“A crise atingiu Tomás Noronha. Devido às medidas de austeridade, o historiador é despedido da faculdade e tem de se candidatar ao subsídio de desemprego. À porta do centro de emprego, Tomás é interpelado por um velho amigo do liceu perseguido por desconhecidos.
O fugitivo escondeu um DVD
escaldante que compromete os responsáveis pela crise, mas para o encontrar
Tomás terá de decifrar um criptograma enigmático.
O Tribunal Penal Internacional instaurou um processo aos autores da crise por crimes contra a humanidade. Para que este processo seja bem-sucedido, e apesar da perseguição implacável montada por um bando de assassinos, é imperativo que Tomás decifre o criptograma e localize o DVD com o mais perigoso segredo do mundo.
A verdade oculta sobre a crise.
Numa aventura vertiginosa que
nos transporta ao coração mais tenebroso da alta política e finança, José
Rodrigues dos Santos volta a impor-se como o grande mestre do mistério. Além de
ser um romance de cortar o fôlego, A Mão do Diabo divulga informação verdadeira
e revela-se um precioso guia para entender a crise, conhecer os seus autores e
compreender o que nos reserva o futuro.
A Mão de Diabo é o décimo romance de José Rodrigues dos Santos,
autor da Gradiva que já vendeu mais de um milhão de exemplares e está publicado
em dezoito línguas.
Recomendo vivamente a leitura.
Fundo de Desemprego
“O historiador tudo entendeu,
mas foi com sentimentos mistos que abandonou o balcão; estar sem trabalho dava,
pelos vistos, algum trabalho. Além disso, aquela ideia de se apresentar quinzenalmente
na junta parecia-lhe própria de um presidiário em liberdade condicional. Mas
enfim, o que poderia fazer?
Ao cruzar a porta e sair para
a rua quase chocou com outra pessoa que também abandonava o edifício. Olhou
para ela e reconheceu o rapaz barbudo com quem conversara na fila matinal para a
senha.
"Isso dos comprovativos é
simples", explicou o jovem quando o ainda perplexo Tomás o questionou
sobre as burocracias relacionadas com a actividade de desempregado. "Vá ao
portal Sapo Emprego na internet e envie o seu currículo por e-mail às empresas
lá registadas. O próprio computador lhe dá o comprovativo de que enviou o
e-mail. Guarde-o."
"Depois as empresas contactam-no, claro."
Considerando as montanhas de
dificuldades que antevira, Tomás estranhou a facilidade do processo.
"Isso funciona?"
O rapaz riu-se.
"Claro que funciona!",
exclamou. "Volta e meia recebo uma resposta das empresas. Querem que vá a
uma entrevista ou que vá prestar provas ou até que entre já no dia seguinte ao
serviço. Há umas até que estão muito ansiosas por arranjar pessoal."
O historiador hesitou,
desconcertado com a informação; havia ali com certeza alguma coisa que lhe
estava a escapar. "Mas se as empresas o querem cont ratar , isso é.. . é
óptimo!", constatou. Indicou o centro de emprego com o polegar. "O
que está aqui a fazer?"
O seu interlocutor fez uma
careta.
"Respondo-lhes sempre que
já arranjei trabalho e mando-os dar uma volta."
"Perdão?"
"Oiça, esses trabalhos
não me interessam", explicou com uma ponta de impaciência. "Querem
pessoal para atender ao balcão ou um operário de têxteis que trabalhe todo o
dia fechado na fábrica ou um angariador imobiliário que ande de porta em porta
ou um camionista que transporte mercadorias para a Polónia... eu sei lá!"
Fez uma careta de escárnio. "Não tirei o curso de Direito para andar a
guiar camiões ou passar os dias numa fábrica, pois não? Era o que mais faltava!
Para isso já me bastou a aventura na garagem do meu primo."
A resposta deixou Tomás
embasbacado. Durante dois segundos abriu e fechou a boca sem produzir qualquer
som, até conseguir por fim formatar em palavras a interrogação que lhe enchia a
mente.
"É trabalho!",
disse, quase escandalizado. "Nos tempos que correm qualquer coisa serve,
não lhe parece? Com tanta falta de emprego que por aí há, isso parece-me
excelente!..."
