O Financial Times publica esta sexta-feira uma edição especial de
quatro páginas sobre Portugal, onde diz que o país está a regenerar-se e que há
uma "velha ordem" que deixou de o controlar.
Edgar Caetano
O colapso do Grupo Espírito
Santo e as detenções do antigo primeiro-ministro José Sócrates e de altos
responsáveis ligados ao caso dos “Vistos Gold” são, acredita o Financial
Times, sinais claros de que Portugal está a regenerar-se e que a
“velha ordem” perdeu o domínio do país. O FinancialTimes dedica esta sexta-feira uma edição especial de quatro
páginas sobre “Investir em Portugal”, em que é elogiada a estabilidade
política e as reformas que foram feitas. Mas onde se alerta, por outro lado,
para o crescimento baixo e para os receios sobre a sustentabilidade da dívida.
O texto principal do trabalho
especial do Financial Times começa com uma pergunta, que possivelmente
terá passado pela cabeça de muitos dos investidores que leem diariamente o
jornal britânico:
Se um programa rigoroso de
reformas e consolidação orçamental supervisionado pela União Europeia e pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI) não conseguiu detetar o colapso iminente de
um dos maiores bancos do país, que confiança pode Portugal ter de que os seus
problemas estruturais enraizados estão a ser solucionados de forma adequada?
É neste contexto que o
Financial Times (FT) enquadra a situação política atual, a menos de um ano
das eleições legislativas: uma disputa entre a “oposição
anti-austeridade socialista”, que está à frente nas sondagens dos partidos
da “coligação de governo de centro-direita, conservadora do ponto de vista
orçamental”. É uma disputa entre António Costa, que “descreve o resgate como um
falhanço”, e Pedro Passos Coelho, “que avisa que Portugal necessitará de muitos
mais anos de controlo orçamental rígido para assegurar um futuro próspero”.
Os jornalistas do
FT contam aos seus leitores que o país assistiu “boquiaberto” à queda do
império familiar Espírito Santo e à detenção de um ex-primeiro-ministro e
vários responsáveis ligados aos serviços de estrangeiros e fronteiras. “Está a
crescer a perceção de que as dificuldades económicas causadas pelo programa de
ajustamento e o colapso traumático do grupo Espírito Santo são parte de um processo
doloroso – uma tentativa de permitir que áreas mais bem sucedidas da
economia floresçam”, escreve o jornal.
Para trás podem estar a ficar
os “males económicos” personificados pela família Espírito Santo,
incluindo “relações demasiado íntimas entre os setores público e privado” e
as empresas a pedirem “demasiado crédito para crescer, na ausência de
capital”. E, ainda, estará a combater-se uma situação em que existe
um país dominado por empresas “viradas para o mercado interno,
protegidas da concorrência e dependentes de contratos com o Estado, absorveram
demasiado investimento e talento” humano.
O Financial Times diz que
Portugal tem subido nos “rankings” da competitividade mas continua a enfrentar
obstáculos, com muita burocracia e impostos elevados. O maior problema é,
todavia, a falta de um crescimento mais robusto que alivie os receios com a
sustentabilidade da dívida, diz o jornal. Contudo, o jornal salienta que,
apesar da crise vivida nos últimos anos, não foi perturbada a “fé” no sistema
político de dois partidos moderados e, por outro lado, nota que as reformas do
sistema fiscal tornam possível aumentar a base tributária ao mesmo tempo que se
desce a carga fiscal.
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