José Carlos Bolognese
Afundou tanto na cadeira da
sala de espera que até esqueceu que era feita de plástico duro. Sentindo-se
desconfortável, olhava com uma ponta de inveja para as outras pessoas que
tratavam de questões triviais com o gerente, como um novo cartão de crédito, uma
alteração qualquer na poupança, um seguro de carro, uma reclamação de algum
erro do banco.
Ah, como era bom nos tempos da
Varig, quando vinha reclamar de alguma mancada com sua conta e o banco se
retratava porque, afinal, era um correntista antigo, com depósitos certos todo
começo de mês... mesmo depois de aposentado.
Essas coisas banais, antes tão
comuns na sua própria vida, agora pareciam tão distantes e estranhas como o
lado escuro da Lua. Como tinha sido bom ser alguém com uma vida simples e
discreta; dura em muitos aspectos, mas felicidade incompleta é bem melhor que
infelicidade demais.
No passado, em todas a
ocasiões que sentira medo, insegurança, sabia que essas coisas faziam parte da
profissão que escolhera. Como parecia pequena agora aquela apreensão que sentia
antes de um exame do Cemal. Uma vez ou outra se assustou em alguns voos, mas
seus temores de um modo ou de outro tinham pouco a ver com seu tipo de
trabalho.
Pelo contrário, seu maior medo
era uma coisa distante, lá pra quando estivesse se aposentando. Será que o
Aerus ia quebrar? Teria um plano de saúde? Os filhos iriam se formar, ter
profissão? Enfim toda aquela problemática de nos acharmos donos de nossas
vidas, sem saber – ou tentando ignorar – que não se faz nada sozinho na vida;
nas coisas boas e nas ruins, sendo que nessas últimas quem nos faz o mal nem
quer nos conhecer. Está indiferente, distante, cuidando de alguma coisa, de
algum grupo de pessoas que por acaso é o seu. Nem chega a ter uma persona, por quem se possa sentir raiva.
Mas, na falta de um conhecimento exato de coisas e pessoas – algo que a maioria não tem – seguia vivendo
um dia de cada vez.
Agora estava ali. A polidez
dos funcionários do banco era mesma de sempre, mas do jeito que se sentia, sabia
que aquilo era como a primeira camada de uma cebola. Que ia ardendo mais à
medida as outras fossem sendo retiradas. Mas era por essa fachada de polidez
que agora teria de passar para justificar suas dificuldades com o banco. Sua
conta só se mantinha porque era amarrada ao INSS e à mixaria que o Aerus ainda
pagava, mas tudo o mais eram números irreconciliáveis com as movimentações e os
saques registrados.
Os torturadores com todos os
seus recursos sombrios usam com maior eficácia o tempo contra suas vítimas.
Ali, à espera do improvável, um torturador invisível fazia tocar a toda hora o
telefone do gerente, retardando o atendimento que fazia e aumentando a espera
de quem ainda ia ser atendido. Mas espera o fez pensar o que não queria. Já
tinha estado lá antes atrás da mesma coisa. Renegociar um empréstimo, porque a
notícia “quente” de um acordo para o Aerus um mês atrás, o tinha animado a se
comprometer. E esse compromisso virou mais um pesadelo. Que estou fazendo aqui?
Só o que vão me dizer é que tenho de dar um jeito, cortar despesas que já sabem
que cortei. Como tinha decidido ir embora, mas era conhecido do gerente, ficou
esperando uma oportunidade de sair desapercebido… E ela veio quando chegou um
cafezinho e se criou uma pequena distração. Levantou-se, e com uma desculpa
qualquer, deu sua ficha de espera a outra pessoa.
Ao sair desiludido do banco,
encontrou um colega que não via há muito tempo. Apesar ser um sofredor como
ele, também roubado do Aerus, a alegria do encontro o fez esquecer que tinha
vindo acompanhado. Ao passar pela porta giratória da agência e ganhar a
calçada, se lembrou... e juntou-se às suas duas companheiras constantes. A
Tristeza e a… Esperança.
Título e Texto: José Carlos Bolognese,
01-06-2012
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