quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os assaltantes da consciência: duas visões da manipulação das multidões

Mauro Santayana
Muitos cometem o engano de atribuir a Goebbels a ideia da manipulação das massas pela propaganda política. Antes que o ministro de Hitler cunhasse expressões fortes, como Deutschland, erwacht!, Edward Bernays começava a construir a sua excitante teoria sobre o tema.

Bernays, nascido em Viena, trazia a forte influência de Freud: era seu duplo sobrinho. Sua mãe foi irmã do pai da psicanálise, e seu pai, irmão da mulher do grande cientista. Na realidade, Bernays teve poucas relações pessoais com o tio. Com um ano de idade transferiu-se de Viena para Nova York, acompanhando os seus pais judeus. Depois de ter feito um curso de agronomia, dedicou-se muito cedo a uma profissão que inventou, a de Relações Públicas, expressão que considerava mais apropriada do que “propaganda”.

Combinando os estudos do tio sobre a mente e os estudos de Gustave Le Bon e outros, sobre a psicologia das massas, Bernays desenvolveu a sua teoria sobre a necessidade de manipular as massas, na sociedade industrial que florescia nos Estados Unidos e no mundo. O texto que se segue é ilustrativo de sua conclusão:

“A consciente e inteligente manipulação dos hábitos e das opiniões das massas é um importante elemento na sociedade democrática. Os que manipulam esse mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível, o verdadeiro poder dirigente de nosso país. Nós somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos formados, nossas ideias sugeridas amplamente por homens dos quais nunca ouvimos falar. Este é o resultado lógico de como a nossa “sociedade democrática” é organizada. Vasto número de seres humanos deve cooperar, desta maneira acomodada, se eles têm que conviver em sociedade. Em quase todos os atos de nossa vida diária, seja na esfera política ou nos negócios, em nossa conduta social ou em nosso pensamento ético, somos dominados por um relativamente pequeno número de pessoas. Elas entendem os processos mentais e os modelos das massas. E são essas pessoas que puxam os cordões com os quais controlam a mente pública”.

Bernays entendeu que essa manipulação só é possível mediante os meios de comunicação. Ao abrir a primeira agência de comunicação em Nova York, em 1913 – aos 22 anos – ele tratou de convencer os homens de negócios que o controle do mercado e o prestígio das empresas estavam “nas notícias”, e não nos anúncios. Foi assim que inventou o famoso press release. Coube-lhe também criar “eventos”, que se tornariam notícias. Patrocinou uma parada em Nova York na qual, pela primeira vez, mulheres eram vistas fumando. Contratou dezenas de jovens bonitas, que desfilaram com suas longas piteiras – e abriu o mercado do cigarro para o consumo feminino. Dele também foi a ideia de que, no cinema, o cigarro tivesse, como teve, presença permanente – e criou a “merchandising”. É provável que ele mesmo nunca tenha fumado – morreu aos 103 anos, em 1995.

A prevalência dos interesses comerciais nos jornais e, em seguida, nos meios eletrônicos, tornou-se comum, depois de Bernays, que se dedicou também à propaganda política. Foi consultor de Woodrow Wilson, na Primeira Guerra Mundial, e de Roosevelt, durante o “New Deal”. É difícil que Goebbels não tivesse conhecido seus trabalhos.

A técnica de manipulação das massas é simples, sobretudo quando são conhecidos os mecanismos da mente

A técnica de manipulação das massas é simples, sobretudo quando se conhecem os mecanismos da mente, os famosos instintos de manada, aos quais também ele e outros teóricos se referem. O “instinto de manada” foi manipulado magistralmente pelos nazistas e, também ali, a serviço do capitalismo. Krupp e Schacht tiveram tanta importância quanto Hitler. Mas, se sem Hitler poderia ter havido o nazismo, o sistema seria impensável sem Goebbels. E Goebbels, ao que tudo indica, valeu-se de Bernays, Le Bon e outros da mesma época e de ideias similares.

