José Manuel
– Bom dia, senhora Presidenta,
aqui está o seu desjejum.
– Tá tudo aí? Ovos fritos,
torradas, geleias, brioches, sucos, café, os biscoitinhos?
– Sim senhora, conforme o seu
pedido por escrito à copa.
– Então xispa, se manda logo.
– Preciso de um dedinho de
prosa com a senhora.
– Antes do meu café? Nem a
pau, nunquinha.
– É do seu interesse e
segurança pessoal, senhora.
– Você continua um porre, mas
vá lá, vá falando enquanto eu como, porque não tenho tempo para as suas
bobagens.
– Obrigado, mas temo não serem
bobagens o que tenho para lhe falar.
– Desembucha logo.
– Como a senhora já sabe, sou
do povo e moro na periferia, mais precisamente na cidade satélite de Ceilândia.
– E daí?
– Daí que apesar de ser
funcionária pública, serviçal como a senhora diz que sou, e estar a seu
serviço, convivo diariamente com o povaréu que não está lá muito satisfeito com
a senhora e o seu governo.
– Hum… vai falando, fala mais.
– Pois é, senhora, aquela
manifestação em pleno dia 13 de março, numa sexta-feira, além de lembrar muito
o da central do Brasil em 1964, no mesmo dia, não só atrapalhou todo o mundo,
pois era um dia de trabalho normal, deixou mais irritados ainda os que já
estavam descontentes com o seu governo, e que além de ter sido feita por
centrais de trabalhadores que não trabalham, vai alimentando cada vez mais as
outras, dos que trabalham e programadas daqui para a frente, nos domingos em
que todos vão para a rua reclamar da senhora.
– Você acha? O que que é tão
falando lá na sua comunidade?
– Já tem muita gente
desempregada, a senhora mexeu no seguro desemprego, está atrasando o bolsa
família e o Pronatec que tanto falou durante a campanha, o Fies, financiamento
estudantil foi pro buraco, não deu aumento para todos os aposentados, está
cheio de haitianos, africanos, cubanos por lá e o pessoal que mora na cidade
não está gostando nada disso.
– Quê mais? Anda, diz tudo.
– Estão dizendo que vão pedir
o impedimento da senhora como Presidenta e que não querem aqueles estrangeiros
por lá fazendo favelas, tomando os seus empregos, vendendo contrabando pelas
ruas e mendigando nas esquinas. Estão falando até em tomar uma atitude contra
isso.
– Não sei e é por isso que
resolvi falar com a senhora antes que seja tarde.
– Como assim, de que é que
você está falando?
– Não sei e é por isso que
estou aqui e com receio. Desculpe o meu atrevimento, mas por que a senhora não
faz como o Jânio?
– O tal de Freitas? Não quero
saber de jornalistas…
– Não, o Quadros, aquele que
pediu para sair e depois ficou numa boa com todo o mundo.
– Você tá me afrontando e quer
ver de novo uma ditadura ser implantada por aqui. Tá com saudade?
– De jeito nenhum, até porque
desta vez seria diferente daquela época, que era uma bagunça, e também a
senhora tem que ver que o seu vice, não é o Jango, que o pessoal da caserna não
gostava.
– Tá, e o que você quer que eu
faça se o nosso líder espiritual e o "italiano" querem que fique tudo
como está?
– Foi bom a senhora ter falado
nisso, porque também estão dizendo que todos os caminhos não levam mais a Roma,
mas a São Bernardo do Campo.
– Sim, e aí?
– Eu não quero que aconteça
com a senhora o que aconteceu na Itália, no Iraque e na Líbia, assim mesmo
nessa ordem, porque apesar de tudo a senhora sempre me tratou bem.
– Não entendi.
– Tá na internet, é só
pesquisar e deixe para lá essas broncas todas para o seu vice resolver, vá
passear, vá viver a sua vida e esqueça isso que está fazendo muito mal à sua
saúde.
– Mas eu sou a Presidenta!
– Bobagem, senhora, os cargos
passam, a sua saúde é que é importante, e olhando para o seu semblante vejo que
está emagrecendo cada vez mais, seu rosto está cansado, e não vale a pena agora
com esse Congresso, pois é dar murro em ponta de faca, e a senhora não vai
conseguir fazer nada. Não se esqueça das forças ocultas.
– Você acha que isso existe
mesmo?
– Está cheio, principalmente
aqui no palácio e à sua volta, só a senhora não enxerga.
– Tem a certeza disso?
– Absoluta, porque eu vejo e
escuto a todo o momento, e se assim desejar, como a sua bolsa com os óculos, o
passaporte, os dicionários e o chapéu já estavam prontos, posso também
providenciar a sua mala, com todo o respeito e em nome da sua saúde.
– Estou pensando e te digo
depois.
– Com licença, senhora, posso
retirar a bandeja?
– Sim, já terminei e pode ir
embora.
“Arre, até que enfim foi-se,
mas será que ela está falando a verdade sobre as forças ocultas e tem alguma
razão em tudo o que me disse, afinal, dizem que a voz do povo é a voz de Deus.
Pelo sim pelo não….”
– Telefonista, me liga com São
Bernardo”
Título e Texto: José Manuel, 1-4-2015
Nota: a descritiva nas
crônicas por mim publicadas é o resultado de pesquisa em notícias veiculadas em
mídia nacional idônea, apenas compondo um pensamento lastreado em liberdade de
expressão e ancorado no Artigo 5 inciso IX, da constituição Federal
de 1988.
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