O polémico relatório do FMI
veio provar, mais uma vez, que as elites políticas, económicas, sociais e
culturais do nosso país não querem fazer reformas profundas no Estado e na
sociedade portuguesa. As reacções de todos os lados e quadrantes provam cabalmente
o amor despegado ao status quo por parte de todos os que têm (salvo raras
excepções) palanque residente na comunicação social. Os mesmos que passam a
vida a carpir sobre a ineficiência do Estado, a decadência das instituições e a
forma abusiva, por vezes mesquinha, com que a máquina estatal trata e se
relaciona com os portugueses são também os mesmos que se apressam a afirmar que
propostas como estas vão contra os pilares mais essenciais da nossa sociedade.
Para demonstrar a sua incapacidade de pensar fora do quadrado em que se aprisionaram e em que querem amarrar toda a população, lançam anátemas sobre as medidas, atiram lama para quem as ouse defender (veja-se o tratamento dado a Carlos Moedas). Outros tipos de argumentos baseiam-se no momento e na forma como o processo é gerido. Afirmam que é tarde demais, que tudo devia ter começado no início da legislatura, que o governo devia chamar os outros partidos para um consenso, etc, etc.
Mas convenhamos, o problema,
na verdade, não é este. Isto é a poeira com que querem entreter os jornalistas
e justificar os prolongados debates televisivos sem se discutir nada de
concreto. O problema é outro e poucos o dizem desta forma: as reformas que o
governo promete realizar. Este é o problema, ou seja, existir um governo que
procura e dá sinais de querer mudar algo de relevante. Nada mais nem menos que
isto. E o objectivo de tanto alarido é não discutir as propostas, forçando o
governo a meter na gaveta quaisquer outras do género, ainda antes de uma
possível apresentação.
Em Portugal, a opinião pública
e publicada adora não discutir o essencial em detrimento do folclórico. Isto é
decorrente do funcionamento das nossas sociedades, porém, é necessário saber
distinguir o essencial, isto é, separar o joio do trigo quando se debatem temas
desta importância. Não podemos querer discutir um novo Estado e uma relação
diferente entre o Estado e os cidadãos como se discute um jogo de futebol ou um
reality show.
Ligado a este problema está a
óbvia incapacidade de muito boa gente reconhecer ou admitir a realidade.
Vejamos um caso: é do conhecimento de todos que há professores a mais no
sistema público de educação, cerca de 13 mil, segundo a Direcção Geral da
Administração Escolar, aos quais é atribuído o estatuto de “professor com
horário zero”. O relatório do FMI veio afirmar o mesmo: há professores a mais.
Havendo esta sintonia entre a realidade e aquilo que o Fundo diz é difícil
compreender as reacções que o tema suscitou.
E a quantas mais áreas formos
fazer esta análise, mais estranheza nos causará este "debate". Um
"debate" que só não é esquizofrénico, porque aqui não há visões com
realidades possíveis como sofrem os doentes dessa patologia, mas sim, uma
negação constante da própria realidade.
Enfim, como o país está tão
bom e recomendável, talvez seja só o alucinado governo que ainda não percebeu
isso e teime em querer reformar o Estado.
Título e Texto: Alexandre Poço, Forte Apache,
21-01-2013
Grifos: JP
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