No início desta semana (mais
propriamente em 2/6), Aécio Neves foi o entrevistado do Roda Viva, da TV
Cultura. (vídeo abaixo)
Sua entrevista me surpreendeu pelo bom número de respostas assertivas, principalmente quando ele demonstrou saber usar a combinação de esperança (em sua proposta) e medo (do oponente). Com certeza, é muito mais do que eu esperava.
Claro que ajustes precisam ser
feitos, como a adição de maior emoção na linguagem, além de palavras mais
fáceis no cotidiano. Mas, em termos de oposição ao governo do PT, finalmente
vimos um bom papel desempenhado.
Atualmente, muitos da direita
criticam o PSDB por ser de esquerda, o que é uma verdade. Mas o fato é que o
PSDB, como partido de esquerda moderada, pode adotar uma agenda com muitos
aspectos que interessem à direita (muito mais do que faria o PT) por pressão da
opinião pública de direita.
Entre as propostas de Aécio
encontram-se a liberdade de imprensa, rejeição à escravidão, redução de gastos
estatais e redução do aparelhamento estatal. Todas propostas que jamais sairiam
da boca de um petista.
Por que? Por que, mesmo sendo
um partido de esquerda, o PSDB pode facilmente ser pressionado por uma multidão
de eleitores de direita cansados de inchaço estatal. Pode até ser que muitas de
suas propostas não saiam conforme sua consciência, moldada pelo socialismo
fabiano.
Mas a verdade inegável é que
há um público lá fora (de direita) clamando por propostas assim, e portanto, o
discurso dele tem itens que agradam às pessoas de direita, assim como outros
que agradam a uma esquerda moderada.
Esse tipo de discurso acaba
nos revelando algo que pode ter um sabor amargo, mas que pode ser melhorado com
o tempo: o fato é que o PSDB pode ser levado à direita se existir pressão
suficiente da direita para que seu candidato a represente, ao menos
parcialmente. Ou seja, o “mercado de ideias políticas” é alimentado mais pela
pressão de atores da sociedade civil do que das intenções originais dos
partidos.
É por isso que o PT é um
partido de extrema-esquerda, mas tem que usar uma proposta aqui e ali que
atenda aos interesses da direita. Tudo, é claro, a contragosto deles, que, se
pudessem, já entrariam com uma tentativa de censura de imprensa logo no
primeiro mandato de Lula. Também é fato que o PT jamais teria uma agenda com
vários itens que agradariam à direita. No máximo um ou outro item para
despistar.
Retornando ao PSDB (e
especificamente ao discurso de Aécio no Roda Viva), é preciso ir muito além do
que ficar reclamando que “não há um partido que nos represente”. Em vez disso,
devíamos fazer uma auto-crítica com o seguinte questionamento: “Será que
estamos pressionando os partidos que já existem de forma suficiente em torno
das propostas que atendam à direita?”.
Sabemos que o PT não vai
atender à essas demandas. O comprometimento deles com grupos socialistas (que
pensam dia e noite em tomada de poder de forma totalitária) é grande demais. É
uma estrada sem volta. Por outro lado, o PSDB pode ser a opção momentânea, mas
tudo depende de nós. Ou melhor, de nossa pressão política.
Enfim, ao invés de reclamarmos
de “ausência de partidos de direita”, devemos nos questionar pela ausência de
pressão política sobre os principais partidos que podem atender a alguns itens
de nossa agenda. Se esse partido vencer, e não nos atender, podemos pressionar
o próprio partido que venceu, ou algum outro.
Com esse tipo de mindset,
mudamos radicalmente o foco de nossas análises e deixamos de criticar a
ausência daqueles que nos representem, mas passamos a nos criticar quando não
estabelecemos pressão suficiente para forçar com que algum partido (que pode
ser até de esquerda moderada) atenda a alguns itens de nossa agenda.
Podemos apostar que o caminho
para que a direita consiga ser melhor representada está em sua capacidade de
obter resultados a partir da pressão que ela possa lançar para que até partidos
de esquerda (mas que fujam de extremismos como o socialismo bolivariano ou
maoista) sejam forçados a representá-la, por haver demanda para isso.
É a mesma situação de dois
restaurantes que não vendem carne. Mas um deles tem uma crença forte no
vegetarianismo, enquanto o outro apenas não pensou em incorporar carne no
cardápio. A pressão por gente querendo comer carne pode levar a este último a
repensar sua opção de não ter carne no cardápio. É basicamente uma lei do
mercado.
Isso vale da mesma forma para
as ideias políticas. Se somos “consumidores” de ideias políticas, podemos
pressionar claramente para que sejamos atendidos. Não seremos clientes do PT,
naturalmente. Mas podemos sê-lo até do PSB. Mas é muito mais provável que o
PSDB faça um melhor atendimento de nossas demandas.
Por isso mesmo, podemos
apostar que a assertividade de Aécio em torno de verdadeiras críticas ao PT
surgiu evidentemente por que hoje em dia há um pensamento de direita muito mais
presente na opinião pública do que havia há quatro anos atrás, por exemplo.
Título e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 05-06-2014
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