O rapaz abanou a cabeça.
"Mas em que mundo anda o
senhor?", questionou de novo em tom irónico. "Não temos por aí tantos
imigrantes estrangeiros a trabalhar?" Arregalou os olhos para enfatizar a
ideia principal. "O que não existe é o trabalho que eu quero com o salário
que aceito!"
Tomás permaneceu um instante
especado no passeio, um olhar abismado estampado na cara.
"Oiça, não se pode pensar
assim..."
O seu interlocutor esboçou um
gesto impaciente com a mão.
"Não me venha com
conversas dessas, parece a minha mãe…”
Autoestradas
A longa recta apresentava-se
quase vazia. Nesse instante apenas se via a traseira de uma camioneta ao longe
e dois carros a virem na faixa contrária. A decisão de não voltar a conduzir
enquanto não arranjasse emprego era apenas válida para o transporte dentro da cidade
de Lisboa. Tomás seguia por isso agarrado ao volante do seu já enferrujado
Volkswagen azul, a velha chapa conspurcada por densas camadas de pó e até de
lama; lavara-o quando da última revisão e só voltaria a fazê-lo na próxima.
"Sempre que venho a
Portugal", observou Filipe com o olhar perdido no asfalto, "fico
surpreendido com a qualidade destas estradas que agora temos por toda a
parte."
"É incrível, não
é?", concordou Tomás. "Em 1990 não havia sequer uma auto-estrada a
ligar as duas principais cidades do país. Agora existem duas auto-estradas
entre Lisboa e Porto e já depois de a crise ter rebentado foi decidido arrancar
com uma terceira."
"Uma terceira?"
O historiador riu-se.
"Imagina!"
O amigo abanou a cabeça,
desagradado.
"Uma auto-estrada era
essencial", disse. "Mas... três? Isso é um esbanjamento criminoso de
recursos."
Tomás encolheu os ombros, os
olhos sempre fixos no percurso diante dele.
"São os fundos
comunitários", indicou. "Se a União Europeia pagava, porque não
aproveitar?"
(…)
Transacionáveis
Filipe indicou o exterior.
"Pois tem. Olha, se estás
no desemprego também o deves a estas autoestradas todas."
No banco traseiro sentava-se o
rapaz do centro de emprego a quem haviam dado boleia. A ouvi r a conversa até
aí em silêncio, Alexandre remexeu-se no assento e não aguentou mais.
"Peço desculpa, mas isso
não faz sentido", declarou. "Qual a relação entre as autoestradas e o
desemprego? Que eu saiba, a construção das auto-estradas deu até emprego a
muita gente."
Filipe virou a cabeça para
trás.
"Ilusões", disse.
"Tudo ilusões."
"Como pode dizer isso? A
auto-estrada que estamos a percorrer não é nenhuma ilusão."
"Olhe, o desemprego que
existe resulta de várias crises que se manifestaram ao mesmo tempo",
indicou, levantando três dedos. "Digamos que, à crise de fundo provocada
pela transferência da produção do Ocidente para as economias emergentes, se acrescentaram
três crises: a dos mercados financeiros, a do euro e a das economias
periféricas, incluindo a portuguesa. São coisas separadas, embora a dos
mercados financeiros tenha posto a nu as outras, claro. As crises do Ocidente,
do euro e da economia portuguesa já existiam, mas estavam silenciosas."
O rapaz do banco traseiro
esboçou uma expressão céptica.
"Sim, e depois?",
questionou com uma certa insolência. "O que têm as autoestradas a ver com
isso? A sua construção não deu emprego a tanta gente? Como se pode questionar
tal evidência?"
"Tenha calma",
riu-se Filipe, divertido com a impaciência do companhei ro de viagem. "Tem
de compreender que as crises financeira e do euro se manifestaram com grande
aparato e atingiram toda a gente no planeta, mas houve países que foram mais afectados
que outros porque já estavam em crise por razões próprias, embora não o
tivessem percebido."
"Está a falar de
nós?"
