Luciano Henrique
Nas metáforas que tenho
utilizado, o que significa encontrar “a Jerusalém”?
Significa encontrar o
ponto de disputa mais importante em um dado momento do tempo, assim como foi a
cidade de Jerusalém na época das Cruzadas.
Esta “Jerusalém” é a posição
mais importante a ser ocupada por um lado, e, ao mesmo tempo, é a que mais deve
ser defendida pelo outro. É onde a batalha será decidida.
Elas devem ser as mesmas
posições para ambos os lados. Se um lado não identificou “a Jerusalém” no conflito,
então já se complicou para toda a guerra.
Imaginemos que neste momento
(reparem bem que falo “neste momento”) a Jerusalém é a mídia, em pré-ocupação
pelo governo. Eles sabem que controlando a mídia, conseguem esconder a
corrupção e os indicadores econômicos. Chega a ser cômico que muitos
denunciantes do Foro de São Paulo não tenham percebido este modus
operandi em países como Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina.
Todas as manifestações atuais
perderão o sentido se o governo seguir impune em seu processo evidente e
progressivo de censura de mídia, já visto na derrubada de Rachel Sheherazade no
SBT, e no corte de verbas à Veja. Como já disse, duas vitórias simbólicas
devastadoras.
Mas e a corrupção? Bem, vamos
aguardar as provas dos delatores, mas pelo que tenho visto, Dilma está bem
tranquila. Internamente, o PT acha que isso vai respingar fortemente
em Lula, mas não acham que o mesmo vai acontecer com Dilma.
Sendo isso verdade, obviamente
a corrupção não é o ponto principal da disputa. É claro que desgastar o governo
com as denúncias de corrupção é importante e estes escândalos não podem ser
esquecidos, mas, repito, não é de forma alguma o ponto central da
disputa. Claro que se surgirem provas materiais, um impeachment será
inevitável. E neste caso a corrupção se tornaria a Jerusalém desta batalha.
Ainda não é. (Eu ainda usaria a questão da corrupção em par com a luta contra a
censura à imprensa, por causa do efeito midiático das denúncias do Lava Jato)
E quanto a “anulação das
eleições”? Quanto a isso, o governo está tranquilo. É uma demanda que não será
atendida. Se fosse comparar na questão da guerra política, enquanto a mídia
seria a Jerusalém, a “validade das eleições” seria uma cidadela desabitada em
um local não-estratégico.
Saladino diria: “Quer invadir,
invada…. Estou nem aí, estou nem aí…”
Quanto eu vejo o sr. Marcelo
Reis, do Revoltados On Line, definir “anulação das eleições” como uma de suas
duas pautas principais, fico desanimado. Ele me parece uma pessoa muito bem-intencionada
e é motivado. Tem postura de liderança também. O problema é para onde ele está
levando suas tropas…
Mas aqui vai uma dica de ouro
que pode ajudar: leiam os sites da BLOSTA (Brasil247, Conversa Afiada,Viomundo, PragmatismoPolítico, Blog
da Cidadania e Altamiro Borges, entre outros). Lá eles entregam o ouro, a
respeito das prioridades do PT. Hoje em dia são duas: censurar a mídia e abafar
os escândalos do Petrolão.
Lá também notamos que são três
as posições ambicionadas pelo governo: controle da mídia (a maior de todas, ou
seja, a Jerusalém), a assembléia constituinte e o uso de coletivos não-eleitos.
Esta última está um pouco abalada com a derrota na Câmara.
Caindo as três, o PT afunda de
vez. E são metas possíveis. Infelizmente, como não entendemos ainda qual é
a Jerusalém do conflito, o governo tem boas chances de sair vitorioso.
O que o PT mais precisa neste
momento é que nós não descubramos qual é a Jerusalém do momento (a mídia) e nem
mesmo as duas grandes cidades ao redor (plebiscito constituinte e uso de
coletivos não-eleitos, esta última abalada).
Caso descobríssemos,
poderíamos exigir pautas como:
·
exigência de retorno de Rachel Sheherazade ao
SBT, sob ameaça de boicote
·
CPI da Blosta, para investigar o envio de verba
estatal para a mídia chapa branca
·
CPI da censura à Veja, para investigar o corte
de verbas estatais para a revista
·
criação de um “mídia watch”, para denunciar os
jornalistas desonestos a favor do governo em vários órgãos de mídia
·
e, essa iria doer neles… propor uma lei de mídia realmente democrática para bloquear o
envio de anúncios estatais do governo, propondo no lugar a isenção fiscal por
cotas de anúncio (quer dizer que o governo não poderia mais destinar dinheiro
de anúncios para chantagear empresas e privilegiar amigos)
Com medidas assim sendo
levadas à frente não apenas nas manifestações, como também em pressões a
parlamentares e jornalistas (que não foram cooptados pelo PT), os petistas
diriam: “Agora complicou. Começaram enfim a prestar atenção! Enfim, a batalha
vai começar!”.
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo
Político, 17-11-2014
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