segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Por que a mídia é “a Jerusalém” para o governo atual?

Luciano Henrique

Nas metáforas que tenho utilizado, o que significa encontrar “a Jerusalém”?
Significa encontrar o ponto de disputa mais importante em um dado momento do tempo, assim como foi a cidade de Jerusalém na época das Cruzadas.

Esta “Jerusalém” é a posição mais importante a ser ocupada por um lado, e, ao mesmo tempo, é a que mais deve ser defendida pelo outro. É onde a batalha será decidida.

Elas devem ser as mesmas posições para ambos os lados. Se um lado não identificou “a Jerusalém” no conflito, então já se complicou para toda a guerra.

Imaginemos que neste momento (reparem bem que falo “neste momento”) a Jerusalém é a mídia, em pré-ocupação pelo governo. Eles sabem que controlando a mídia, conseguem esconder a corrupção e os indicadores econômicos. Chega a ser cômico que muitos denunciantes do Foro de São Paulo não tenham percebido este modus operandi em países como Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina.

Todas as manifestações atuais perderão o sentido se o governo seguir impune em seu processo evidente e progressivo de censura de mídia, já visto na derrubada de Rachel Sheherazade no SBT, e no corte de verbas à Veja. Como já disse, duas vitórias simbólicas devastadoras.

Mas e a corrupção? Bem, vamos aguardar as provas dos delatores, mas pelo que tenho visto, Dilma está bem tranquila. Internamente, o PT acha que isso vai respingar fortemente em Lula, mas não acham que o mesmo vai acontecer com Dilma.

Sendo isso verdade, obviamente a corrupção não é o ponto principal da disputa. É claro que desgastar o governo com as denúncias de corrupção é importante e estes escândalos não podem ser esquecidos, mas, repito, não é de forma alguma o ponto central da disputa. Claro que se surgirem provas materiais, um impeachment será inevitável. E neste caso a corrupção se tornaria a Jerusalém desta batalha. Ainda não é. (Eu ainda usaria a questão da corrupção em par com a luta contra a censura à imprensa, por causa do efeito midiático das denúncias do Lava Jato)

E quanto a “anulação das eleições”? Quanto a isso, o governo está tranquilo. É uma demanda que não será atendida. Se fosse comparar na questão da guerra política, enquanto a mídia seria a Jerusalém, a “validade das eleições” seria uma cidadela desabitada em um local não-estratégico.

Saladino diria: “Quer invadir, invada…. Estou nem aí, estou nem aí…”

Quanto eu vejo o sr. Marcelo Reis, do Revoltados On Line, definir “anulação das eleições” como uma de suas duas pautas principais, fico desanimado. Ele me parece uma pessoa muito bem-intencionada e é motivado. Tem postura de liderança também. O problema é para onde ele está levando suas tropas…

Mas aqui vai uma dica de ouro que pode ajudar: leiam os sites da BLOSTA (Brasil247Conversa Afiada,ViomundoPragmatismoPolíticoBlog da Cidadania e Altamiro Borges, entre outros). Lá eles entregam o ouro, a respeito das prioridades do PT. Hoje em dia são duas: censurar a mídia e abafar os escândalos do Petrolão.

Lá também notamos que são três as posições ambicionadas pelo governo: controle da mídia (a maior de todas, ou seja, a Jerusalém), a assembléia constituinte e o uso de coletivos não-eleitos. Esta última está um pouco abalada com a derrota na Câmara.

Caindo as três, o PT afunda de vez. E são metas possíveis. Infelizmente, como não entendemos ainda qual é a Jerusalém do conflito, o governo tem boas chances de sair vitorioso.

O que o PT mais precisa neste momento é que nós não descubramos qual é a Jerusalém do momento (a mídia) e nem mesmo as duas grandes cidades ao redor (plebiscito constituinte e uso de coletivos não-eleitos, esta última abalada).

Caso descobríssemos, poderíamos exigir pautas como:
·         exigência de retorno de Rachel Sheherazade ao SBT, sob ameaça de boicote
·         CPI da Blosta, para investigar o envio de verba estatal para a mídia chapa branca
·         CPI da censura à Veja, para investigar o corte de verbas estatais para a revista
·         criação de um “mídia watch”, para denunciar os jornalistas desonestos a favor do governo em vários órgãos de mídia
·         e, essa iria doer neles… propor uma lei de mídia realmente democrática para bloquear o envio de anúncios estatais do governo, propondo no lugar a isenção fiscal por cotas de anúncio (quer dizer que o governo não poderia mais destinar dinheiro de anúncios para chantagear empresas e privilegiar amigos)

Com medidas assim sendo levadas à frente não apenas nas manifestações, como também em pressões a parlamentares e jornalistas (que não foram cooptados pelo PT), os petistas diriam: “Agora complicou. Começaram enfim a prestar atenção! Enfim, a batalha vai começar!”.


Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 17-11-2014

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