"De nós e da Grécia, por
exemplo, mas não só. A Irlanda, a Espanha e a Itália também sofrem de problemas
até aqui silenciosos. É isso que explica que estes países tenham sido mais
atingidos que outros quando surgiu a crise financeira e a crise do euro."
Persistente, Alexandre indicou
a auto-estrada.
"Está a insinuar que a
nossa crise foi provocada pela construção da rede de autoestradas? Isso é um
disparate!"
"A crise da economia portuguesa
tem várias causas, umas internas e outras externas. As internas são da nossa
responsabilidade e relacionam-se com a perda de competitividade dos nossos
produtos no mercado internacional e o recurso à dívida para disfarçar essa
realidade, com a crescente insustentabilidade do estado social e com a aposta descontrolada
no sector produtivo não-transaccionável."
"Sector
não-transaccionável? O que é isso?"
Foi a vez de Filipe apontar
para a estrada.
"Olhe, as autoestradas,
por exemplo", indicou. "Será que podemos vender autoestradas aos
estrangeiros? Não podemos. É um bem que não pode ser transaccionado. Já os
sapatos podem ser vendidos ao estrangeiro. Ou a roupa, o vinho e o azeite. São
bens transaccionáveis. Acontece que os sucessivos governos portugueses,
chefiados por gente iluminada, decidiram que o melhor era mesmo investir no
sector não-transaccionável, em coisas que não pudessem ser exportadas.
Pusemo-nos assim a construir estradas, pontes, aeroportos, estádios, rotundas,
túneis... eu sei lá! Está a ver como estas autoestradas constituem parte do problema?"
(…)
Partido do Estado
"Recuso-me a alinhar
nesse discurso de resignação. Se a vida é como é, está ao nosso alcance
mudá-la. O estado tem o dever de nos proteger a todos e não pode fugir a esse
dever!"
Filipe riu-se.
"Já vi que você pertence
ao Partido do Estado", ironizou. "Tem as quotas em dia?"
O rapaz fez um esgar de
incompreensão.
"Perdão?"
"O Partido do
Estado." Voltou-se para Tomás. "Sabes quantos militantes tem, não
sabes?"
"Então não sei?",
devolveu o condutor com uma expressão conhecedora. "Ora deixa cá fazer as
contas." De sobrolho erguido pôs-se a reflectir em voz alta: "O
Partido do Estado é constituído por todas as pessoas que dependem do estado,
não é verdade? São setecentos mil funcionários das administrações central,
regionais e municipais, três milhões e meio de pensionistas, mais de um milhão
de desempregados e outro milhão de pessoas que auferem diversas prestações
sociais e regalias, coisas que pesam no erário público." Endireitou as sobrancelhas.
"Dá seis milhões de pessoas. É o maior partido de Portugal."
Filipe voltou a encarar
Alexandre.
"Você já viu?",
perguntou. "Isto significa que sessenta por cento dos Portugueses vivem
graças ao dinheiro dos contribuintes. Funcionários públicos, pensionistas,
desempregados, pessoas que ganham o rendimento social de inserção, doentes, os
muitos membros das clientelas partidárias e todos os que recebem os mais diferentes
subsídios e prestações sociais."
"E então?"
"E então? Sabe qual é a percentagem
das receitas fiscais gastas pelo estado em pessoal e prestações sociais?"
Fez uma pausa para preparar a revelação do valor. "Em 2010 eram noventa e
seis por cento."
"Noventa e...?"
Alexandre ficou de boca aberta. "Mas isso é... é quase todo o dinheiro!"
"Pois é! Praticamente
todo o dinheiro que os impostos arrecadam em Portugal é derretido em salários,
pensões e subsídios das pessoas que vivem à custa do estado."
"Pois, já percebi que foi
um fartar vilanagem", observou Raquel. "Confesso que na altura me
admirava com o dinheiro que jorrava por toda a parte. Até parecia que crescia
nas árvores e era só estender a mão e apanhá-lo..."
"No fundo, foi
exactamente o que aconteceu. Mas convém lembrar que o crédito barato não
constituiu um fenómeno exclusivo da zona euro. As baixas taxas de juros e o
mercado desregulado dos derivados na América geraram grandes quantidades de
dinheiro que alimentavam bolhas do imobiliário nos Estados Unidos e no Reino Unido.
