quarta-feira, 1 de abril de 2015

Crônica de Shangri-La: um dedinho de prosa

José Manuel


– Bom dia, senhora Presidenta, aqui está o seu desjejum.
– Tá tudo aí? Ovos fritos, torradas, geleias, brioches, sucos, café, os biscoitinhos?
– Sim senhora, conforme o seu pedido por escrito à copa.
– Então xispa, se manda logo.

– Preciso de um dedinho de prosa com a senhora.
– Antes do meu café? Nem a pau, nunquinha.
– É do seu interesse e segurança pessoal, senhora.
– Você continua um porre, mas vá lá, vá falando enquanto eu como, porque não tenho tempo para as suas bobagens.

– Obrigado, mas temo não serem bobagens o que tenho para lhe falar.
– Desembucha logo.
– Como a senhora já sabe, sou do povo e moro na periferia, mais precisamente na cidade satélite de Ceilândia.
– E daí?

– Daí que apesar de ser funcionária pública, serviçal como a senhora diz que sou, e estar a seu serviço, convivo diariamente com o povaréu que não está lá muito satisfeito com a senhora e o seu governo.
– Hum… vai falando, fala mais.

– Pois é, senhora, aquela manifestação em pleno dia 13 de março, numa sexta-feira, além de lembrar muito o da central do Brasil em 1964, no mesmo dia, não só atrapalhou todo o mundo, pois era um dia de trabalho normal, deixou mais irritados ainda os que já estavam descontentes com o seu governo, e que além de ter sido feita por centrais de trabalhadores que não trabalham, vai alimentando cada vez mais as outras, dos que trabalham e programadas daqui para a frente, nos domingos em que todos vão para a rua reclamar da senhora.

– Você acha? O que que é tão falando lá na sua comunidade?
– Já tem muita gente desempregada, a senhora mexeu no seguro desemprego, está atrasando o bolsa família e o Pronatec que tanto falou durante a campanha, o Fies, financiamento estudantil foi pro buraco, não deu aumento para todos os aposentados, está cheio de haitianos, africanos, cubanos por lá e o pessoal que mora na cidade não está gostando nada disso.

– Quê mais? Anda, diz tudo.
– Estão dizendo que vão pedir o impedimento da senhora como Presidenta e que não querem aqueles estrangeiros por lá fazendo favelas, tomando os seus empregos, vendendo contrabando pelas ruas e mendigando nas esquinas. Estão falando até em tomar uma atitude contra isso.

 – Que atitude?
– Não sei e é por isso que resolvi falar com a senhora antes que seja tarde.
– Como assim, de que é que você está falando?
– Não sei e é por isso que estou aqui e com receio. Desculpe o meu atrevimento, mas por que a senhora não faz como o Jânio?

– O tal de Freitas? Não quero saber de jornalistas…
– Não, o Quadros, aquele que pediu para sair e depois ficou numa boa com todo o mundo.
– Você tá me afrontando e quer ver de novo uma ditadura ser implantada por aqui. Tá com saudade?
– De jeito nenhum, até porque desta vez seria diferente daquela época, que era uma bagunça, e também a senhora tem que ver que o seu vice, não é o Jango, que o pessoal da caserna não gostava.

– Tá, e o que você quer que eu faça se o nosso líder espiritual e o "italiano" querem que fique tudo como está?
– Foi bom a senhora ter falado nisso, porque também estão dizendo que todos os caminhos não levam mais a Roma, mas a São Bernardo do Campo.
– Sim, e aí?
– Eu não quero que aconteça com a senhora o que aconteceu na Itália, no Iraque e na Líbia, assim mesmo nessa ordem, porque apesar de tudo a senhora sempre me tratou bem.

– Não entendi.
– Tá na internet, é só pesquisar e deixe para lá essas broncas todas para o seu vice resolver, vá passear, vá viver a sua vida e esqueça isso que está fazendo muito mal à sua saúde.
– Mas eu sou a Presidenta!

– Bobagem, senhora, os cargos passam, a sua saúde é que é importante, e olhando para o seu semblante vejo que está emagrecendo cada vez mais, seu rosto está cansado, e não vale a pena agora com esse Congresso, pois é dar murro em ponta de faca, e a senhora não vai conseguir fazer nada. Não se esqueça das forças ocultas.

– Você acha que isso existe mesmo?
– Está cheio, principalmente aqui no palácio e à sua volta, só a senhora não enxerga.
– Tem a certeza disso?
– Absoluta, porque eu vejo e escuto a todo o momento, e se assim desejar, como a sua bolsa com os óculos, o passaporte, os dicionários e o chapéu já estavam prontos, posso também providenciar a sua mala, com todo o respeito e em nome da sua saúde.

– Estou pensando e te digo depois.
– Com licença, senhora, posso retirar a bandeja?
– Sim, já terminei e pode ir embora.

“Arre, até que enfim foi-se, mas será que ela está falando a verdade sobre as forças ocultas e tem alguma razão em tudo o que me disse, afinal, dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Pelo sim pelo não….”
– Telefonista, me liga com São Bernardo” 
Título e Texto: José Manuel, 1-4-2015
Nota: a descritiva nas crônicas por mim publicadas é o resultado de pesquisa em notícias veiculadas em mídia nacional idônea, apenas compondo um pensamento lastreado em liberdade de expressão e ancorado no Artigo 5 inciso IX, da constituição Federal de 1988.

Relacionados:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-