A propósito do “instinto de manada” vale a pena lembrar a definição do fascismo por Ortega y Gasset: um rebanho de ovelhas acovardadas, juntas umas às outras pelo com pelo, vigiadas por cães e submissas ao cajado do pastor. Essa manipulação das massas é o mais forte instrumento de dominação dos povos pelas oligarquias financeiras. Ela anestesia as pessoas — mediante a alienação — ao invadir a mente de cada uma delas, com os produtos tóxicos do entretenimento dirigido e das comunicações deformadas. É o que ocorre, com a demonização dos imigrantes “extracomunitários” nos países europeus, mas, sobretudo, dos procedentes dos países islâmicos. Acossados pela crise econômica, nada melhor do que encontrar um “bode expiatório” — como foram os judeus para Hitler, depois da derrota na Primeira Guerra — e, desesperadamente, organizar nova cruzada para a definitiva conquista da energia que se encontra sob as areias do Oriente Médio. Se essa conquista se fizer, há outras no horizonte, como a dos metais dos Andes e dos imensos recursos amazônicos. Não nos esqueçamos da “missão divina” de que se atribuía Bush para a invasão do Iraque — aprovada com entusiasmo pelo Congresso.

É preciso envenenar a mente dos homens, como envenenada foi a inteligência do assassino de Oslo — e desmoralizar, tanto quanto possível, as instituições do Estado Democrático — sempre a serviço dos donos do dinheiro. Quem conhece os jornais e as emissoras de televisão de Murdoch sabe que não há melhor exemplo de prática das ideias de Bernays e Goebbels do que a sua imensa empresa.

São esses mesmos instrumentos manipuladores que construíram o Partido Republicano americano e hoje incitam seus membros a impedir a taxação dos ricos para resolver o problema do endividamento do país, trazido pelas guerras, e a exigir os cortes nos gastos sociais, como os da saúde e da educação. Essa mesma manipulação produziu Quisling, o traidor norueguês a serviço de Hitler durante a guerra, e agora partejou o matador de Oslo.
Mauro Santayana, Jornal do Brasil, 29-07-2011

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Sem dúvida. A mentira repetida – a soma de mentira ou falsidades múltiplas – pode erigir-se à verdade (pseuda), sobretudo em nosso mundão midiático.

Os sofistas se movimentam no terreno das aparências dos fenômenos.

Essa técnica - velha como 'rascunho da Bíblia' foi denominada por ARISTÓTELES de sofística – “a sabedoria (sapientia) aparente, mas não real” (El. Soph., 1, 165 a 21), e que passou a indicar a habilidade de aduzir argumentos capciosos e enganosos.

O autor do artigo “Os assaltantes da consciência” argumenta muito bem com o ‘apoio’ do mestres na manipulação das massas e até de JOSÉ ORTEGA Y GASSET para concluir cínica e perversamente:

“São esses mesmos instrumentos manipuladores que construíram o Partido Republicano americano e hoje incitam seus membros a impedir a taxação dos ricos para resolver o problema do endividamento do país, trazido pelas guerras, e a exigir os cortes nos gastos sociais, como os da saúde e da educação. Essa mesma manipulação produziu Quisling, o traidor norueguês a serviço de Hitler durante a guerra, e agora partejou o matador de Oslo.”

A refutação desta perversa falácia não pode nem deve cessar. É conhecido o viés esquerdista do autor e todos sabemos que a doutrinação com o objetivo de doutrinar as massas é promovido pelas esquerdas a partir da (de) formação escolar.

O Partido Republicano e o Tea Party nos EUA opõem-se justamente ao avanço do Estado sobre as liberdades individuais e pelo que se sabe não há notícia de doutrinação no sentido de ‘dominação das massas’ ou de violência política.

Quem procura degradar as instituições e a sociedade são justamente os adeptos do socialismo, vulgarmente conhecido como comunismo, apresentado sob as mais diversas variantes.

O fato é que durante todo o século passado o mundo assistiu estupidificado o experimento em que os devotos do materialismo (dialético, ‘histórico’) - doutrina oficial da ideologia conhecida como comunismo – acreditavam na bela idéia abstrata de emancipar/salvar a humanidade enquanto concretamente censuravam, prendiam, torturavam, matavam milhões de pessoas reais dessa mesma humanidade. O ABSOLUTO do abstrato fascinava, mas o concreto – o ser humano – era odiado

Basta observar que eles ainda continuam adorando o democida (asssassino dos cidadãos de seu próprio país) – Fidel Castro, Chávez Frías, o terrorista e seqüestrador Manuel Marulanda, vulgo Tirofijo, o sanguinário Ernesto Che Guevara, além é claro de Lênin, Stalin, Mao.