O que se passava é que esse dinheiro barato fluiu com grande facilidade para a
periferia da zona euro, sendo usado de forma totalmente errada pelos sectores
público e privado. Em Portugal, por exemplo, o estado gastou o dinheiro
emprestado em obras públicas onerosas e os privados em compra de casa própria
ou a adquirir automóveis ou até em férias nas Caraíbas ou no Brasil. Ninguém
usou o dinheiro de forma reprodutiva."
"Pois, foi aquele período
em que a toda a hora apareciam anúncios na televisão com os bancos a oferecerem
empréstimos a juros baratíssimos para o que quer que fosse..."
"Nem mais", assentiu
Tomás. "Tudo isso era dinheiro que os bancos da periferia iam buscar ao
estrangeiro, nada era riqueza gerada pelos próprios países. Vários membros do
Club Med consumiam todos os anos dez por cento mais do que produziam. Pior ainda,
como estavam numa moeda forte e fizeram grandes aumentos salariais por razões
eleitoralistas, os bens que produziam tornaram-se demasiado caros e ninguém os
queria comprar. De 1999 a 2009, Portugal aumentou os salários da função pública
dezassete por cento, nquanto no mesmo período a Alemanha reduziu os salários
reais mais de oito por cento. Nestas condições, os Alemães duplicaram as exportações
nos primeiros dez anos do euro, sobretudo para os países da periferia. A zona euro dividiu-se
entre credores e gastadores, exportadores e importadores, criando assim um
desequilíbrio muito grave."
"Mas uma coisa dessas não
era previsível?"
"Claro que era. O
problema é que os governantes do Club Med, todos eles com cartão de sócio e
quotas pagas no Clube dos Imbecis, resolveram fingir que nada disto estava a
acontecer e optaram por viver no mundo da fantasia. Essa fantasia era
sustentada pelo facto de que, mais do que económico, o euro sempre foi um
projecto político."
O historiador cruzou os braços
e, inclinando a cabeça para o lado, fitou um longo momento a sua interlocutora.
"A primeira coisa que
tens de interiorizar é que não há milagres", disse. "Uma anál ise a
mais de duzentas crises bancárias seguidas de crises da dívida permite-nos
tirar algumas conclusões claras.
Quando as taxas de juro de uma dívida gigantesca ficam maiores que a taxa de crescimento da economia, como está a acontecer no Club Med e noutros países, os empréstimos já não conseguem ser pagos. Nesses casos, as crises da dívida terminam com uma desvalorização da moeda ou dos custos de trabalho, ou com um default. Independentemente do que os demagogos digam, qualquer destas soluções é dolorosa e envolve muita austeridade. Não se conhece um único caso na história em que um desendividamento seja feito sem austeridade. Nem um."
Quando as taxas de juro de uma dívida gigantesca ficam maiores que a taxa de crescimento da economia, como está a acontecer no Club Med e noutros países, os empréstimos já não conseguem ser pagos. Nesses casos, as crises da dívida terminam com uma desvalorização da moeda ou dos custos de trabalho, ou com um default. Independentemente do que os demagogos digam, qualquer destas soluções é dolorosa e envolve muita austeridade. Não se conhece um único caso na história em que um desendividamento seja feito sem austeridade. Nem um."
"Portanto, a austeridade
é inevitável."
"Infelizmente, sim.
Repara, desde o aparecimento do euro e até à crise das dívidas soberanas, a
Alemanha tornou-se trinta por cento mais produtiva que a Grécia. Quer isto
dizer, e por incrível que pareça, que produzir um bem na Grécia custa trinta
por cento mais do que produzi-lo na Alemanha. O que é válido para a Grécia é
válido para a generalidade do Club Med, embora com percentagens diferentes consoante
os países. Para neutralizar a diferença em relação à Alemanha, e não podendo
desvalorizar a moeda nem querendo avançar para o default, o Club Med terá de
baixar significativamente os custos do trabalho, o que, receio bem, significa
redução de salários. Como os salários descem, o consumo desce e as receitas
fiscais também, o que provoca recessão
e mais défice, obrigando a baixar ainda mais os salários, o que provoca nova
queda do consumo e das receitas fiscais e assim sucessivamente."
