Cesar Maia
1. Aqueles que interpretam a crise fiscal do governo federal como
desvios de gestão da política econômica do PT, equivocam-se. A política fiscal
de partidos ditos de esquerda é sempre keynesiana, ou seja, usando o déficit
público como acelerador da demanda com vistas ao crescimento e impulsionador
das prioridades do governo. Assim tem sido sempre na América Latina. Vide Chile
no início dos anos 70 e, agora, nos últimos anos a Venezuela e a Argentina.
Ah... e o Brasil.
2. A inflação resultante do déficit público é vista positivamente
por estes partidos e governos: é uma fonte de receita para o governo por um
lado e redução real de suas próprias despesas. O conceito de déficit primário
criado durante a hiperinflação encaixa-se como luva nesse tipo de política
fiscal. Afinal, se o déficit público impacta a dívida pública, nada mais
adequado que excluir o serviço da dívida pública das despesas para fins de
cálculo do déficit.
3. Enquanto for possível aumentar a carga tributária, as distorções
dessa política são mitigadas. Lembre-se que os keynesianos de esquerda
(kaleckianos) entendem que o aumento de impostos sobre as empresas até ativa a
economia, pois no momento em que ocorre, as decisões de investimentos das
empresas já estão tomadas e que ou usam suas reservas, ou buscam financiamento.
E junto a isso o gasto do governo agregado amplia o impacto da demanda efetiva
sobre o PIB. Lula apelidou esta política de “marolinha”.
4. A dinâmica desse processo é que é o problema. Os chamados
fundamentos macroeconômicos são mais controláveis em níveis menores de déficit
público, inflação e flutuação cambial. Quando o déficit público nominal cresce
(na União Europeia o limite desejado é de 3% do PIB) e se realimenta, a
inflação cresce realimentada pela mesma e pelo déficit público nominal, a
dívida pública cresce pelas mesmas razões e o câmbio flutua ao sabor das
incertezas, o keynesianismo de esquerda perde o controle da política econômica.
A dívida pública cresce. Aqui, como seu serviço está excluído do cálculo, seu
verdadeiro impacto fica oculto.
5. Num regime democrático – ou pelo menos com eleições abertas – o
abuso do keynesianismo é diretamente proporcional aos riscos de perder o poder.
Assim tem sido no Brasil em 2010 e 2014 e na Argentina e Venezuela. A política
econômica dos governos do PT nunca foi “responsável”, como se alardeou no
início do ciclo em 2003. Aliás, o deputado e ministro José Dirceu foi claro
quanto a isso num discurso interno gravado com câmera oculta e divulgado pela
TV Globo. Algo assim: Peço às companheiras e companheiros que entendam. A
correlação de forças nesse momento não permite que a política econômica avance
como desejaríamos. Nossas ideias estão presentes na política externa.
6. E assim foi. O mensalão impediu a antecipação dos desejos do PT.
Mas a vitória de Lula em 2006 soltou as amarras e daí para frente o
keynesianismo de esquerda dirigiu a política econômica. Só se falava em
despesas: vide o PAC e suas tabelas de gastos. Até se chegar em 2014 com um
déficit público nominal de 6,7% do PIB mais que o dobro do limite recomendado
pela União Europeia, que marcou as crises na Espanha, Itália, Portugal e
Grécia.
7. Quanto à política externa... bem... o Brasil é parte do
bolivarianismo. Especula-se até se a crise financeira atual do Itamarati não é
desejada e parte da política externa do PT.
Título e Texto: Cesar Maia, 6-2-2015
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