Francisco Vianna
A afirmativa do título acima é
verdadeira e pode ser demonstrada pelo breve histórico que se segue dos mais
conhecidos crimes em massa ocorridos nos EUA nos últimos tempos e as
circunstâncias que os envolveram.
1. No massacre de 2007 numa
escola técnica da Virgínia, um tal de Seung-Hui Cho, responsável pela
carnificina, já tinha sido diagnosticado, ainda criança, como portador de
severa desordem de ansiedade e colocado sob tratamento. Mas a escola técnica da
Virgínia estava proibida de falar a respeito dos problemas mentais de Cho, por
causa das leis federais sobre privacidade. Mais tarde, no curso colegial, Cho
passou a apresentar um comportamento ainda mais bizarro do que o apresentado pela
média de seus colegas. Ele violentou três mulheres e, sobre isso, permaneceu
totalmente calado, recusando-se a contar até para os seus companheiros de
quarto. Ele já tinha passado involuntariamente por uma instituição mental
durante uma noite e então inadvertidamente se voltou contra o público até que
veio a cometer o mais letal assassinato em massa a tiros da história americana.
2. Em Tucson, no Arizona, em
2011, o atirador de um shopping center, Jared Loughner estava tão obviamente
perturbado em seu juízo que se ele tivesse permanecido no Colégio Comunitário
Pima o tempo suficiente para pelo menos completar um ano, teria sido muito
provavelmente relacionado como perpetrador de assassinato em massa por lá.
Depois de Loughner tem feito uma tatuagem, o tatuador, Carl Grace, comentou:
"É um cara estranho demais para ser um candidato à Columbine".
![]() |
Jared Lee Loughner, acusado de assassinato e tentativa de
assassinato no tiroteio de Tucson, Arizona, em 8 de janeiro de 2011
|
Um dos professores de
Loughner, Ben McGahee, apresentou inúmeras denúncias contra ele, na esperança
de vê-lo removido de sua classe. "Quando virava as costas para escrever no
quadro", disse McGahee, "sempre voltava rapidamente, com a nítida
impressão que ele tinha uma arma". No seu primeiro dia na escola, a
estudante Lynda Sorensen passou um e-mail para suas amigas a respeito de
Loughner: "Temos mesmo um estudante em nossa classe que hoje estava bagunceiro;
não estou certa de que já estava drogado (como alguém aventara) ou mentalmente
perturbado. Ele me deu um pouco de medo. O professor tentou tirá-lo da aula,
mas ele se recusou a sair, e foi quando eu conversei com o professor logo a
seguir. Espero que ele seja afastado da nossa turma o mais rapidamente
possível, e não volte com uma pistola automática na mão".
O último dos diversos e-mails
que Sorensen enviou sobre Loughner dizia: “Temos uma pessoa mentalmente
instável na nossa classe que me mete um bocado de medo”. Ele é um daqueles cuja
foto aparece em notícias, após ter vindo para a aula com uma arma automática.
Qualquer um que fosse entrevistado diria, ‘pois é, o cara fazia parte da minha
turma de matemática e era realmente esquisito’. Essa era a situação no verão
anterior à loucura de Loughner matar seis pessoas num shopping-center de
Tucson, incluindo um juiz federal e uma menina de nove anos de idade, além de
ter ferido gravemente a deputada republicana Gabrielle Giffords, entre outros.
Loughner também teve
desentendimentos com a lei, incluindo uma acusação por posse de uma variedade
de drogas proibidas – uma combinação letal com doença mental. Acabou sendo
convidado a deixar a faculdade por motivos de insanidade mental. Talvez, se
Carl Grace, Ben McGahee ou Lynda Sorensen trabalhasse na área da saúde mental,
seis pessoas não teriam morrido naquela manhã de janeiro de 2011, em Tucson.
Mas, enviar Loughner para uma instituição mental, no Arizona, teria exigido uma
ordem judicial dizendo que ele era um perigo para si mesmo e para a sociedade.
Inúmeros estudos mostram uma
correlação entre distúrbio mental severo e comportamento violento. Trinta e um
de 61 por cento de todos os homicídios cometidos por indivíduos ocorrem durante
seu primeiro surto psicótico – sendo por isso o fato de que os assassinatos em
massa frequentemente sejam perpetrados por pessoas sem antecedentes criminais.
Não se pode bobear com os mentalmente perturbados, por mais inofensivos que
possam aparentar serem.
3. James Holmes, o atirador
acusado do tiroteio de Aurora, no Colorado, é outro que esteve sob cuidados
psiquiátricos na Universidade do Colorado muito antes de ter disparado contra
uma plateia num cinema. De acordo com os jornais e com os depoimentos em juízo,
Holmes contou ao seu psiquiatra, Dra. Lynne Fenton, que ele tinha fantasiado
“matar muita gente”, mas a médica se recusou a que os agentes da lei colocassem
Holmes em confinamento de 72 horas. No entanto, Fenton se afastou do caso
depois que o seu “paciente” fez sérias ameaças contra outro psiquiatra da
escola. E, depois que Holmes ameaçou um professor, ele foi, finalmente,
convidado a sair do campus. Mas isso foi apenas empurrar o problema com a
barriga, pois todos sabiam que Holmes estava profundamente perturbado em sua
mente, mas apenas jogaram o problema para a sociedade mesmo com a certeza
“clínica” de que ele iria causar estragos em outros lugares.
