Helena Matos
Todos os dias vemos crescer, qual polvo,
dentro do Estado, os tentáculos da ideologia. Na Educação, na Saúde, no
Trabalho. Quando a geringonça se desfizer o polvo lá ficará trabalhando para
ela.
Menos Matemática e menos
Português. Mais ideologia e muita conversa da treta, ou seja, o regresso da
Cidadania e Área de Projeto. À primeira vista é o que se oferece dizer sobre as
mudanças curriculares agora anunciadas. Claro que também se pode acrescentar
que se adivinha promissor o negócio das explicações de Português e Matemática e
dos colégios particulares (os tais que a abastada esquerda caviar diz escolher
não por causa dos bons resultados mas sim por causa dos horários ou até por
simples acaso, como sucede com a senhora secretária de Estado da Educação cujas
filhas frequentam por acaso, mas só por acaso, uma escola alemã) pois as
disciplinas de Cidadania e a Área de Projeto não servem para nada de nada a não
ser, claro, para doutrinar as crianças e jovens.
Como é óbvio a quem tenha
minimamente acompanhado o que se ministra nessas aulas, elas versam as
maravilhas do socialismo ou melhor dizendo denunciam a infâmia do capitalismo e
da indústria, exaltam o regresso a uma economia de trocas, a superioridade das
causas fracturantes do momento e, como ensina a experiência de quem foi
encarregada de educação nos tempos em essas disciplinas existiam, afetam horas
e horas à problemática da turma, o que está a acontecer à turma, o que vai
fazer a turma…
O ataque às escolas com
contrato de associação já o anunciara: não são os resultados escolares que
importam ao Ministério da Educação, mas sim garantir o poder da corporação do
senhor Nogueira e do PCP e fazer da sala de aula um espaço de ideologia à
espera das causas inventadas e por inventar pelas agremiações que pululam em
torno de BE e do PS.
Mas o fenómeno que estamos a viver
é muito mais amplo que uma simples mudança curricular. E está longe de se
restringir à Educação. Se repararmos, em nome de causas apresentadas como
progressistas, todas as semanas vemos crescer, qual polvo, dentro do Estado, os
tentáculos da ideologia: uma semana são os curricula que
perdem conteúdos para dar lugar aos comportamentos; na outra as comissões para
avaliar o racismo e o que é o racismo e porque não há queixas por racismo; na
outra e na outra, que o assunto é muito sério e rentável, a reversão da
legislação do trabalho, oficialmente sempre em nome dos trabalhadores e na
prática um esquema em que estruturas cada vez menos representativas tratam de
blindar o seu monopólio na contratação coletiva.
Dos efeitos devastadores da atividade
dos comissários-tentáculos não me restam dúvidas, seja nas escolas, seja na
legislação laboral, seja na saúde, seja nesses bairros das periferias onde,
certamente inspirados pelo exemplo francês, ativistas vários tentam criar casos
que uma comunicação social cada vez mais a trabalhar nas redes sociais e menos
na rua transmite sem qualquer noção da realidade. (Quando foi a última vez que
um jornalista foi ao Bairro 6 de Maio na Damaia sem ser tutelado por um ativista,
cientista social ou membro de uma associação?)
O controlo ideológico das
decisões técnicas, que há anos parecia impossível, acontece agora sem gerara
quaisquer perguntas. Veja-se, por exemplo, o caso da integração dos gays na
população de risco para dádiva de sangue: a Direção-geral de Saúde defende que
existe risco ou pelo menos defendia até 17 deste mês. Mas os “ativistas” e o
polvo ideológico defendem que não e basta tal acontecer para que logo apareçam
os títulos que fazem a desgraça de qualquer ser com existência pública.
Resultado, a DGS mudou as suas normas. Discussão sobre o assunto? Nenhuma. Há
risco? Não sabemos.
É este polvo, muito mais do
que a economia ou as finanças, que vai condicionar Portugal nos próximos anos.
Porque mesmo quando a geringonça se desfizer, eles, os comissários, vão ficar
lá, blindados nas funções criadas à sua medida, nos seus cargos ideológicos,
nos seus programas que implicam sempre mais programas. O dízimo que Costa está
a pagar à esquerda radical vai atrasar-nos anos e anos e aumentará em muito a
conflitualidade pois o preço da descrispação presente é a enorme crispação
futura que teremos de suportar. Por cada dia de silêncio e descrispação é mais
uma comissão nomeada, um programa aprovado, um plano equacionado. Todos durante
anos e anos vão determinar não só o que podemos fazer, mas também o que devemos
pensar e sobretudo o que devem pensar os nossos filhos e netos.
E aqui chegamos ao que me
intriga: como vai ser o pós-polvo? Ou melhor dizendo, como vai ser o momento em
que a geringonça sair do governo e lá deixar, trabalhando para si, o polvo?
Voltaremos ao tempo em que os ministros da Educação viviam sitiados na 5 de outubro?
Provavelmente sim, mas
sobretudo veremos como esse estado dentro do estado, na verdade a sua casta,
usará todos os meios ao seu alcance para manter os seus privilégios e poderes
não escrutinados e desse modo prolongar a geringonça muito para lá da sua vida
eleitoral.
Que governo lidará ou pactuará
com isto? Terá o centrão de regressar para desalojar o polvo? Não sei. Mas sei
que seja quem for não vão ser tempos fáceis de viver.
PS. Curiosamente
quanto menos sei sobre um futuro governo mais claro se me afigura o que pode
acontecer na Presidência da República: caso se consiga demitir a tempo – ou
seja antes de se tornar óbvia a fatura da reposição e das reversões – e com uma
boa desculpa, muito provavelmente António Costa será candidato nas próximas
presidenciais e ainda mais provavelmente ganhará pois Marcelo, mesmo que conte
com a indiferença do PSD, dificilmente contará com o voto dos eleitores do PSD
ou do CDS.
Título e Texto: Helena Matos, Observador, 20-2-2017
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-