A escolha da Rússia pela FIFA como país organizador do Campeonato do Mundo de futebol de 2018 revela, antes de mais nada, que estas opções - se é que alguém ainda tinha dúvidas - são políticas.
Ao optar pelo país dos czares, a Federação Internacional de Futebol dá um sinal de que a Rússia está de regresso (como se não tivesse estado apenas adormecida) ao estatuto de grande potência mundial.
Contudo, a FIFA fez mais. Ao contrário das vozes desalentadas pelo insucesso da candidatura ibérica, que nos discursos politicamente correctos afirmaram que "não se pode ganhar sempre", julgo que os "deuses do futebol" estiveram com Portugal.
Passo a explicar. Dando de barato que a realização conjunta deste campeonato do mundo traria benefícios económicos a Portugal, a verdade é que, politicamente, nos colocava (ainda mais do que a candidatura o fez) de cócoras face a Espanha. A disparidade no que respeita ao número de estádios que compunham o caderno de encargos, a distribuição desequilibrada do número de jogos de um e de outro lado da fronteira (e sei bem que estas hoje são apenas formais), e já nem falo do facto de os jogos mais importantes se realizarem (caso tivéssemos recebido luz verde da FIFA) em casa de nuestros hermanos. Houve ainda um filme lamentável de apresentação da candidatura e outros factos de menor relevo.
É certo que a Espanha é maior que Portugal, quer no plano geográfico e populacional quer no plano económico. E, quer queiramos quer não, estas coisas, obviamente, contam. Mas que diabo! Também não precisamos de nos apoucar. De permitir que continuem a olhar-nos como mais uma província espanhola. Porque essa, não tenhamos ilusões, foi a imagem que passou de nós. E nós não precisávamos disto.
Portugal já organizou sozinho vários acontecimentos de relevo, nos planos desportivo, cultural e até político. Foram os casos das inúmeras cimeiras internacionais que desde os governos de Cavaco Silva somos chamados a organizar, da Expo 98, da Masters Cup em ténis ou do Euro 2004, para citar apenas alguns exemplos. Em todos eles mostrou competência e capacidade. Não precisava, pois, desta má opção que foi aceitar colocar-se numa posição de inferioridade voluntária em relação à Espanha.
Deste embaraço já não nos livramos. Porém, a FIFA poupou-nos a um ainda maior. O de aparecermos, de facto, aos olhos do mundo - felizmente, a candidatura ibérica passou relativamente despercebida à escala global - como mais uma província espanhola.
Nuno Saraiva, Diário de Notícias, 04-12-2010
A FIFA, como o Comitê Olímpico Internacional, têm feito as suas escolhas, ou decisões, exclusivamente por razões e injunções políticas. Ponto.
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