Mário Soares começou na semana passada o seu
habitual artigo no Diário de Notícias com o humilde aviso: “Não sou profeta.” Mas, na verdade, é
isso mesmo que pretende ser. Afinal, essa é uma posição muito mais confortável
do que qualquer outra. Como primeiro-ministro nos anos 70, Mário Soares teve de
se preocupar com as contas e os salários que era preciso pagar e, por isso,
pediu ajuda ao FMI; hoje em dia, como “profeta”, os números não o incomodam
especialmente e, por isso, pode anunciar que “o caminho” de Portugal é “cortar
com o programa da troika”, que “pode ir ao ar”.
A autoconfiança de Mário Soares surgiu depois do
resultado das eleições francesas. Mas nem o PS português, que na falta de
ideias originais assumiu com gosto e zelo o papel de cheerleader de François Hollande, consegue acompanhar esta deriva
irresponsável que levaria o País definitivamente à bancarrota. Afinal, como se
percebe sem dificuldade, a diferença entre Hollande e Passos Coelho é a que
separa Portugal da França – ou seja, é a que separa um país dispensável de uma
potência indispensável.
Mário Soares, julgando-se infalível, profetizou o
fim do memorando da troika de forma unilateral – a opinião daqueles que nos
emprestaram dinheiro para sobreviver não o preocupa especialmente. Para ele, a
situação é muito fácil de resolver: “Não há dinheiro? Há sempre, desde que haja
vontade política para o arranjar.” Eis o programa perfeito: dinheiro “há sempre”.
Ficamos todos mais descansados.
Título e Texto:
Editorial “Sábado”, nº 419, de 10 a 16 de maio de 2012
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