"Mas desse modo entra-se
num ciclo vicioso..."
"Pois é, mas qual a
alternativa? O ajustamento, receio bem, é sempre doloroso e não há soluções
boas." Ergueu a mão para sublinhar o ponto. "Vou repetir: não há
soluções boas. Digam os demagogos o que disserem, lembra-te de que se chegou a
um ponto em que não há soluções boas. A opção diante do Club Med e de todos os
países excessivamente endividados são soluções muito más e soluções péssimas.
Não existem milagres nem varinhas mágicas, todos os caminhos estão pejados de
espinhos. O estudo de mais de duzentas crises bancárias seguidas de crises de
dívida mostra que o ajustamento, qualquer que seja o caminho seguido, é sempre
doloroso e o desendividamento nunca é feliz. Nunca. São sempre precisos vários
anos para desendividar uma economia e o desemprego cresce em média durante quatro
anos seguidos, enquanto o crescimento económico permanece anémico em média
durante uns seis ou sete anos. Ao longo desse período há menos crédito
disponível e o investimento privado é muito baixo."
"Achas que é melhor estar
fora do euro?"
Tomás enlaçou as mãos,
ganhando balanço para atacar o problema.
"Como sabes, os
desequilíbrios que estamos a sofrer sempre existiram nas nossas
economias", lembrou ele. "É frequente importarmos mais do que exportamos
e volta e meia temos de corrigir essa situação. Se assim é, por que razão está
esse processo agora a ser mais difícil? Qual a diferença em relação ao
passado?"
"O euro?"
"A diferença, minha
linda, é que já não controlamos a nossa moeda", disse Tomás, respondendo à
sua própria pergunta. "Repara, tal como as pessoas, os países não produzem
tudo o que consomem. Produzem umas coisas que vendem ao exterior e, com o
dinheiro que ganham, compram o que não
produzem. Sempre que as importações excedem as exportações, qual é a solução?
Baixar os custos dos nossos produtos para os tornar mais apetecíveis e assim
venderem-se melhor. Mas como se baixam esses custos?"
"Baixando os salários, já
o explicaste."
Tomás abriu as mãos, num gesto
resignado.
"Infelizmente, assim
é!", concedeu. "Há uma subtileza, no entanto, que tens de entender.
Antigamente, quando tínhamos as nossas moedas, os salários baixavam-se através
de mecanismos monetários: imprimíamos dinheiro e isso gerava inflação. Vamos imaginar
que tínhamos uma inflação de trinta por cento. Os governos chegavam junto dos
trabalhadores e diziam: eh pá, vocês estão cheios de sorte, vamos dar-vos
quinze por cento de aumento! Quinze por cento? Toda a gente ficava contente.
Ena, que grande aumento! O que as pessoas se esqueciam é que a inflação era de
trinta por cento, o que significava que os seus salários tinham na verdade diminuído
quinze por cento. Com essa redução invisível dos salários, os nossos produtos
ficavam mais baratos e vendiam-se melhor no estrangeiro. Por outro lado, ao
imprimir dinheiro estávamos a desvalorizar a moeda, o que tornava os produtos
estrangeiros mais caros e menos acessíveis. Diminuíam assim as
importações."
"Pois, estou a ver",
murmurou Raquel . "Mas já não temos uma moeda só nossa, pois não?"
O historiador esboçou uma
expressão apreciativa.
