Poderosa explosão de
carro-bomba sacode posição fortificada do Hezbollah em Beirute. Pelo menos 53
pessoas ficaram feridas no atentado, depois que recentemente rebeldes sírios
ameaçaram a milícia libanesa, mas deputado culpa Israel.
Francisco Vianna
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Forças de segurança libanesas
permanecem na cena do ataque a bomba em Beir el-Abed, um subúrbio ao sul de
Beirute, no Líbano, na terça- feira. Foto distribuída pela AP/Bilal Hussein
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A ponderosa explosão
reverberou numa área de intenso comércio e também residencial num momento em
que muitos libaneses muçulmanos xiitas começavam a observar o mês sagrado do
Ramadã. Foi de longe a pior explosão a ocorrer como ataque a Beirute nos
últimos anos. Apesar de não ter havido qualquer assunção de responsabilidade
pelo atentado, há um temor crescente no Líbano de que o Hezbollah passa estar
sofrendo retaliação por seu agora aberto papel na luta em prol da manutenção do
poder pelo Presidente Bashar Assad em apoio as suas tropas dentro da Síria,
inclusive, dizem os ativistas, na cidade de Homs próxima à fronteira libanesa,
onde a batalha está comendo solta.
O ataque a bomba também deverá
inflamar as já ferventes tensões dentro do próprio Líbano, onde embates mortais
estão acontecendo entre xiitas e sunitas numa incidência crescente à medida que
a guerra civil na Síria vai adquirindo tons sectários e sombrios. Alguns
sunitas no Líbano, muitos dos quais apoiam os rebeldes sírios, têm expressado
sua crescente preocupação e ressentimento sobre o que eles enxergam como um
poder clandestino do Hezbollah no país.
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O estacionamento, à esquerda,
e o prédio do reduto do Hezbollah na zona sul do Líbano.
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“A explosão foi tão forte que
eu pensei se tratar de um bombardeio aéreo israelense”, disse Mohammad al-Zein,
que mora perto do local da explosão. “Minha mulher estava na cama dormindo e
todo aquele vidro picado da janela caiu sobre ela, que sofreu pequenos cortes,
na boca, nos braços e nas pernas”. Outro residente contou que estava jejuando no
primeiro dia do Ramadã e estava a caminho de sua loja para o lanche da tarde
que quebraria seu dia inteiro de jejum. “Estava pilotando minha moto em direção
à minha loja de doces quando me assustei com a explosão maciça que me atordoou
a ponto de me derrubar da moto”, contou esse empregado de 52 anos, que trabalha
numa empresa privada. Não quis dizer o seu nome por motivos de segurança.
O Ministro da Saúde, Ali
Hassan Khalil, disse que 53 pessoas ficaram feridas e que a maioria dos
ferimentos foi leve e que muitos deles foram causados por estilhaços de vidro.
O estacionamento onde a bomba
explodiu se situa a algumas centenas de metros do prédio que é conhecido como o
“quarteirão de segurança” do Hezbollah, onde muitos dos membros do “partido”
moram e têm seus escritórios. O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, recebeu
dignitários lá antes da guerra de 2006 (um episódio do conflito
árabe-israelense, também conhecido, em Israel, como ‘Segunda Guerra
do Líbano’ e, no Líbano, como a ‘Guerra de Julho’ e, ainda, no mundo
árabe, como a ‘Sexta Guerra Árabe-Israelense’). A área foi, na época,
bombardeada por Israel e desde então Nassan Nasrallah (muçulmano xiita e
Secretário Geral do Hezbollah) passou a viver escondido em subterrâneos,
aparecendo apenas raramente em público e nunca por mais de poucos minutos,
temendo ser assassinado por Israel.
“Esta explosão é uma mensagem,
mas nós não nos dobraremos”, disse Ziad Waked, uma autoridade municipal falando
na TV Al-Manar do Hezbollah.
Com os rolos de fumaça saindo
ainda do local da explosão, um grupo de cerca de 100 apoiadores indignados do
Hezbollah ocuparam a área, portando cartazes com o retrato de Nasrallah, e
gritando slogans sectários e em apoio ao seu líder.
Agentes do Hezbollah
dispararam para o ar para dispersar as pessoas que invadiram o interior do
ministério atirando pedras após terem deixado o local da explosão, caindo numa
armadilha por cerca de 45 minutos num prédio até serem escoltados para fora
pela porta dos fundos. “O sangue xiita está fervendo”, gritavam os apoiadores
do Hezbollah.
O Ministro Marwan Charbel é
tido por alguns xiitas como simpatizante da linha dura clerical sunita de Ahmad
al-Assir, que pregou uma agitação contra o Hezbollah por meses e agora se
encontra foragido.
A explosão da terça-feira de
hoje é a maior nos subúrbios da capital libanesa desde o fim da guerra civil de
15 anos que começou em 1990, e vem rachar a rígida segurança de uma área de
segurança máxima da cidade. “É uma área enorme e intensamente povoada e nenhuma
força no mundo pode proteger cada área e cada rua ao mesmo tempo”, disse o
deputado do Hezbollah Ali Moqdad. “Tais atos são um recado que lembra dias
sombrios que os libaneses gostariam de apagar de suas memórias”.
Filmagens de TV do local da
explosão reviveram lembranças daquele conflito, quando carros-bombas instalados
por grupos sectários eram comuns. Têm sido numerosos os carros-bombas visando
políticos e jornalistas desde então, mas o uso de carros-bombas aleatórios tem
sido uma ocorrência raríssima.
Agentes do Hezbollah em trajes
civis, alguns deles portando fuzis Kalashnikov, isolavam o local com cordões e
fitas amarelas. Tais agentes junto com agentes da polícia libanesa barraram os
jornalistas, impedindo-os de ter acesso ao local da explosão.
Ambulâncias e carros de
bombeiros com sirenes abertas cruzavam a área e testemunhas disseram que as
baixas foram levadas às pressas para dois hospitais próximos. A força da
detonação espatifou a maioria das vidraças das lojas e janelas de uma área
intensamente povoada quer por comércio quer por residências. Calcula-se que o
veículo que explodiu foi deixado no estacionamento com algo em torno de 35
quilos de explosivo plástico.
Em maio último, dois foguetes
arrebentaram um reduto do Hezbollah ao sul de Beirute, ferindo quatro pessoas.
Os foguetes foram disparados horas depois de Nasrallah ter prometido fazer um
discurso em apoio à vitória de Assad na guerra civil da Síria. Em junho, um
foguete explodiu nessa mesma área, sem causar baixas. São foguetes de
fabricação caseira, do mesmo tipo dos que são fabricados em Gaza a partir de
componentes enviados pelo Irã e contrabandeados pela fronteira com o
Egito.
O Hezbollah tem abertamente se
juntado às tropas de Assad na Síria e os guerrilheiros do grupo foram
instrumentalizados na recente vitória do regime de Assada quando recuperaram o
controle da cidade estratégica de Qusair, próxima à fronteira libanesa.
Os muçulmanos sunitas do
Líbano em sua maioria apoiam os sobrecarregados rebeldes sunitas da Síria, ao
passo que muitos xiitas apoiam Assad, que, por sua vez é membro da minoria
governante alauita da Síria, uma ramificação do islamismo xiita.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia
internacional), 09-7-2013
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