sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Onde estão os hipócritas defensores dos direitos humanos?

Cristina Miranda

Há um silêncio ensurdecedor à volta do que se passa na Venezuela. A começar pela comunicação social, essa aliada do governo em ofuscar, omitir ou atenuar tudo o que possa beliscar quem manda agora neste país. Eles que não nos poupam com o Trump seja porque bebeu água com as duas mãos, seja por causa de uns exames médicos que fez, seja por umas calinadas linguísticas, aqui tudo é importante escrutinar TODOS OS DIAS (tudo que não seja positivo, claro) sobre essa criatura. E a Venezuela com mais de 500 mil luso-descendentes a morrer à fome, miséria, opressão, não interessa? Onde estão agora, também, os intelectuais e os políticos que tinham em Maduro uma referência política? Ficaram mudos por quê? Estes portugueses não interessam a ninguém?

A Venezuela está a ser assassinada por um louco que mata a economia apesar de ser um grande produtor de petróleo (mas que ironia!), provocando escassez severa de alimentos com uma inflação de mais de 2,300%. Que mata opositores, entre eles Oscar Perez. Que mata o povo por falta de assistência médica. Que mata crianças por falta de comida. Um louco fanático que para não reconhecer o fracasso das suas políticas de esquerda rejeita apoio internacional. Mas um louco com lucidez suficiente para desarmar a população e aceitar ajuda de Cuba com milícias da sua tropa de elite, as “Vespas Negras “, para oprimir movimentos populares usando qualquer método dissuasivo como tortura ou morte. Com lucidez suficiente para comprar pessoas com caixas de comida barata para assegurar votos sob coação e manter-se eternamente no poder (não sei o que isto me lembra).

Entretanto há trinta e um milhões de pessoas desesperadas para sobreviver à morte certa. Fugas em massa com quilómetros de fila para a Colômbia, assaltos a supermercados e armazéns de comida, apedrejamento de vacas em propriedades privadas para matar a fome, a comerem do lixo, a comerem alimento para cães, com a ONU a observar, observar, observar… que é o que de melhor sabe fazer. Observar. No meio deste observatório todo, marca debates, uns atrás dos outros, e vejam só, até houve lugar a elogios ao esforço da Venezuela ao introduzir uma série de medidas em linha com as que foram recomendadas por Alfred de Zayas, (especialista independente da ONU para a promoção de uma ordem internacional democrática e equitativa), para melhorar a distribuição de alimentos e medicamentos. Está-se mesmo a ver o esforço de Maduro. Até lhe sinto o suor daqui… Francamente!

María Carolina Merchán (á direita), que pesa 29kg, com sua filha Marianyerlis, de seis anos, na casa da família em Ocumaré de Tuy, na Venezuela. Foto: Meredith Kohut/The New York Times


A História já nos demonstrou que com loucos tem de haver uma ação drástica por parte da Comunidade Internacional para resgatar os povos da morte e não esta hipocrisia monumental do “faz de conta que não é assim tão grave”. Lembram-se do holocausto nazi? Enquanto decorria quem conseguiu escapar denunciou a chacina. Revelou os campos de concentração. Que fizeram os aliados? No imediato, nada. Só dois anos e meio depois. Porque se o tivessem feito, muitas vidas teriam sido poupadas. Factos.

Nem mesmo com as evidências todas de uma nação literalmente a morrer de fome (veja aqui) a Comunidade Internacional se mexe para acudir a esta catástrofe humanitária. Onde andam os histéricos defensores dos direitos do homem? Não andam. Sumiram.

Quem sabe se isto fosse antes um caso de pseudo assédio de artistas de Hollywood ou uma manifestação contra Trump ou alguém a manifestar-se contra a islamização da Europa, a agitação não fosse maior e aí já teria destaque no “prime time” televisivo. A toda a hora.

Quem sabe? 
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias, 19-1-2018

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Um comentário:

  1. Resposta ao título do texto: escondidos na própria couraça da hipocrisia. Na verdade, os direitos humanos, para esse seguimento de crianças desamparadas, não existe. Direitos humanos existe, para os ricos, os poderosos, os filhinhos de papai, os santinhos do pau-oco.
    O resto, é pura história pra boi dormir.

    Aparecido Raimundo de Souza, 64 anos, jornalista.

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