"Estás a ver como chegas
lá?", atirou. "É isso mesmo. Já não temos uma moeda só nossa. Temos o
euro. E é justamente aí que radica o problema. Como já te expliquei, a análise
de centenas de outras situações semelhantes no passado mostra que uma crise de
dívida descontrolada se resolve de três formas: ou gerando inflação através da
impressão de dinheiro, ou desvalorizando directamente os custos do trabalho ou
fazendo default. Acontece que os Alemães querem estabilidade de preços e têm
horror à inflação. Eles avisaram-nos vezes sem conta que o euro seria uma moeda
forte e não se poderia desvalorizar. Os nossos inteligentes governantes fizeram
que sim com a cabeça, mas ignoraram os avisos e, como de costume, foram caçar
votos com políticas despesistas." Esboçou com as mãos um gesto teatral. "Agora
que a coisa deu para o torto, levam as mãos à cabeça e dizem: ó tio, ó tio,
acudam que não há dinheiro, a culpa é dos mercados e dos especuladores, a culpa
é das agências de rating e do Goldman Sachs, a culpa é da troika, a culpa é da
Alemanha e da gorda, a culpa é de todos excepto de mim, eu que sou muito
competente e patriota, dei o meu melhor, dei cabo da sustentação do estado
social e das finanças do meu país, fiz obras faraónicas e gastei o que não
tinha para ajudar os construtores meus amigos, estourei milhões em autoestradas
para a Peidaleja e Ranholas de Cima e Alguidares de Baixo, fiz um aeroporto
internacional em Beja que só recebe uni avião por semana, deixei os bancos
emprestarem rios de dinheiro a pessoas que já não conseguem pagar o que devem,
mas... oiçam, fiz tudo bem, hã?, a culpa é toda dos outros, eu não tenho nada a
ver com isto!"
A matéria do 'cão tabagista' é tão chocante que chega a ter um fundo de hilariedade.
ResponderExcluirHEHEHEHEHEHE,
Isto acontece quando o ESTADO passa a ter mais funcionários que a capacidade contribuinte do povo... Ou seja, quando há mais pessoas trabalhan do muito pouco à custa de uma minoria produtiva e que trabalha muito.
E´ o 'socialismo', meu caro...
No Brasil, estamos em marcha acelerada para este tipo de caos, com a diferença agravante de que, aqui, se pratica o chamadao "SUCIALISMO", ou seja, uma espécie de "ESTATISMO DE SÚCIA", de QUADRILHEIROS...
Como tenho dito, ad nauseam, "ou acabamos com o 'socialismo', ou o 'socialismo' acabará com a civilização ocidental"!
E nada mais escrevo, mesmo porque a verdade sempre cabe em poucas frases e palavras...
Abração,
Francisco Vianna
Felizmente o Euro não acabou, apenas está se equiparando ao Dólar. O Brexit não vai sair e a EUR, apesar da torcida Americana, está cada vez mais forte.
ResponderExcluirO José R S está errado em muitos pontos, a Grécia não aceitou os termos do FMI e ainda recebeu mais dinheiro, no Brasil fizeram a Reforma Trabalhista e viram que , só isso já é um grande desastre, para tiveram coragem de avançar nas outras mentiras ...
O funcionalismo público também produz e muito, somente o Serviço Público, as Pesquisas e Patentes são milionárias e é justamente isso que querem que acabe, assim assume os Fundos de Previdência Privada, a Assistência Médica não Governamental, e seremos mais espoliados ainda. Graças à Deus, já perceberam que pobre não consome e que tudo que vinham pregando está virando fumaça ! Não há salvadores da Pátria.
Quanto ao José R S, deveria trabalhar em um Fábrica de Frios, pois só sabe encher lingüiça !!!
Em tempo : fumar causa câncer até nos cachorros !!!
O PROTOFASCISMO PETISTA É EXTRAORDINÁRIO.
ResponderExcluirOS FUNDOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA É O CONGLOMERADO DE MAIOR POUPANÇA CIDADÃ DO PRIMEIRO MUNDO.
A DIFERENÇA DA PSEUDO REFORMA TRABALHISTA brasileira é que não autorizaram o salário mínimo por hora trabalhada, nem diminuíram para 6 horas de trabalho para cada trabalhador, os contratos não absorvem salários anuais, não igualaram a previdência social de todos os brasileiros, continuam com horas extras baixíssimas, evitando a contratação de mais empregados.
Continuam a não cobrar assistência médica de quem pode pagar, nem cobram faculdades de quem também pode pagar.
O estado se torna gigante, e alguns imbecis acham que se o estado for dono de tudo, vai sustentar todo o povo, no final uma burguesia aproveita a torta e o povo o bolo fecal.