. Ora, essa aparente falta
de foco tem uma explicação: muitos acontecimentos preocupantes sucederam nos
últimos anos diante dos olhos um povo que, via de regra, só pensa em política
quando é obrigado a ir às urnas e, portanto, não se alarmava com o que via.
Quem batalha para garantir a sobrevivência não tem vocação para o autoritarismo
e, portanto, não faz ideia de que políticos possam almejar mais do que a mordomia
vitalícia sustentada pelos que trabalham de fato. Afirmar uma década atrás que
havia um plano para dominação socialista na América Latina, do qual todos os
seus presidentes faziam parte, e que a “La Patria Grande” seria o objetivo de um presidente
brasileiro, soava a teoria da conspiração. Quem alertava sobre o incêndio sob a
chuva rala assemelhava-se antes aos profetas de porta de igreja a prever o
Apocalipse a alguém com inteligência suficiente para dar ouvidos. Porém agora o
quebra-cabeça está montado e as pessoas comuns estão indo às ruas, pela
primeira vez, sem a convocação de qualquer liderança, com quase uma década de
atraso.
Neste momento tudo vem à tona
e haverá, consequentemente, o desejo de correr atrás do prejuízo num único ato.
Esse afobamento por si já é prova de que os que estavam no MASP dia 1º de
novembro e os que estarão no próximo dia 15 não são militantes partidários ou
os manifestantes profissionais, como os que recebem dinheiro e
lanche para dar volume a certos protestos. Estavam e estarão lá para gritar o
que lhes aflige, para encontrar interlocutores e renovar as esperanças de que
podemos mudar o caminho e não ter mais como destino o mesmo lamaçal em que se
encontram os mais avançados nesse processo bolivariano: Cuba, Venezuela e
Argentina.
A sucessão de fatos ocorridos
nesses países nos permitiram enxergar que o tal Golpe Comunista, na forma em que
o concebemos, não existe. Não haverá luta armada, assim como não houve na terra
de Chávez e Kirchner. Estão tirando nossos direitos e nossas liberdades aos
poucos. Com o perdão do exemplo batido, mas é o caso do sapo que pula quando
jogado num caldeirão de água fervente, mas morre cozido se for colocado na água
morna, se aquecida gradativamente. Não vimos o finado Chávez declarando o
golpe. Havia (há) até eleições lá e todas as medidas autoritárias eram
(são) aprovadas democraticamente...
A similaridade entre o que tem
acontecido lá e o que começamos a observar aqui é deveras preocupante. Não é
coincidência, por exemplo, que a imprensa livre seja atacada pelo governo
regularmente. A revista Veja, detonada nos palanques petistas, teve sua sede
depredada por publicar a transcrição de um depoimento dado à Polícia Federal –
ainda que a reportagem afirmasse se tratar somente da fala do doleiro, que, por
sua vez, ainda não havia apresentado provas das acusações feitas a Lula e Dilma.
Espantosamente, alguns jornalistas da
imprensa chapa-branca comemoraram essa represália à maior revista do país. O
sapo realmente não nota a temperatura da água a subir. Há quantos anos se
fala em “democratização da mídia”, que tem por objetivo atacar a Abril, a Globo
e demais jornais que critiquem o governo? Na Argentina, esse ataque ganhou o
nome de Lei de Medios e praticamente destruiu o jornal de oposição à Kirchner. Tudo
com o objetivo de favorecer a “liberdade de expressão por impedir a concentração de
mercado”.
Voltando à Venezuela, o
país recebe militares cubanos desde o ano 2000, com o
objetivo de defender o regime chavista a todo custo. A repressão aos protestos
lá ocorridos durante este ano foi promovida em boa parte pelos soldados vindos de Cuba, que não tiveram piedade nem de
jovens, nem de mulheres.
Enquanto o vizinho vive seu
momento trágico, descobre-se que vários dos médicos vindos da ilha de Fidel
Castro para o famigerado programa Mais Médicos, são, na verdade, militares infiltrados. Além do quadro assustador, cabe
lembrar que o Brasil, sob o governo do PT, tem repassado verbas imensas para os
amigos bolivarianos. Afinal, por que construir um porto em Cuba? Por que
construir outro no Uruguai? Por que repassar quase meio bilhão de reais da
Petrobras para a campanha à reeleição de Evo Morales?
