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Imagem: Resistência Democrática |
Em meu último artigo tratei do
lado moral da crise que os países desenvolvidos enfrentam. Algumas pessoas
podem estranhar o foco, pois sou economista. Gostaria de lembrar que Adam
Smith, antes de escrever sobre a riqueza das nações, escreveu "Teoria dos
Sentimentos Morais". Debater o crescimento de 1% ou 2% do PIB pode ter sua
relevância; mas economia é muito mais que isso.
Eis porque retorno ao tema da
crise de valores, desta vez priorizando o caso latino-americano. Se Japão,
Estados Unidos e Europa passam por um declínio moral, parece que a América
Latina, em especial o "eixo do mal" bolivariano, sequer experimentou
uma fase de maturidade. Estamos estagnados na era do infantilismo.
É por isso que recomendo a
leitura de "A sociedade que não quer crescer", do argentino Sergio
Sinay. O livro disseca os perigos do fenômeno que podemos observar facilmente
no Brasil também: adultos que se negam a ser adultos. São os
"adultescentes".
Como a Argentina parece estar
em estágio mais avançado da patologia, os alertas de Sinay tornam-se ainda mais
importantes. A Argentina pode ser o Brasil amanhã, o que é uma visão
assustadora. Não só porque a presidente exagera no botox, mas porque a volta ao
passado populista se dá a passos largos.
O autor faz a ligação entre
essa postura infantil de boa parte da população e a anomia em que vive seu
país, cada vez mais bagunçado e autoritário. É o que acontece quando os adultos
preferem agir como adolescentes, no afã de postergar ao máximo a velhice.
Maturidade exige renúncia,
sacrifício, responsabilidade e compromisso. Tudo aquilo que muitos adultos
modernos fogem como o diabo foge da cruz. Talvez para aplacar sua angústia
existencial, esses adultos desejam permanecer jovens para sempre, e agem como tal.
São colegas de seus filhos, e delegam a responsabilidade de educá-los a
terceiros. Confundem seus caprichos com direitos. Nas palavras do autor:
"Uma sociedade empenhada
em permanecer adolescente vive no imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões
arbitrárias que a nada conduzem, na confrontação com as regras – com qualquer
regra, pelo simples fato de existirem – no risco absurdo e inconsciente, na
fuga das responsabilidades, na ilusão de ideais tão imprevistos como
insustentáveis, na absurda luta contra as leis da realidade que obstruem seus
desejos volúveis e ilusórios, na rejeição ao compromisso e ao esforço fecundo,
na busca do prazer imediato, ainda que se tenha que chegar a ele através de
atalhos, na confusão intelectual, na criação e adoração de ídolos vaidosos
colocados sobre pedestais sem alicerces".
Impossível não pensar em
Chávez, Morales, Corrêa, Kirchner e Lula. Ou ainda nos artistas e atletas
famosos que levam vidas altamente questionáveis do ponto de vista ético, mas
ainda assim viram heróis nacionais. Eis o exemplo que Sinay usa do lado
argentino:
"Uma sociedade é
adolescente quando carece de critérios para distinguir entre as habilidades
futebolísticas de seu maior ídolo esportivo, Diego Maradona, e suas condutas
irresponsáveis, sua ética duvidosa, seus valores acomodatícios; quando acredita
que aquelas habilidades justificam tais ‘desvalores’ e quando, assim como um
adolescente, os vê como um tributo invejável".
Não podemos ridicularizar
nossos "hermanos" nesse ponto. Basta pensar nos nossos próprios
heróis. Para sair do futebol, que tal Oscar Niemeyer? Os brasileiros não
souberam separar seu talento artístico do restante, e criaram a imagem de um
grande humanista abnegado. Um humanista que, como já abordei nesse espaço,
adorava o maior assassino de todos os tempos: Joseph Stalin.
Mas a simples constatação de
que não se pode ser um grande humanista e um defensor de Stalin ou Fidel Castro
ao mesmo tempo, bastou para gerar reações histéricas: "Quem você pensa que
é para falar do grande mestre?"
O colunista Zuenir Ventura
também reagiu: "Algumas críticas ideológicas a Oscar Niemeyer depois de
morto revelam, de tão iradas, que no Brasil foi fácil acabar com o comunismo. O
difícil é acabar com o anticomunismo". Resta perguntar: e devemos acabar
com a oposição a esta utopia que trucidou dezenas de milhões de inocentes?
O comunismo foi o sonho
adolescente de intelectuais que pariu o pesadelo real de milhões de pessoas.
Combatê-lo é um dever moral. Hoje ele se adaptou, mudou, mas ainda sobrevive
como "socialismo bolivariano", com que muitos brasileiros flertam.
Até quando vamos viver em uma
sociedade adolescente, que se recusa a amadurecer e deposita no
"papai" governo uma fé messiânica?
Título e Texto: Rodrigo Constantino, 222-01-2013
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