segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Governo argentino considera “falta de respeito” o referendo nas Falklands

O vice-presidente argentino, Amado Boudou, fala aos jornalistas durante uma conferência de imprensa, no Congresso, em Buenos Aires, em 5 de abril de 2012. O político está sob investigação por tráfico de influência e lavagem de dinheiro. Foto: AFP/Getty Images
Francisco Vianna
O governo argentino qualifica de “falta de respeito” a convocação do referendo sobre a soberania das ilhas Falklands (que os argentinos insistem em chamar de Malvinas), anunciado este fim de semana pela Assembleia Legislativa do arquipélago, segundo uma nota pelo website oficial da Casa Rosada.
O vice-presidente argentino, Amado Boudou, presidente em exercício em função da viagem de Cristina Fernández de Kirchner a vários países asiáticos, declarou na citada nota que esse referendo, que terá lugar em março próximo, “é uma falta de respeito à inteligência e ao direito nacional e internacional”.
Afirmou que o referendo “será votado por colonos, os mesmos que expulsaram das ilhas os ‘verdadeiros’ habitantes delas” e assegurou que a Argentina “continuará reivindicando em paz, mas com toda a força” um diálogo com o Reino Unido sobre a soberania do arquipélago.
Os habitantes do arquipélago das Ilhas Falklands comparecerão às urnas para um referendo que decidirá se querem viver sob a soberania argentina ou se desejam permanecer na Comunidade Britânica de Nações (British Commonwealth), nos próximos dias 10 e 11 de março deste ano, numa consulta popular que a Argentina rejeita porque julga contradizer as resoluções da ONU.
Os residentes do arquipélago responderão “sim” ou “não” à pergunta: “Deseja que as Ilhas Falklands conservem seu status político atual como Território de Ultramar do Reino Unido”?
A decisão foi anunciada pela Assembleia Legislativa do arquipélago para “dar a todos a máxima oportunidade de exercer seu direito ao voto”, cujo resultado demonstrará “de maneira clara, democrática, e incontestável a forma pela qual as pessoas que habitam as ilhas hoje desejam viver suas vidas”, explicou o legislativo insular na sexta-feira passada.
O referendo, que conta com o apoio do governo britânico, ignora as numerosas resoluções da ONU, especialmente a de número 2065 de 1965, segundo a qual não reconhece o direito de autodeterminação dos habitantes do arquipélago por tratar-se de um caso de descolonização.
Após o anúncio, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou na semana passada em declaração escrita que o Reino Unido “respeitará e defenderá” o resultado do referendo.
Tal consulta popular já tinha sido anunciada, em junho de 2012, pelo líder conservador, que nas últimas semanas comunicou a militarização do arquipélago, onde há em torno de 3.000 habitantes e 1.500 soldados.
A ameaça armamentista de Cameron veio em resposta à carta enviada a ele por Kristina Kirchner, na qual pedia que acatasse as resoluções da ONU que exigem um diálogo sobre o assunto, na ocasião do 180º aniversário da ocupação inglesa. Tal conflito entre Argentina e Reino Unido já dura décadas, com a soberania do arquipélago sendo exercida pelos britânicos desde a guerra de 1982, ocasionada pela invasão argentina das ilhas pelas tropas do Gal. Galtieri, que resultou em cerca de mil mortos e a derrota de Buenos Aires.
Título e Texto: Francisco Vianna, 21-01-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-