O povo brasileiro é escravo
dos demais presidentes latino-americanos. Estamos financiando governos ruins,
autoritários e incompetentes. Governos que estão empobrecendo seus países e
tratando à paulada quem ouse falar o contrário. E já vislumbramos esse cenário
perigoso tomando conta do Brasil.
É possível entender a
indignação e o desespero de quem está utilizando seu tempo de descanso para
gritar isso nas ruas, debaixo de sol forte ou de chuva. A gasolina aumentou,
mas a Petrobras pôde enviar meio bilhão para uma campanha política de um amigo
do PT.
Aumento de combustível traz
consigo o aumento de todos os demais produtos, evidentemente. Pagamos impostos
em comida, medicamentos e água. Não temos um único serviço público à altura das
quantias que nos tomam à força, não temos segurança, enfrentamos filas em
hospitais, nossas estradas são assassinas, e sabemos que a vida de um
brasileiro nada vale, pois sessenta mil assassinatos por ano não geram mais
comoção.
Enquanto pagávamos a conta de
toda essa obscenidade calados, estava tudo bem. Agora que passamos a falar
contra isso, tentam nos calar. Se não pela imposição, fazem-no por meio de ofensas, deboche e cinismo. Ora chamando os
manifestantes de fascistas, ora afirmando que pertencem à elite
insatisfeitíssima com a ascensão da classe C – alguém crê que um pobre cursando
uma universidade federal atrapalha em qualquer coisa a vida do colega playboy?
Ou que os passageiros da primeira classe entram em depressão porque os da
classe econômica estão na aeronave? – ou ainda destacando o fato de que
senhoras compareceram à primeira passeata utilizando guarda-chuvas para se
protegerem do sol forte. Sim, proteger-se do sol, para os jornalistas isentões,
parece mais grave do que portar coquetéis Molotov na mochila e vandalizar a
cidade utilizando máscaras. A esses últimos chamam ativistas. Já os que
mostram a cara ao participar de manifestações pacíficas, sem ocorrências
policiais e quebra-quebra, são ridicularizados.
Esclarecidos os pontos
principais da manifestação, passemos ao ato do próximo sábado.
Alguns temem ser confundidos
com os que pedem intervenção militar e separatismo. Lamentavelmente, haverá
grupos com essa pauta na multidão. E sim, por mais que ergamos faixas imensas
pedindo liberdade de imprensa e democracia, haverá pessoas da própria imprensa
a fotografar aquela minoria com seus cartazes estúpidos e tomando o todo pela
ínfima parte no momento de narrar o fato. A Internet ajudará a desmentir isso,
como desmentiu os “cerca de mil” manifestantes contados pela Folha com este
vídeo:https://www.youtube.com/watch?v=7DwDC5X-APg
Outra crítica frequente é o
desentendimento entre os líderes da manifestação. Mas em se tratando de um
movimento que surgiu espontaneamente, fica difícil até mesmo atribuir-lhe uma
liderança. O que parece desprestigiar o ato, antes o legitima como movimento
verdadeiramente popular. Haverá sim um caminhão de som que será seguido até o
Ibirapuera.
Nele, os que subirão para
discursar apresentarão uma pluralidade de visões políticas, porém, retirado o
manto das divergências, restará o mesmo conteúdo: amor pelo Brasil, o respeito
à democracia e a luta pela liberdade.
Aquele que suportar ser
ridicularizado pelos esquerdistas das redações depois de longa caminhada ao
sol, ou debaixo de chuva como da última vez, por gritar contra o Foro de São
Paulo e a favor do Brasil, será bem-vindo. Partiremos do MASP às 14h.
“A liberdade nunca está a
mais do que uma geração de sua extinção. Não a transmitimos aos nossos filhos
pelo sangue. Devemos lutar por ela, protegê-la, e entregá-la a eles para que
façam o mesmo”. (Ronald Reagan)
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