sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Eu não como vitórias

José Manuel
Poderia e talvez até devesse começar me referindo ao coletivo, mas como é uma desenvoltura natural dos fatos, a todos do Aerus, prefiro no momento concentrar-me apenas no pessoal.

Me considero um vencedor, pois ter chegado até aqui e passado pelo inferno patrocinado, pelo qual estou passando, mantendo-me íntegro psíquica e salutarmente, só mesmo um vencedor teria a fibra para que isso acontecesse.

Todos os dias agradeço pelas vitórias conquistadas, e  oro, pois a fé é e sempre será a mãe de  todas as nossas verdades e de tudo o que acreditamos…

Desde o dia 13 de julho de 2012, quando fui vencedor na ação civil pública, nada comi e a minha mesa continua vazia, pois essa vitória me deu o alento somente para perceber que poderia continuar.

Mais à frente, agora já em 12 de março de 2014, fui novamente vencedor na tarifária que é da Varig, mas que me pertence também pois é a reposição do meu dinheiro que lá estava no fundo de pensão, continuei com a tiara de louros na cabeça mas o estomago permanece assustadoramente vazio.

Esta semana, mais precisamente na terça-feira dia 03-12-2014, fui mais uma vez entronizado ao ponto mais alto do pódio.

Desta vez houve audiência expressiva, emoções à flor da pele, o país finalmente tomava conhecimento de que eu era realmente um vencedor. Só não teve a espuma espargida da champagne simbólica.

A vivo e a cores o país inteiro conheceu como, o quanto e o quê fizeram comigo e o porquê da homenagem  recebida.

Não mais nos recônditos frios e técnicos das varas federais, onde a grande maioria não tem acesso, mas com a força de um Congresso Nacional, e não há mais como negar, não há mais como postergar, não há mais como recursar.

A marca indelével da verdade, está gravada a fogo em minha alma, mas quando olho a mesa, essa verdade que deveria estar ali representada pelos alimentos que me dão o sopro da vida, continua vazia.



Continuam vazios, o plano de saúde, a saúde, as expectativas, a felicidade, as carências, o nada como companhia.

Está bem, são agora mais quinze dias, segundo o que se fala a boca pequena e oficial para que os trâmites burocráticos se transformem em comida, em espasmos de vida.

Não há mais o que fazer, é uma imposição judicial, apenas assinar o sacramentado, o mais rápido possível, a fim de que as mesas vazias de uma cozinha não se transformem de vez em mesas frias de um necrotério.

A decisão, com a rapidez ou pela postergação vil aos alimentos de pessoas vulneráveis, extenuadas pelo longo cansaço, e a sua consequente responsabilização, estão com os homens.
Deus, já nos deu as vitórias. 
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 5-12-2014

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