4. Caso semelhante
ocorreu no Brasil, na cidade de Salvador, Bahia, em 1999. Mateus da Costa
Meira, um estudante de Medicina, à época, invadiu uma sala de cinema do Morumbi
Shopping, em São Paulo, e disparou contra a plateia, matando três pessoas e
ferindo cinco. Ele tinha 24 anos na data do crime. A defesa tentou mostrar que
Mateus sofria de alucinações, ouvia vozes misteriosas, tinha crises de
agressividade, além de um comportamento estranho e solitário. Mas a Justiça de
São Paulo refutou a tese de que o ex-estudante era inimputável por doença
mental, condenando-o a 120 anos e seis meses de prisão. E isso ocorreu num país
onde a posse e o porte de armas de fogo é proibido por lei...
![]() |
Mateus da Costa Meire, um estudante de Medicina, disparou contra a
plateia de um cinema em São Paulo
|
Certa estava a justiça
paulista, ao retirar do convívio social um “doido de pedra” como Meira. No ano
passado, a justiça baiana, absolveu Meira, via júri popular, da acusação de
tentativa de homicídio contra o colega de prisão, com base na tese refutada
pela justiça paulista, ou seja, a de que o ex-estudante de medicina é
inimputável por sofrer de doenças mentais atestadas por laudos médicos. Com tal
decisão, Mateus foi encaminhado para o Hospital de Custódia e Tratamento (HCT)
de Salvador, onde permanece até hoje, onde tem sido mantido incomunicável. A
sua defesa pleiteia atualmente, na Justiça baiana, que Mateus seja considerado
inimputável também quanto ao crime praticado no cinema em São Paulo. "Para
nós, ele é esquizofrênico, mas a Justiça ainda vai avaliar se pode converter a
pena em medida de segurança", explica o diretor do HCT Paulo Barreto
Guimarães.
5. De volta aos EUA, pouco se
sabe até agora sobre outro demente, Adam Lanza, o autor da chacina da cidade de
Newtown, em Connecticut, que matou vinte e seis pessoas numa escola primária da
cidade, sendo vinte crianças do jardim-de-infância e seis adultos, incluindo
ele próprio e a sua mãe, a quem matou friamente antes de ir à tal escola. Tem
sido relatado que a mãe de Lanza, sua primeira vítima, estava tentando
convencê-lo a se tratar numa instituição psiquiátrica, provocando a ira do
filho. Se isso for verdade – e ao que parece a mídia não está muito interessada
em saber se isso é verdade – a Sra. Lanza teria que passar por um processo
longo e difícil, difícil ter sucesso.
Tal histórico mostra que, nos
EUA, quase ninguém é contra o direito, garantido pela 2ª Emenda Constitucional,
de se possuir, portar e usar, dentro da lei, arma de defesa pessoal, de entes
queridos, do patrimônio e até de terceiros.
Mas o que parece ser, também,
uma quase unanimidade, é o fato de que tal direito, como todos os demais, devam
ser consubstanciados por deveres correspondentes e, indubitavelmente, o
americano sabe que entre esses deveres devem constar o equilíbrio psicossocial
do cidadão, o seu treino e a sua habilidade em lidar e usar suas armas, a
reputação de bom cidadão que deve ter, o fato de ser estabelecido e produtivo,
além de ter bens e patrimônio capazes de suportar eventuais ações judiciais que
venham a ser impetradas em função do uso, mesmo legal, de uma arma. Tal
convicção por parte da maioria dos americanos não afasta de forma absoluta a
possibilidade de um louco qualquer se apossar de uma arma e cometer suas
insanidades, mas que reduz muito essa possibilidade, lá isso não se pode
negar.
Com todos esses casos narrados
acima, os EUA são ainda o país onde o índice de assassinatos por arma de fogo é
um dos menores do mundo, com uma cifra de 2,6 por cada 100 mil habitantes, ou
seja, um dos países mais seguros para se viver. Na totalidade dos países onde a
posse, o porte, e o uso legal dessas armas é proibido no continente americano,
esse índice chega a ser até quarenta vezes maior, como nos casos da Venezuela,
Argentina, Brasil, México e outros.
Desarmar o cidadão de bem, de boa reputação, e consciente de seus
deveres e obrigações, é tudo o que a bandidagem, privada e estatal, quer para
que ajam livremente, uma vez que não obedecem a proibição de qualquer natureza.
Barak Obama não pode cair na
esparrela de querer bater de frente com a 2ª Emenda, mas parece ser esperto o
bastante para perceber que os americanos querem que os possuidores de armas,
para portá-las e usá-las de forma adequada e legal, estejam de fato preparados
tanto sob o aspecto da idoneidade
quanto da sanidade psicossocial para
fazê-lo.
O Brasil bem que poderia
seguir esse modelo.
Título e Texto: Francisco Vianna, 17-01-2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-