1. A
crise de 2008 não produziu apenas consequências econômicas. Também produziu e
produz consequências políticas. O ultra-liberalismo nos mercados financeiros
ficou com o peso maior da responsabilidade. Seguiram-se na Europa e nos EUA
medidas regulatórias, incorporando outros países no G-20 para aumentar a base
de legitimação.
2. Como
consequência na Europa, a comunicação política, o discurso liberal saiu do
palco. Inicialmente, as reuniões dos partidos de centro/centro-direita (CCD)
enfatizaram a questão dos valores como razão para os abusos especulativos. Em
seguida, foram agregadas as questões de ordem econômica e fiscal.
3. Na
Europa há um claríssimo relançamento das ideias democrata-cristãs. No início de
2011, em Roma, uma reunião de dois dias com pesquisadores e políticos levantou
a memória do pensamento democrata-cristão e projetou seus novos espaços. Na
Alemanha o partido Liberal (FDP) corre sério risco de ficar fora do parlamento
nacional na eleição de setembro de 2013. Na França, os partidos de CCD iniciam
um processo de reestruturação política, facilitado pelos problemas do governo
socialista. A inércia da esquerda e da direita abre espaços à anti-política
(Piratas, MV5...)
.
.
4. O CDU de Angela Merkel
sublinha sua natureza democrata-cristã e avança na questão ambiental.
Recentemente, na Itália, o primeiro-ministro Monti renunciou e lançou uma ação
coordenada de partidos de CCD, em base ao pensamento democrata-cristão. O
Vaticano destacou e elogiou. A Democracia-Cristã da Itália, depois de 50 anos
no poder no pós-guerra, naufragou num mar de corrupção. Quinze anos depois
volta renovada, com um partido núcleo reproduzindo a sigla do CDU alemão.
5. As questões econômicas e
fiscais foram adaptadas. Como financiar o Estado de Bem Estar na Europa? Não há
mais espaço para déficit/dívida fiscal. Não se trata mais – dentro do escopo
liberal anterior –pensar no setor privado linearmente. O alcance da
regulamentação estatal ampliou e de forma drástica em nível financeiro e avança
em nível institucional e fiscal.
6. A discussão sobre Valores, que vinha apenas sublinhada pelas questões relativas à Liberdade – latu sensu –, agora vem adjetivada: Valores Cristãos. Passou-se a um relacionamento com o mundo islâmico, respeitando as suas culturas, sem se exigir a cópia do modelo ocidental de democracia-liberal. Partidos Islâmicos já se integram a IDC (internacional de centro), que tem como base o PPE, líder no parlamento europeu.
6. A discussão sobre Valores, que vinha apenas sublinhada pelas questões relativas à Liberdade – latu sensu –, agora vem adjetivada: Valores Cristãos. Passou-se a um relacionamento com o mundo islâmico, respeitando as suas culturas, sem se exigir a cópia do modelo ocidental de democracia-liberal. Partidos Islâmicos já se integram a IDC (internacional de centro), que tem como base o PPE, líder no parlamento europeu.
7. E, finalmente, em nível
econômico, não se trata mais do setor privado fazer melhor, mas com o dinheiro
dos governos. Se o setor privado assumir funções públicas, deve fazê-lo com os
próprios recursos, buscando um nível de produtividade e qualidade que permita
prestar melhores serviços sem encarecer – ou mesmo reduzindo custos – para a
população.
8. Na Europa, essa mudança – valores,
estado e economia – é amplamente hegemônica. Nos EUA, os republicanos levaram
um susto em 2012 pelo perfil do voto de Obama e estão levando o Tea Party de
volta para o museu.
9. Na
América Latina há um evidente atraso nos partidos e forças de CCD. Na medida em
que a crise aqui não teve o impacto de lá, se insiste em nível dos Valores com
as questões de Liberdade e em nível do Estado e da Economia com o mesmo
discurso liberal anterior. Por isso, a onda populista ainda não reverteu no
continente. E a economia, de longe, de maior sucesso na América Latina e uma
das 5 de maior sucesso no mundo – o Chile – vê, sem entender, seu presidente,
gestor do sucesso econômico, amargar a pior avaliação latino-americana. E as
eleições de fins de 2013 estão mordendo seus calcanhares.
Título e Texto: Cesar Maia, 17-01-2013
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