Cesar Maia
1. Curiosamente, a cada fase do processo de impeachment de Dilma,
desde antes de a denúncia ser aceita pelo presidente da Câmara de Deputados, o
uso do tempo pelo governo e pela oposição oscila.
2. Em um certo momento, os que defendem o impeachment querem
acelerar esse processo e em outro querem retardar. Da mesma forma, o governo
Dilma, em um certo momento, quer retardar e em outro quer acelerar.
3. Logo no início desse processo, os que defendem o impeachment
procuraram acelerar o processo. A Comissão especial foi constituída com rapidez
e foi sugerida a suspensão do recesso parlamentar. O governo recorreu ao STF,
que chamou a si a decisão sobre os passos e a forma de tramitar o impeachment.
4. O governo exaltou essa decisão como uma vitória sua. A
admissibilidade pela Câmara de Deputados, prevista para janeiro, foi revisita
para março-abril. Isso deu tempo para o governo iniciar ostensivamente a
cooptação de deputados, com cargos, ministérios e liberação de emendas.
5. A oposição mudou seu discurso e passou a afirmar que tramitar o
impeachment com as regras estabelecidas pelo STF era dar segurança jurídica
definitiva ao impeachment. A prisão do senador e líder do governo Delcidio
Amaral, e a concordância do Senado, produziu uma inversão de expectativas:
governo pessimista quanto ao impeachment e oposição otimista.
6. Aprovada a admissibilidade na Câmara por 71% dos Deputados, e
encaminhada ao Senado, não havia mais dúvida que o Senado acompanharia a
Câmara. Bastava maioria simples. Mas foi aprovada por 2/3, ou seja, quórum para
o impeachment definitivo.
7. Temer assumiu a presidência com o afastamento de Dilma.
Constituído o gabinete e, em especial, a equipe econômica. Mantidos os vetos e
aprovado o teto fiscal, o novo governo e sua base parlamentar passaram a dar
prioridade a acelerar ação da votação do impeachment. Setembro e não 6 meses.
E, em seguida, passou-se a acelerar ainda mais para o final de agosto. E o
governo Dilma tentando levar o impeachment para o limite.
8. Mas surgiram os grampos de Sergio Machado, comprometendo parte
da cúpula do PMDB e levando à saída do ministro Romero Jucá. Os “macháudios” se
multiplicaram em sua delação premiada. Inverteu-se outra vez a ordem de
prioridade. Parte dos que defendem o impeachment passaram a achar melhor ganhar
tempo para que as delações premiadas da Odebrecht e OAS sejam aprovadas.
9. A partir do momento dessas novas futuras delações, Lula e Dilma
entram na dança e se desloca os macháudios para um segundo plano. Em que tempo
ainda não sabem, mas, certamente, não mais em agosto. Agora, Dilma quer
acelerar, aproveitando alguma confusão no Senado. E sua oposição prefere
administrar o tempo até que Dilma e Lula estejam no foco das delações premiadas
da Odebrecht e da OAS e só macháudios tenham sua importância minimizada.
Título e Texto: Cesar Maia, 1-6-2016
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