sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Keynesianismo de esquerda é política econômica do PT desde sempre

Cesar Maia           
1. Aqueles que interpretam a crise fiscal do governo federal como desvios de gestão da política econômica do PT, equivocam-se. A política fiscal de partidos ditos de esquerda é sempre keynesiana, ou seja, usando o déficit público como acelerador da demanda com vistas ao crescimento e impulsionador das prioridades do governo. Assim tem sido sempre na América Latina. Vide Chile no início dos anos 70 e, agora, nos últimos anos a Venezuela e a Argentina. Ah... e o Brasil.
           
2. A inflação resultante do déficit público é vista positivamente por estes partidos e governos: é uma fonte de receita para o governo por um lado e redução real de suas próprias despesas. O conceito de déficit primário criado durante a hiperinflação encaixa-se como luva nesse tipo de política fiscal. Afinal, se o déficit público impacta a dívida pública, nada mais adequado que excluir o serviço da dívida pública das despesas para fins de cálculo do déficit.
           
3. Enquanto for possível aumentar a carga tributária, as distorções dessa política são mitigadas. Lembre-se que os keynesianos de esquerda (kaleckianos) entendem que o aumento de impostos sobre as empresas até ativa a economia, pois no momento em que ocorre, as decisões de investimentos das empresas já estão tomadas e que ou usam suas reservas, ou buscam financiamento. E junto a isso o gasto do governo agregado amplia o impacto da demanda efetiva sobre o PIB. Lula apelidou esta política de “marolinha”.
          
4. A dinâmica desse processo é que é o problema. Os chamados fundamentos macroeconômicos são mais controláveis em níveis menores de déficit público, inflação e flutuação cambial. Quando o déficit público nominal cresce (na União Europeia o limite desejado é de 3% do PIB) e se realimenta, a inflação cresce realimentada pela mesma e pelo déficit público nominal, a dívida pública cresce pelas mesmas razões e o câmbio flutua ao sabor das incertezas, o keynesianismo de esquerda perde o controle da política econômica. A dívida pública cresce. Aqui, como seu serviço está excluído do cálculo, seu verdadeiro impacto fica oculto.
          
5. Num regime democrático – ou pelo menos com eleições abertas – o abuso do keynesianismo é diretamente proporcional aos riscos de perder o poder. Assim tem sido no Brasil em 2010 e 2014 e na Argentina e Venezuela. A política econômica dos governos do PT nunca foi “responsável”, como se alardeou no início do ciclo em 2003. Aliás, o deputado e ministro José Dirceu foi claro quanto a isso num discurso interno gravado com câmera oculta e divulgado pela TV Globo. Algo assim: Peço às companheiras e companheiros que entendam. A correlação de forças nesse momento não permite que a política econômica avance como desejaríamos. Nossas ideias estão presentes na política externa.

6. E assim foi. O mensalão impediu a antecipação dos desejos do PT. Mas a vitória de Lula em 2006 soltou as amarras e daí para frente o keynesianismo de esquerda dirigiu a política econômica. Só se falava em despesas: vide o PAC e suas tabelas de gastos. Até se chegar em 2014 com um déficit público nominal de 6,7% do PIB mais que o dobro do limite recomendado pela União Europeia, que marcou as crises na Espanha, Itália, Portugal e Grécia.
          
7. Quanto à política externa... bem... o Brasil é parte do bolivarianismo. Especula-se até se a crise financeira atual do Itamarati não é desejada e parte da política externa do PT. 
Título e Texto: Cesar Maia, 6-2-2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-