terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O grande amigo do homem


Otacílio Guimarães

Que belo vídeo! Ficamos emocionados.

Sempre gostei de cães. Quando era criança, meu pai sempre criava cães. Um deles, eu jamais vou esquecer, o Bom nos ares, nome que lhe foi dado por uma habilidade peculiar que ele tinha e que meu pai se divertia muito ao exercitá-lo nesta sua destreza. Consistia no seguinte: meu paí jogava para o alto pedaços de carne e ele as apanhava com a boca sem deixar que nenhum caísse no chão. Era um cão sem raça definida, grandão, malhado de preto e branco. Adorava crianças e eu passava as horas vagas com meu irmão brincando com ele. Meu pai tinha um caminhão e viajava sempre para o sertão da Bahia a fim de buscar produtos produzidos na região para os compradores de vários lugares, como Campina Grande, na Paraíba, Caruaru e Recife, em Pernambuco.  

Um dia meu pai saiu de madrugada para buscar uma carga de milho a ser entregue em Campina Grande. Bom nos ares ficou preso em sua corrente no quintal e somente às oito horas da manhã minha mãe o soltou. Deu-lhe comida e água e ele sumiu pulando a janela. Sempre fazia isto pois gostava de viver nas ruas. Só que neste dia ele não voltou para casa. Ao anoitecer, minha mãe me mandou procurá-lo pelas ruas. Andei pela cidade inteira e não o encontrei. No dia seguinte, ficamos preocupados com o seu sumiço. Mais dois dias se passaram e nada dele aparecer. Comecei a ficar triste.

Cinco dias depois da partida, meu pai retornou e quando parou a caminhão na porta de casa, lá estava Bom nos ares aboletado na cabine ao lado dele. Aberta a porta, desceu e pulou em cima de nós demonstrando uma alegria incomum. Nunca tinha visto um cão tão feliz assim! Meu pai então nos contou uma história fascinante.  

Saira de Jacobina para Irecê via Morro do Chapéu. Naquela época as estradas eram muito ruins e o percurso até Irecê, de uns 250 quilômetros, era feito em duas etapas com parada para dormir em Morro do Chapéu que fica mais ou menos na metade do caminho. Ao chegar em Morro do Chapéu, no final do dia, parou em frente a um bar para tomar uma cerveja. Na metade da cerveja, conversando com amigos locais, chega Bom nos ares esbaforido, faz-lhe uma festinha e se deita aos seus pés morto de cansado. Andou atrás do caminhão pelos 125 quilômetros que separa Jacobina do Morro do Chapéu.  

Esse cão morreu de velho e o enterramos no quintal da casa da fazenda que meu pai havia comprado num lugar maravilhoso chamado Tabuleiro da Mutuca, na Serra do Tombador, próximo à Jacobina. Todos nós choramos quando colocamos uma cruz em cima de sua sepultura.

Um outro cão que marcou a minha vida foi o Magnum, um fila brasileiro cujo nome lhe foi dado por minha cunhada Mariene inspirada num personagem de uma série de TV. Comprei ele com três meses de idade num canil em Salvador e o levei para criar num sítio que eu tinha perto de Serrinha. Esse cão se afeiçoou tanto à minha esposa à época e às minhas filhas que chegava a me deixar intrigado. Eu pensava: como um animal como este pode desenvolver um amor tão grande por seres humanos? Anadir, minha esposa, tinha por ele verdadeira adoração.  

O fila é um cão extremamente feroz mas também extremamente inteligente. Se alguém fosse pela primeira vez à minha casa, eu tinha que prendê-lo. Depois que a pessoa sentasse comigo, eu o soltava. Ele chegava desconfiado, cheirava o visitante, e depois se sentava ali perto. A partir deste dia, o amigo podia chegar sem avisar que ele só lhe faria festa. Sabia que era meu amigo.  

Um dia Magnum me salvou a vida. Eu havia chegado no sítio com umas compras feitas num supermercado em Feira de Santana e ele estava sozinho tomando conta da casa. O caseiro tinha saído. Parei o carro ao lado da casa, descarreguei as compras, ele pulou em meu peito quase me derrubando, fez uma tremenda festa, eu abri a porta da casa e entrei na sala e segui para a cozinha, ele atrás de mim. De repente, ele crava os dentes em minha calça e me puxa para trás. Era grandão e tinha uma força enorme, por isto eu fui puxado sem chance de reagir. Percebi seu rabo teso na horizontal e todo arrepiado. Então pensei: tem algo aí dentro da cozinha.

Voltei ao carro e peguei a espingarda, uma Gel espanhola, calibre 12, e fui ver o que estava ali dentro. Ele mais uma vez não deixou que eu entrasse e me puxou vigorosamente pela calça. Resolvi então entrar pela porta dos fundos que dava acesso à cozinha, ele sempre ao meu lado. Quando abri a porta vi do que se tratava.

Embaixo de uma mesa que ficava no canto da cozinha um enorme jaracuçu estava enrolado pronto para o bote fatal. Apontei a espingarda e disparei os dois canos, transformando-o em fragalhos.
Depois olhei para Magnum e o vi balançando o rabo em plena demonstração de alegria. 
Assim são estes verdadeiros amigos do homem.    
Título e Texto: Otacílio Guimarães, 22-01-2013

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