Fazer literatura com pelo
menos uma pequena dose de convite à reflexão é o mesmo que apressar a chegada
da solidão, que geralmente é a fiel companheira dos que exercitam a arte da
palavra escrita.
Basta uma visita a qualquer
feira de livro para detectar que os autores que obtêm a atenção dos poucos
leitores são aqueles que se enveredaram pela literatura de autoajuda afora, ou
optaram por historinhas de sexo, violência e altas doses de vampirismo banhado
em insossa água com açúcar, que alcançam sucesso, a exemplo de tantos
best-sellers, que certamente se perderão ao longo do caminho, substituídos por
outras páginas igualmente comerciais e descartáveis.
Resguardado na trincheira da
literatura independente, assistimos ao avanço das dificuldades à medida que a
visão cultural se restringe ao espetáculo, ao entretenimento de massa que na
maioria das vezes (para não sermos radicais) nada soma ou nada deixa de
positivo, a não ser latinhas de cerveja, mau cheiro de urina e toda espécie de
sujeira pelo chão, além de inevitáveis ocorrências policiais. Contudo, temos
que admitir, à medida que o povo perdeu suas raízes culturais e capacidade de
manifestar suas tradições por conta própria, o Estado, por intermédio das
prefeituras, se viu na obrigação de investir no entretenimento, que se
transformou em indústria de alto custo para os cofres públicos.
Vivemos uma época bem acima ao
que no passado chamávamos de mundo cão, com a expressão se transformando numa
afronta aos cachorros, cada vez mais, na falta de confraternização social
efetiva, amigos do bicho homem, que ao seu turno se nos apresenta cada vez mais
animal e animalesco.
Não faz muito tempo postaram
algumas ofensas contra nós em rede social, relativamente ao nosso trabalho
literário. E gente que nunca foi sequer a um dos lançamentos de nossos 14
livros veio com jeito e ar de piedade nos dizer coisas como: “nossa, que
injustiça, você não merecia!” Contudo, logo em seguida, sem que procurássemos,
pois trabalho literário costuma andar com as próprias pernas, fomos bafejados
com algumas boas notícias, sobre as quais poucos se manifestaram.
Para nossa alegria a poetisa
Efigênia Coutinho, a qual não conhecemos pessoalmente (ela reside em Camboriú e
é fundadora-presidente da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores), levou
exemplar de nosso romance “Quando a vez é do mar” até o prestigiado recanto
cultural New York Home Poets. Enquanto isto, a revista paulista “zaP!”,
conceituada publicação no âmbito das artes, editada por Elizabeth Misciasci, jornalista,
humanista, pesquisadora, escritora, palestrante, crítica literária, jurada de
diversos concursos de literatura, membro ativo de grupos culturais e
intelectos, voltados às áreas de educação, arte-terapia, reabilitação, inserção
social e literatura, acoplou nosso nome entre os “Cem mais de 2012”.
Diante de tais incongruências,
onde mais realça a notícia ruim, nós que estamos (pois que de passagem)
secretário de cultura de Santo Antônio do Monte, sentimo-nos meio desolados,
pois sabemos que não é nada fácil ou até mesmo impossível mudar esse estado de
coisas. Acabamos de conseguir junto ao Credimonte, o banco santo-antoniense, na
pessoa do amigo Luís Antônio Bolina, patrocínio para implementar um pequeno
projeto: o “Leitura Premiada”, uma tentativa de estimular o hábito de leitura
entre os jovens. A ideia é que o leitor vá à Biblioteca Bueno de Rivera, retire
um livro e, caso queira, faça um resumo de no máximo uma lauda (30 linhas)
contando o que leu. Uma comissão julgará as redações, redundando na premiação
de mil reais para o primeiro colocado e 500 reais para o segundo classificado.
A premiação acontecerá no dia 16 de novembro, por ocasião do aniversário da
cidade.
Claro que a proposta é modesta
perante tanto sonho de desmedida riqueza que nos rodeia. Todavia temos que
trabalhar em conformidade com a nossa realidade. No fim do ano letivo do ano
passado (2012), fomos à Escola Waldomiro de Magalhães Pinto, onde cursamos o
ensino primário. Lá recebemos uma bela e singela homenagem. Pois bem, recentemente,
em praça de Santo Antônio do Monte, quando andávamos ao lado do professor
Fernando Gonçalves, nosso indispensável companheiro de gestão cultural na
Secretaria de Cultura, encontramos um garotinho de ensino fundamental. Ele me
olhou de cima abaixo. “Eu te conheço. Como se chama?” – Sou o Carlos Lúcio... –
“Ah, já sei. É o Carlos Lúcio Gontijo, escritor do Duducha, que me deu um
autógrafo!”
Emocionado abracei o menino.
Era o pequeno Ítalo, maior que muito adulto por aí. Veio-nos à mente frase do
romance “Quando a vez é do mar”: Sem a grandeza de criança, adulto algum
consegue ser gente grande.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta,
escritor e jornalista
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