Porém, é Donoso Cortés quem adverte:
Os séculos dos argumentadores são os séculos dos sofistas e os séculos dos sofistas são os séculos das grandes decadências. Por trás dos sofistas surgem sempre os bárbaros, enviados por Deus, para cortar com a espada o fio do argumento.” (Juan Francisco María de la Salud Donoso Cortés), Marquês de Valdegamas, filósofo – 1809-1853.

Afinal há o que se denomina ‘demência das massas’ – caracterizado por delírios populares e a loucura das multidões – em que indivíduos habitualmente sensatos e inteligentes se convertem em massa de idiotas quando atuam coletivamente, identificada pelo escocês CHARLES MACKAY em 1841, que trabalhava no periódico londrino The Morning Chronical. No Brasil – tivemos no início do século passado a revolta das vacinas no Rio de Janeiro.

CHARLES MACKAY - assim sintetizou sua ‘tese’: “A gente, é sabido, pensa em manadas; ver-se-á que também enlouquece em manadas e só recobra o juízo lentamente, um por um.”

Essa ‘tese foi posta em dúvida em nossa era da internet. Em 2004 JAMES SUROWIECKI – colunista da revista The New Yorker – propôs contraditar a sabedoria das multidões – num tratado que procura demonstrar como as multidões ou grupos de pessoas podem muitas vezes tomar decisões mais inteligentes que os especialistas e experts, sustentando que o valor agregado do conhecimento de milhões de pessoas é superior ao de indivíduos solitários, por mais experts que sejam em suas especialidades, e que as respostas da multidão são no mais das vezes acertadas quando as pessoas atuam independentemente, sem exercer influência uns sobre os outros, porém, ao mesmo tempo agindo subconscientemente como os demais. SUROWIECKI inicia seu argumento com uma anedota do cientista britânico FRANCIS GALTON. Em 1906 – durante uma feira agropecuária – GALTON se propões averiguar até que ponto poderia um grupo de 787 pessoas determinam o peso exato de um boi. Quando o peso do boi foi revelado – 543 quilogramas – resultou que a estimativa média da multidão havida sido – assombrosamente 542,5 quilogramas. O livro de SUROWIECKI se converteu em bestseller e o conceito – A SABEDORIA DAS MULTIDÕES (The wisdom of crowds) se popularizou no mundo corporativo.

Isso vem sendo utilizado por sítios como YAHOO, GOOGLE, MYSPACE e NETFLIX – baseada na ‘sorte’ do coletivismo online, onde cada vez mais aumentam os negócios e a circulação de dinheiro, e onde se mensura até a pauta de consumo em tempo real. Nesse sentido e objetivo os usuários dos computadores pessoais são vigiados onde quer que acessem a um sítio da Web.

RESUMINDO: a nível sociopolítico persiste em pleno século XXI o ‘Complexo de Fourier’ – mal socipsicológico descrito pelo economista austríaco – LUDWIG VON MISES – que aflige às esquerdas latino americanas e européias – configurando um raríssimo caso de igualitarismo psiquiátrico, onde o denominador comum está representado por um ‘sonho’ ou fuga de desejos reprimidos – que consiste em atribuir aos outros – à burguesia, ao imperialismo, ao capitalismo, ao ‘neoliberalismo’ os ‘males’ da fome, da violência, guerras e genocídios – e assim, sob o cunho de ‘reivindicações sociais’ – procuram ocultar suas amargas frustrações psicossociais.
O 'assalto' é contra a inteligência.
Rivadávia Rosa

2 comentários:

  1. Quando eu me preparava para denunciar o viés esquerdista e, portanto, manipulador da primeira parte do texto vi que outro já o fizera por mil. E muito mais habilmente.

    Quem gosta de bodes expiatórios são eles. Basta ver como tratam loucos como o matador de Oslo. Para eles não é que o sujeito seja um psicopata: ele é um extremista cristão de direita! Ah! Então é por isso...

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